Educação lançará o projeto de literatura “Pensando o futuro de Macaé”

27/09/2010 10:39:50 - Jornalista: Andréa Lisboa

“Pensando o futuro de Macaé” é o projeto da Coordenação de Leitura da Secretaria de Educação voltado para estudantes do 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio com a proposta de provocar reflexões sobre esse tema. O evento de abertura, no auditório Claudio Ulpiano, na Cidade Universitária, acontece nesta terça-feira (28), às 19h, com a palestra do jornalista e escritor Clinton Davisson “A história da ficção científica e como ela pode ser trabalhada pedagogicamente”. O projeto contará com a distribuição de livros nas escolas, oficinas de literatura e de um concurso de contos.

Clinton Davisson, que teve o seu livro “Hegemonia – O Herdeiro de Basten”, selecionado para o projeto, foi também recomendado pela Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Corafro), por abordar o preconceito. O autor afirma ter se baseado na própria vivência em Macaé para criar a obra, que conquistou elogios internacionais e ganhou prêmios em todo o Brasil, incluindo o prêmio Nautilus da revista Scifi-News. A obra também foi selecionada para o projeto “Ponto de Convergência” que classificou os dez livros mais importantes de ficção científica feitos no país nos últimos dez anos.

A prefeita em exercício, Marilena Garcia, ressaltou a importância de reflexões sobre o futuro do município. “O petróleo é um recurso limitado. Mesmo com as novas descobertas do pré-sal, que propicia uma sobrevida, temos que pensar em alternativas para o futuro de nossa cidade. Isso é obrigação de cada cidadão que vive aqui”, diz.

Segundo a coordenadora de Leitura da Secretaria de Educação, Maria Georgina de Souza, o projeto é fundamental em um momento em que a preocupação com o futuro é inerente aos cidadãos macaenses e de todo o planeta. “Eu acredito que através da ficção científica a gente possa visualizar o futuro desta cidade e nos prevenir para o que poderá acontecer. Nós temos aqui o petróleo, que é a base do nosso desenvolvimento econômico, mas no futuro, talvez não o tenhamos mais. Pensar neste futuro é uma forma de construir uma cidade melhor”, destaca.

Para a coordenadora do Corafro, Sônia Santos, o “Hegemonia” aborda a questão do preconceito de forma criativa e inovadora. “O livro é importantíssimo por possibilitar a abordagem da questão racial nas salas de aula. Mostra que o preconceito não se dá apenas através da cor, mas da cultura. O autor leva a questão para o reino da fantasia onde fadas têm preconceito contra os dragões que, por sua vez, têm preconceito contra as sereias e isso nos leva a refletir sobre o nosso preconceito cultural, que acontece independente de cor, credo e raça”, avalia.

Fantasia realista

Ao contrário dos movimentos de “realismo fantástico” que fizeram sucesso na América do Sul com escritores como Gabriel Garcia Márquez, Clinton Davisson aposta na “fantasia realista”, com seres conhecidos em contos de fadas vivendo em organizações sociais complexas, onde existem o desemprego, a fome e a discriminação racial e social.

O livro é uma espécie de diário futurista, o que desperta o interesse dos adolescentes e jovens. Outro recurso que atrai essa faixa etária é um anexo com dicionário da língua dos dragões saters. O autor levou sete anos para criar os verbos, pronomes, artigos e mais de duzentas palavras presentes no glossário. O gênero bastante atrativo, especialmente para o segmento juvenil, acaba sendo um chamariz para reflexões sociais, que abrangem preconceitos, exploração econômica e alienação.

O escritor Roberto de Souza Causo, que foi editor da revista Asimov Magazine, a mais importante do gênero no país, afirma que “Hegemonia” é um dos projetos mais ambiciosos da ficção científica nacional desde a década de 80. “Desde o clássico ‘Padrões de Contato’ de Jorge Calife, que não havia a tentativa de se criar um universo ficcional complexo como este”, declara.