Raízes históricas do Racismo é assunto de palestra

14/07/2008 09:00:39 - Jornalista: Grazielle de Marco

“O racismo analisado a partir de um novo prisma epistemológico” foi o tema da palestra do antropólogo Carlos Moore, apresentada no auditório da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé (Fafima) nesta sexta-feira (11), às 18h. Após a palestra, que abordou a origem do racismo e suas implicações na história da humanidade, o cientista social e autor de vários livros, autografou suas obras.

A palestra faz parte do curso de pós-graduação em Estudos Culturais e Históricos da Diáspora e Civilização Africana, que está sendo oferecido pela Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos (FeMASS), e é estruturado pela Fundação Educacional de Macaé (Funemac).

Durante o evento Moore, que é doutor em Etnologia e em Ciências Humanas pela Universidade de Paris VII, explicou que, como resultado de seus mais de 30 anos de pesquisa, acredita que o racismo não é um fenômeno da modernidade como muitos acadêmicos afirmam. “A forma como o preconceito tem sido tratado acaba banalizando o mesmo de tal maneira que nem o reconhecemos mais. A academia tem defendido tratar-se de um fenômeno que surgiu com a escravidão, com o capitalismo e que foi criado como um artifício para facilitar a escravidão e exploração do negro. Também afirmam que veio da Europa e que se enraiza na biologia da raça. No entanto, minhas pesquisas me levaram a conclusões diferentes desta”, afirmou.

Carlos Moore explicou que seus estudos o fizeram compreender o conceito de raça de outra maneira. “Não está relacionado à biologia, mas com o fenótipo (aparência). Precisamos entender que, se raça não existe, o racismo também não. Raça não tem relação com biologia, mas com algo muito mais concreto, que é o fenótipo”, ressaltou.

Para o antropólogo, a aparência surge como problema a partir de outro fenômeno, que é o processo histórico de raciação. “A partir de uma população generalizada que vivia na África surgiram duas diferentes. Cerca de dois mil anos A.C. surgiram as diferenças fenotípicas. Esses grupos ficaram isolados e a partir daí surgiram asiáticos e brancos. O racismo não pode ter surgido senão após o processo de raciação. Os conflitos se iniciam quando esses três grupos entram em contato pela primeira vez”, observou.

Ele lembrou que a história do ser humano é cheia de conquistas, eliminações e genocídios. “Comecei a compreender através dos textos e de novos dados da genética que o racismo iniciou na antigüidade. O racismo surge em momentos diferentes, em países diferentes e o fenótipo chega a ser uma linha de divisão, porque se percebe mais facilmente. A estruturação surge baseada nas diferenças e surgem estruturações econômicas e sociais de dominação também a partir do fenótipo. Por não ser ideologia, o racismo não pode ser desestruturado. É uma consciência difusa que permeia todos os âmbitos da vida social e o encontramos em todos os lugares do mundo: Ásia, Indonésia, Filipinas, Malásia, etc. O racismo não surgiu da escravização, mas o contrário. Precisamos compreender o racismo como algo historicamente construído e a partir daí teremos que combatê-lo não como fenômeno, mas algo permanente”, finalizou.

O curso de Pós-Graduação em Estudos Culturais e Históricos da Diáspora e Civilização Africana foi estruturado em módulos e a cada etapa é realizado um ciclo de debates, com palestras de profissionais conceituados sobre temáticas relacionadas ao curso.