Atenção Psicossocial Infantil de Macaé promove atendimento diferenciado

15/07/2010 09:50:11 - Jornalista: Monica Torres

Atendendo cerca de 80 usuários, entre crianças e adolescentes, o Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Capsi), vinculado à Secretaria de Saúde Municipal, tem um quadro profissional especializado, com terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, assistente social, médico psiquiatra, técnico em enfermagem e enfermeiro que atuam de forma diferenciada no atendimento a usuários muito especiais.

Assim, o Capsi é um serviço destinado ao atendimento psicossocial de crianças e adolescentes portadores de transtornos psíquicos graves, como autismo e psicoses, ou que possa estar sob risco social importante, como violência física. Um dos braços do Programa de Saúde Mental do município, o Caps Infantil, como os outros dois Caps (Betinho e Porto), luta com seu trabalho para proporcionar às crianças e aos adolescentes atendidos sua inserção ou reinserção na sociedade.

Como esclarece uma das coordenadoras, a musicoterapeuta Karla Lugon, o que propõe e realiza o Capsi é um atendimento que favoreça e promova condições de independência e o máximo possível de autonomia, bem como a melhoria da auto-estima e da organização pessoal de quem precisa do tratamento.

- A idéia é perceber as especificidades de cada usuário, olhar os casos individualmente, dando a estes o apoio indispensável. É importante que se saiba que esta política vem substituir a lógica manicomial que trancafiava as pessoas, isolando-as do mundo.

Parcerias entre secretarias

Uma das propostas principais do Capsi é a articulação de ações intersetoriais. Isto é, a parceria entre diversas secretarias e setores para o melhor atendimento e resolução dos problemas encaminhados pelos usuários.

Um exemplo desta intersetorialidade é a parceria com o Programa Arte Luz, da Secretaria Municipal de Cultura. O Capsi encaminha usuários do serviço para participar dos cursos oferecidos pelo projeto, como ginástica, artesanato, karatê, jazz e artes, em diversos bairros da cidade. A coordenadora Karla Lugon explica:

- Chamamos estes processos intersetoriais de construção de redes. Propomos estabelecer parcerias regulares com a Educação, Justiça, Saúde, Assistência Social e demais secretarias que desenvolvam ações em sua área de abrangência. Assim, ampliamos as possibilidades de cuidados e o acesso aos recursos assistenciais. Deste modo, com as parcerias, as relações vão se estreitando e não ficamos isolados para a resolução dos problemas.

A partir, então, dessa visão diferenciada, o Capsi tem diversas atividades que, juntamente com os atendimentos clínicos, propriamente ditos, contribuem ao tratamento do usuário. O grupo de mães, que acontece toda quinta-feira, a partir das 14h, na sede do Capsi, por exemplo, é considerado um espaço estratégico. Nos encontros, os familiares conversam sobre os temas mais variados possíveis, como explica a coordenadora Karla Lugon:

- Os encontros são lugares de troca, de diálogo. Os assuntos mais variados podem surgir. É o espaço da família para que ela também possa ser assistida, pois a família é parte fundamental ao tratamento da criança e do adolescente.

Família, trabalho e vida social

Outro tipo de atividade promovida pelo Capsi são as sessões de vídeo no Solar dos Mello, quando os adolescentes se encontram, a partir de filmes sugeridos pelos próprios jovens que, ao final debatem o tema. O técnico de enfermagem Ronaldo Maia, funcionário do Capsi, acrescenta: “As discussões são as mais variadas possíveis, pois quando alguém fala, uma idéia traz outra o que suscitam outras lembranças nos jovens. São momentos muito importantes, muito ricos”. Ronaldo ainda informa que a realidade da maioria daqueles jovens é de nunca ter ido ao cinema.

Um outro ponto fundamental ao trabalho do Capsi é a tentativa da reconstrução dos laços sociais e familiares. E esta visão é base em todo o tratamento, que propõe a percepção dos desejos e anseios do usuário.

