Foto: Desenvolvimento Social
O evento ocorre de forma presencial e online
Na semana da ‘Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha – Julho das pretas’, a Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos e Acessibilidade deu prosseguimento, nesta terça-feira (27), à programação alusiva que, a cada evento, reflete sobre suas lutas, experiências, resistências e a ocupação dos seus espaços na sociedade vigente. Realizado pela coordenadoria de Políticas Sociais e Igualdade em parceria com Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam), o evento ocorre de forma presencial e online com debates sobre as discriminações raciais e étnicas, além de reflexões sobre políticas que reafirmam a identidade dessas mulheres.
Neste terceiro encontro, que aconteceu no auditório da Secretaria de Desenvolvimento Social, houve uma Roda de Conversa, com ‘Experiências e Escrevivências’, com a participação da advogada, coordenadora executiva da Rede das Pretas e dirigente estadual do MNU-RJ, Margareth Ferreira, e da vereadora e advogada Iza Vicente. A ‘Roda’ foi aberta pela anfitriã, Conceição de Maria, graduada em letras, pós-graduada nos Estudos Culturais e Históricos da Diáspora Africana, poeta e escritora, que mediou o evento. A ‘Roda’ contou com a participação de um mini show de MPB da Escola de Música, com Leonardo Passos no teclado e Aderson Aprígio no Sax.
A vereadora Iza Vicente relatou aos participantes algumas histórias de sua vida, que começou com a história de vida das mulheres negras de sua família, principalmente, de sua avó e de uma infância de amor. Ela relatou as dificuldades enfrentadas para chegar até os dias atuais, sendo negra e o seu envolvimento com mulheres empoderadas que lhe repassaram o orgulho de serem negras.
"Rememorei minhas experiências enquanto mulher preta e daquelas que vieram antes de mim, honrando o legado das mulheres pretas de Macaé e de todo o Estado do Rio de Janeiro. Minhas experiências de resistir e acreditar que a gente tem de ocupar todos os espaços, na verdade, elas formam quem eu sou, como lutar contra o racismo, o machismo, superar esse preconceito para dar espaço de poder e fala às mulheres negras", afirmou.
Já a coordenadora executiva da Rede das Pretas e dirigente estadual do MNU-RJ, Margareth Ferreira, contou que suas experiências de vida e as lutas enfrentadas são desde a infância. Ela falou dos sofrimentos das pretas ante ao machismo vigente e revelou casos, conclamando a construção de um novo momento no Brasil.
- São experiências de vida que a gente precisa escrever sobre elas para deixar registrado, pois, a grande mensagem é a memória. A nossa memória, ela tem sido apagada e a gente registrando nas páginas do espaço virtual de agora, a gente começa a construir um novo momento no Brasil. Quem vai fazer essa transformação são as mulheres pretas. Já estamos em marcha, cada vez mais saudando aquelas que vieram antes e cada vez mais resgatando os momentos históricos de nossa transformação, que vem através das mulheres pretas e estas são as últimas da base da pirâmide, as mais esquecidas. Mas, estamos transpondo esse momento e mudando porque nós faremos a revolução", assegurou Margareth.
Live - Histórias e contos das mulheres negras do Brasil - fazendo parte da semana comemorativa-, a ‘Importância da Mulher Negra na ocupação de espaço’ ocorreu em live no Instagram de Karoline Bandeira (coaching e psicóloga), que convidou Conceição de Maria para contextualizar.
Durante a live, a escritora narrou o episódio da chegada da população negra no Brasil, que vinha de naus e onde era concedido às mulheres negras irem ao convés para tomar banho de sol, o que, na verdade, era no convés que elas eram abusadas pelos marinheiros portugueses. “A vida da mulher negra no início do Brasil era muito difícil. Quando elas chegavam iam trabalhar direto na lavoura, tempos depois foram deslocadas para os trabalhos domésticos, onde lavavam, passavam, cozinhavam e tinham que amamentar os filhos dos senhores de engenho”, explicou Conceição, acrescentando que o dia 13 de maio diz que os negros estariam libertos, no entanto, nessa data começou outro tipo de escravidão, onde os negros e negras não tinham mais moradia, escola, onde eram renegados seus direitos e começaram a trabalhar na informalidade como engraxates e em outras funções.
Conceição encerrou a live citando as mulheres negras de ontem e de hoje, como as escritoras Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo; as musicistas Chiquinha Gonzaga, que com o dinheiro que ganhava das composições libertava negros africanos e a deputada Leci Brandão, que faz o movimento negro; Dandara e Tereza de Banguela, líder quilombola. “Dandara era conhecida como a mulher de Zumbi e Tereza, como a mulher de Zé Piolho. As mulheres negras não tinham voz e nem identidade. Hoje somos todas Terezas, da resistência, da luta pelas políticas públicas e sociais que tanto sonhamos. As mulheres negras querem educação de qualidade e inserção no mercado de trabalho. Querem dividir saberes e desejam respeito!”, frisou Conceição de Maria.
A programação segue nesta quarta-feira (28), às 9h, com o V GT da Rede de Proteção e atendimento à Mulher – ‘Reflexões sobre a realidade da mulher negra e afirmação da identidade, da história e da cultura’, que terá como convidada Deise Benedito, graduada em Direito e Especialista em Relações Étnico Raciais. Às 16h, haverá uma live no Facebook Conceição de Maria, sobre ‘Literatura Infantil’, com Talita Costa Pereira - aluna da Escola Municipal Botafogo e ganhadora do Prêmio Nacional de Literatura de Campos de Jordão – categoria: poesia 2021.