Quem nunca pensou que a própria vida daria um romance? Os questionamentos que levam muitos a imaginar a história de suas vidas contadas em livros foi o tema do Café Literário do final da tarde e início da noite de quarta-feira, na Bienal do Livro de Macaé, onde o escritor Antônio Torres abordou tendências literárias e discutiu os rumos da literatura pós-moderna.
Autor de “Essa Terra”, um dos romances mais importantes da literatura brasileira contemporânea, que relata o impacto da “cidade grande” sobre o retirante, o baiano Antônio Torres é categórico quando o assunto é livros e vidas. “Eu não sei se toda vida dá um romance, eu penso que toda vida dá um começo de romance e o resto depende da imaginação do romancista”, disse.
O escritor citou o clássico Madame Bovary, do francês Gustave Flaubert, onde o próprio Flaubert afirma que Madame Bovary é ele. A obra fala da traição feminina no casamento. “Toda vida dá um começo de romance, o resto é discurso ficcional que vai levar em frente. A história de um romancista está de uma maneira ou de outra por traz da história que ele conta”, ressalta.
Torres contou histórias sobre obras como “Um cão uivando para a lua”, “Os homens dos pés redondos”, “O cachorro e o lobo”, discursou sobre seu processo de criação literária e destacou que sua paixão pela escrita veio da dedicação à leitura. Em entrevista antes da participação no Café Literário, Antônio Torres, que é escritor da Record, analisou a estética literária da pós-modernidade.
- A questão da pós-modernidade é muito complexa, ela envolve problemas políticos, ideológicos ou a falta de ideologia, o fim das utopias. A pós-modernidade em si mesma é uma encrenca. E essa encrenca apresenta hoje promessas de paraísos artificiais, felicidades engarrafadas, um facilitário de coisas que vão substituindo o pensamento, a literatura, a reflexão, a psicanálise, tudo está sendo substituído por um salvacionismo pronto, do tipo: lave, use e jogue fora - avaliou.
O autor comentou que hoje, tudo está voltado para a indústria do entretenimento. “As pessoas estão sem onde ter se agarrar, então se agarram em auto-ajuda. Mas eu me questiono: não haverá pessoas inquietas e curiosas querendo mais do que isso? E aí é o espaço da literatura, da psicanálise, do pensamento, da filosofia, da reflexão. Por isso, não sou pessimista. Nós, romancistas e escritores, perdemos muito terreno, mas por outro lado, o espaço que nos sobrou está muito sólido”, disse.
A solidez de Antônio Torres no mercado da alta cultura pode ser exemplificado no fato de que o escritor já publicou 13 romances. “Somos o espaço para aqueles que estão indo contra a corrente, para as pessoas que não estão se satisfazendo com o cardápio trivial pouco variado encontrado nas livrarias”, frisou.