- Tentamos estabelecer ou restabelecer vínculos e relações entre os jovens e suas famílias; mas também entre os jovens, suas famílias e a própria equipe do Capsi. Por exemplo, se um jovem ou criança é atendido aqui pelo serviço e, na conversa, ele diz que gosta de um determinado estilo musical e isso é uma coisa importante pra ele, eu tento me aproximar dele do seu mundo por aí. Ouvindo o que ele gosta. Claro que não ficamos nisso; mas avançamos. Apresento coisas que também gosto e a relação vai se fortificando. É um caminho, exemplifica Karla Lugon.

Já as Oficinas de Cidadania, toda segunda-feira, às 15h30, e a Oficina de Música, às quintas-feiras, às 12h, são dois momentos promovidos pela Associação de Parentes, Amigos e Usuários da Saúde Mental de Macaé (Aspas), no espaço do Capsi, que fazem parte deste processo de atendimento diferenciado.

Festas comemorativas também são aspectos valorizados pelos profissionais do Capsi para a promoção de confraternização, mas também para fortalecer os laços entre profissionais, usuários do serviço e população em geral. Neste caminho, para a próxima semana, já está programada a Festa Julina do Capsi, que será em conjunto com os outros dois Caps municipais (Caps Betinho e Caps ad Porto). O evento será na quarta-feira (21), a partir das 14h, no Núcleo de Saúde Mental. “A presença de todos é muito importante para a animação da festa”, convida a terapeuta ocupacional do Capsi, Sueli Rodrigues Benante.
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Serviços

Caps Betinho
Endereço: Rua Visconde de Quissamã, 482 - Centro
Telefone: 2772-5005
Serviços oferecidos: Atende a pessoas adultas, portadores de transtornos mentais severos e persistentes. Em risco psicossocial.
Ponto de referência: Em frente à Embelleze

Caps ad Porto
Endereço: Rua Conde de Araruama, 569 - Centro
Telefone: 2772-2317
Serviços oferecidos: Atende aos usuários com uso abusivo de substâncias psicoativas (dependentes químicos) e tabagismo. Atende de 8 às 21h
Ponto de referência: Papelaria Energia / AMAC

Capsi – Oficina da Vida
Endereço: Rua Francisco Portela, 239 – Centro
Telefone: 2772-4359
Serviços oferecidos: Atende a crianças e adolescentes, portadores de transtornos mentais severos e persistentes. Em risco psicossocial.
Ponto de referência: Rua do INSS/ Escola Matias Neto


O Caps pelo Ministério da Saúde

O objetivo é oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), entre todos os dispositivos de atenção à saúde mental, têm valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira. Com a criação desses centros, possibilita-se a organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no país. Os Caps são serviços de saúde municipais, abertos, comunitários que oferecem atendimento diário.

É função dos Caps:
- prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando as internações em hospitais psiquiátricos;
- acolher e atender as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território;
- promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações intersetoriais;
- regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação;
- dar suporte a atenção à saúde mental na rede básica;
- organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios;
- articular estrategicamente a rede e a política de saúde mental num determinado território;
- promover a reinserção social do indivíduo através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

Estes serviços devem ser substitutivos e não complementares ao hospital psiquiátrico. De fato, o Caps é o núcleo de uma nova clínica, produtora de autonomia, que convida o usuário à responsabilização e ao protagonismo em toda a trajetória do seu tratamento. Os projetos desses serviços, muitas vezes, ultrapassam a própria estrutura física, em busca da rede de suporte social, potencializadora de suas ações, preocupando-se com o sujeito e a singularidade, sua história, sua cultura e sua vida cotidiana.

O perfil populacional dos municípios é, sem dúvida, um dos principais critérios para o planejamento da rede de atenção à saúde mental nas cidades, e para a implantação de Centros de Atenção Psicossocial. O critério populacional, no entanto, deve ser compreendido apenas como um orientador para o planejamento das ações de Saúde. De fato, é o gestor local, articulado com as outras instâncias de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), que terá as condições mais adequadas para definir os equipamentos que melhor respondem às demandas de Saúde Mental de seu município.