Simpósio de Alfabetização qualifica educadores de Macaé

17/06/2010 18:12:21 - Jornalista: Andréa Lisboa

Foto: Kaná Manhães

Evento atraiu cerca de 200 educadores

O “Simpósio de Alfabetização: Desafios e Perspectivas”, que aconteceu nesta quinta-feira (17), das 9h às 18h, atraiu cerca de duzentos educadores, especialmente da rede municipal, à Cidade Universitária. Em sua palestra a professora PhD da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Fátima Cristina de Mendonça Alves, ressaltou a importância da alfabetização como um processo contínuo que deve ser consolidado durante os primeiros anos do ensino fundamental. À tarde, foram realizadas oficinas para a formação continuada dos profissionais.

A estudiosa, autora do livro “Qualidade na educação fundamental pública nas capitais brasileiras: tendências”, com a última edição esgotada, apresentou o Estudo Longitudinal da Aprendizagem Escolar, realizado por um grupo de pesquisadores de diferentes instituições de ensino superior, o qual ela integrou.

A pesquisa consistiu na aplicação de cinco avaliações, de março de 2005 a novembro de 2008, em turmas de estudantes de cinco municípios. Os alunos foram acompanhados a partir do 2º ano de escolaridade e também foram direcionados questionários a diretores e professores. Foram alvo da pesquisa escolas municipais, estaduais, federais e privadas.

O objetivo do estudo foi, por meio de provas de leitura e de matemática, investigar as características que promovem a eficácia escolar, além da equidade do aprendizado, ou seja, as que elevam a média da turma, de forma em que os alunos com mais dificuldade aprendam mais.

As conclusões da pesquisa foram apresentadas à plateia. Segundo o estudo, os fatores que influenciam para a melhor aprendizagem são: o nível socioeconômico da turma; a experiência docente; a aplicação de tarefas para casa; a experiência do professor com o livro didático há mais de dois anos e a prática da leitura.

Um dado do trabalho que chamou a atenção da plateia foi a diferença entre habilidades do aluno no 2º ano do ensino fundamental, o ponto de partida da pesquisa, de escolas públicas e de privadas. Essa defasagem não tem sido compensada até o final deste nível de escolaridade, podendo chegar a dois anos.

“A pesquisa mostra a grande importância das escolas municipais e estaduais para o desenvolvimento de habilidades no aluno. Elas fazem realmente a diferença, se comparadas com as interferências das escolas privadas ou federais em seus estudantes”, apontou Fátima Cristina.

“Estamos qualificando os profissionais da Educação por meio de cursos, pós-graduações, seminários, grupos de estudo, mesas redondas, simpósios, entre outras iniciativas. Todos ganham com a valorização dos educadores e do processo de alfabetização”, disse a vice-prefeita e secretária de Educação, Marilena Garcia.

Em seu primeiro ano trabalhando em turma de alfabetização, a professora macaense do Colégio Municipal Neuza Goulart Brizola, Ana Lúcia Anchieta, disse que fez essa escolha pelo desafio que ela representa. Ela considerou que os dados estatísticos apresentados no simpósio motivaram uma vontade maior de revertê-los. “Podemos mudar essa história”, disse Ana Lúcia.

“A experiência das alfabetizadoras mais antigas de Macaé também contribuiu para que possamos ter uma ideia do que era feito, para compararmos com que fazemos agora. As coisas não mudaram muito, mas permanece a vontade de melhorar a aprendizagem”, completou.

Memória
O Seminário foi aberto pela participação das alfabetizadoras Neusa Bahú, Myriam Schueler e Leila Clemente, professoras aposentadas, que comentaram sobre o processo de alfabetização na época em que atuavam. Elas também colaboraram com o debate após a palestra de Fátima Cristina.

Myrian, por exemplo, concordou com Ana Lúcia, enfatizando a importância da complementação do ensino de alfabetização na primeira série. “Precisamos que o processo tenha sequência”, ressaltou.

Neusa Bahú, 72 anos, já na abertura, chamou a atenção dos presentes para a necessidade de o professor estar preparado para esse desafio. “Estudem e, estando preparado, não tenham medo da alfabetização”, aconselhou.

Leila Clemente, formada em 1971 e trabalhando com alfabetização desde então, destacou a relevância do trabalho em que esteja incluída a realidade do aluno e ainda o caráter de continuidade da alfabetização. “Todos os professores do primeiro segmento do ensino fundamental são alfabetizadores. Esse é um processo que precisa de espaço. Precisamos disso e de trazer o lúdico para a sala de aula”, recomendou.

Oficinas

À tarde, o Simpósio ofereceu as oficinas: “A escrita: das paredes ao computador”; “Cada criança é uma canção”; “Compreendendo a aquisição da leitura”; “Necessidades especiais: quem não as tem?”; “Alfabetização e surdez: desafio da inclusão”; “Contar e ler histórias, um desafio para as séries iniciais”; “Os desafios da leitura de imagens cinematográficas: utilizando a glamourização e a demonização do mundo funk em sala de aula”; “A literatura infantil na era digital”; “O processo de construção da escrita infantil” e “Identidade em construção”, como instrumento de formação continuada dos profissionais da Educação.

As oficinas tiveram como base as discussões levantadas no curso de pós-graduação em Alfabetização da Faculdade Pública Municipal Miguel Ângelo da Silva Santos (FeMASS), que teve início no primeiro semestre do ano passado. Tanto o curso quanto o simpósio foram elaborados para atender as metas da secretaria de valorização do processo de alfabetização na rede e de qualificação do servidor.
O seminário foi encerrado pela palestra do professor Francisco Carlos Gomes, mestre na área e diretor da FeMASS.