Projeto Cultura e Identidade: recuperando a história macaense

09/06/2009 15:37:21 - Jornalista: Eloísa Seady

Foto: Divulgação

Pesquisadores Vilcson e Aline selecionam os documentos

A prefeitura de Macaé está retomando a recuperação de documentos históricos do judiciário, datados a partir do século XIX: são mais de 10 mil documentos que estão passando por um trabalho técnico de higienização e recuperação, como parte do projeto “Cultura e identidade: recuperando a história macaense”. O trabalho está sendo coordenado pela Secretaria de Cultura do município., com autorização do juiz da Comarca, André de Souza Brito.

- Estamos no início de uma grande caminhada, pois temos centenas de documentos em estado avançado de deteriorização. Mas quando finalizarmos, estaremos deixando uma linda história arquivada e quiçá, digitalizada para os macaenses. Não mediremos esforços para o êxito do projeto Cultura e Identidade. Os macaenses podem esperar ações significativas decorrentes das pesquisas em andamento, disse o subsecretário de Cultura, Eli Peron Frongilo, que ressalta o apoio que a secretária de Cultura, Sheila Polly, está dando ao projeto..

O trabalho está sendo coordenado pelo pesquisador da Secretaria de Acervo e Patrimônio Histórico, Vilcson Gavinho, capacitado em Gestão de Documentos, perito documental da Primeira Vara Civil de Macaé e bacharelando em Museologia (UNIRIO), onde preparou o projeto “Cultura e Identidade: Produção Documental do Judiciário em Macaé”. O trabalho contou com a orientação do célebre museólogo carioca Gilson Caldwell do Coutto Nazareth, doutor em Comunicação e Cultura (UFRJ).

A equipe é composta pela historiadora Aline dos Santos Silva, além de Francisco Vitor Bandeira, Ricardo Campos, Felipe Oliveira e Cerli Rocha, que recebem treinamentos em conservação de acordo com as normas técnicas da Fundação Biblioteca Nacional, cujo Coordenador de Preservação é o Professor Jayme Spinelli Júnior.

- Não poderíamos iniciar o processo sem qualificar a equipe. Estamos lidando com documentos importantíssimos para a história macaense e que infelizmente encontram-se em péssimo estado de conservação, necessitando de cuidados especiais. O trabalho de Higienização e Classificação requer tempo, paciência, técnica e muita dedicação, disse Vilcson Gavinho.

As surpresas surgem a todo momento, pois nesse breve período de trabalho, já foram encontrados inúmeras preciosidades históricas. Uma delas é a Sentença Crime, datada de 1854, condenando Domingos, escravo de Manoel da Motta Coqueiro - o último homem branco a ser condenado a morte pela forca no Brasil. Dezenas de inventários, como o do Barão de Villa Franca (1885), do doutor Euzébio de Queirós Mattoso Ribeiro (1885), do Conde de Araruama (1893) e o testamento do Tenente-Coronel Amado (1894), revelam curiosíssimos aspectos cotidianos e domésticos dos macaenses há quase duzentos anos.
O coordenador Gavinho ressalta também a existência de uma extensa documentação relativa à escravidão, o que confirma Macaé como um importante pólo de comércio negreiro. Um bom exemplo dos benefícios que já estão acontecendo é o caso do pesquisador carioca Mário Alves de Oliveira, que há décadas escreve uma biografia do poeta Casimiro de Abreu, já tendo pesquisado inclusive em arquivos portugueses e franceses, sem nunca ter tido acesso ao acervo do judiciário macaense, fundamental para sua pesquisa. Só agora obteve informações que tanto almejava. A historiadora macaense Conceição Franco também deve incluir informações sobre Motta Coqueiro, encontradas no acervo, em sua dissertação de Mestrado pela faculdade Universo.

Documentação corria risco

No início da gestão do subsecretário de Cultura, Ely Peron Frongilo, uma das primeiras iniciativas foi confirmar a informação, que ele já possuía, de que centenas de documentos relacionados ao Poder Judiciário de Macaé, desde o século XIX, depois de já terem sofrido incêndios, enchentes e inúmeras intempéries, encontravam-se abandonados e em condições precárias.

Peron comenta que há muito tempo a documentação encontrava-se no Cine Clube e que tinha sido transferida para a Fundação Macaé de Cultura com objetivo de serem tratados e disponibilizados aos interessados: pesquisadores, historiadores, sociólogos, museólogos e aos macaenses em geral. Parte da documentação chegou a ser tratada pelo projeto “Macaé em fontes primárias”. Porém, após uma invasão criminosa ao Cine Clube, parte da documentação foi queimada. O que sobrou ficou guardado em uma sala do Centro Macaé de Cultura.

Constatados os fatos, o subsecretário entrou em contato com o juiz André Souza Brito, e colocou-o a par da situação. Em seguida pediu-lhe permissão para que trabalhos de Higienização e Classificação fossem realizados nos documentos. A autorização foi concedida imediatamente.