Projeto desenvolvido no Capsi Macaé será debatido em reunião científica

18/10/2017 14:29:00 - Jornalista: Genimarta Oliveira

Foto: Divulgação

Atendimento multidisciplinar com grupos de pais, mães e bebês de até três anos é destaque

Profissionais do Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Capsi), da rede municipal de saúde de Macaé, irão participar na quinta-feira (19), da Reunião Científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ). Será apresentada a experiência que acontece há cerca de dois anos de atendimento multidisciplinar com grupos de pais, mães e bebês de até três anos que têm suspeita de transtorno do espectro autista.

A apresentação do trabalho será feita pela psicanalista membro da SBPRJ e supervisora do projeto de atendimento em grupo de bebês-famílias, Eliane Pessoa, pelas psicólogas Carla Boy e Iasmin Morinigo, pela psiquiatra de criança, Paula Ferraz e pela terapeuta ocupacional, Sueli Benanti.

De acordo com as profissionais, 57 crianças já passaram pela equipe, atualmente 12 estão em atendimento e 16 já saíram do grupo e estão em outra assistência na unidade. "Começamos este trabalho no final de 2015 e não havia essa modalidade de atendimento, o que é um diferencial para o município. O cuidado é compartilhado e desenvolvido em rede", disseram, acrescentando que hoje alguns atendimentos são em crianças com menos de um ano.

A proposta do trabalho desenvolvido no Capsi é identificar e intervir precocemente na população de risco e favorecer um atendimento integral aos familiares e à criança, levando em conta suas necessidades clínicas, educacionais e sociais.

A psicanalista Eliane Pessoa explica que o transtorno do espectro autista faz parte da clínica psicanalítica do bebê e da sua família que, por definição, é voltada para os transtornos do relacionamento entre o bebê e sua família, qualquer que seja a sua causalidade. "No caso deste transtorno, consideramos que ele tem uma causalidade multifatorial e implica no trabalho de uma equipe multidisciplinar", definiu.

Segundo a psicanalista, o foco da clínica psicanalítica com bebês é relacional. "Dirigimos nossa atenção ao sofrimento do bebê e da família, sofrimento incluído aí o do profissional. É claro que não perdemos de vista o bebê como sujeito no seu vir-a-ser, nem a singularidade de sua família. Buscamos ter uma visão multifocal. Também nos interessa o contexto social no qual esta situação acontece e qual a resposta da sociedade frente ao sofrimento das suas crianças", conta.

Os bebês não são atendidos sozinhos. Esta é uma das características fundamentais deste projeto: eles são assistidos com seus pais ou cuidadores. "Entendemos que um sujeito único, singular, capaz de pensar, desejar e de linguagem, só se constitui a partir da ligação com outros humanos, com os quais ele compartilha uma cultura e uma história comuns. Pela nossa experiência, o atendimento de orientação psicanalítica voltado para a interação promove a potencialização de novos recursos, tanto nos pais quanto nos bebês", disse.

Outra característica do projeto é que as famílias são atendidas em grupo (três famílias em cada grupo), semanalmente, por uma dupla de terapeutas. Eliane ressalta que os três primeiros anos de vida são fundamentais para a constituição do psiquismo, do relacionamento com o outro, da ligação com a realidade externa, da relação com o social, da confiança no outro. A plasticidade do cérebro humano neste período pode oferecer enormes perspectivas preventivas e terapêuticas, mas também importantes riscos de perturbação.

A especialista explica ainda que é fundamental que os bebês sejam encaminhados para uma avaliação o mais precocemente possível. Segundo Eliane, o bebê transmite sinais do seu mal estar, ele não sorri para seus pais, seu desenvolvimento pode parar, ele apresenta comportamentos e emoções que precisam ser compreendidas (agitação ou tranquilidade excessiva). "Não gosto da palavra 'decodificar', porque acho que não é tão difícil conhecer os bebês e suas formas de comunicação. Para quem quer trabalhar com bebês, é necessário estudar o desenvolvimento emocional, observar o bebê, ouvir a família, discutir com a equipe multidisciplinar".

A reunião científica é voltada para profissionais da área de saúde e acontece na quinta-feira (19), às 21h, na seda SBPRJ, localizada na Rua David Campista, 80, no bairro Humaitá, na cidade do Rio de Janeiro.