logo

Art Luz brilha no Sana

26/12/2007 11:32:10 - Jornalista: Alexandre Bordalo

O núcleo do Programa Art Luz do Sana proporciona diversas atividades artísticas, culturais e esportivas no sexto distrito de Macaé. Percussão, jazz, balé moderno, jiu-jitsu, violão, canto, danças regionais e expressão corporal (teatro) são ministrados semanalmente a moradores e turistas.

Entre as atividades culturais também estão jongo, maculelê, afoxé, samba e funk. De acordo com a coordenadora do Núcleo do Sana, Ana Paula Sousa Prado, de três em três meses mudam-se os ritmos. “Neste mês de janeiro, o foco será o samba, quando formaremos bloco carnavalesco chamado Sambando”, afirmou.

No último sábado (22), a prefeitura lançou o projeto Cidade Art Luz, no Teatro Municipal. Na ocasião, apresentaram-se 11 toadas de jongo. O núcleo de percussão do Sana, composto por sete músicos, utilizou tambores para expressar a musicalidade africana, que gerou o samba. O público presente na Praça das Artes (em frente ao prédio do Centro Macaé de Cultura), foi envolvido pelo som dos instrumentos, e, animado, se dispôs a mexer o corpo, batendo palmas.

Cidade Art Luz

Por intermédio do projeto Cidade Art Luz, crianças e adolescentes do Programa, espalhados em sete núcleos no município, farão demonstrações de suas respectivas áreas de atuação em pontos estratégicos da cidade. Terminais de ônibus, pontos turísticos, escolas e praias serão palcos de exibições deles. A população será incluída artisticamente, assistindo no seu dia-a-dia, o que os jovens estão aprendendo.

- Graças ao prefeito Riverton Mussi, há democratização e disseminação da cultura às esferas sociais macaenses, com inclusão social. Em 2008, quando o Art Luz completar dez anos em Macaé, estaremos dando início a algumas aulas no novo núcleo do Morro de São Jorge, entre outras atividades, conta a diretora do Programa Art Luz, Ângela Terra.

- Tudo isso só é possível devido aos trabalhos da prefeitura de Macaé e Programa Art Luz, em parceria com a secretaria Especial de Cultura, Esporte e Turismo. Acontece trabalho ativo de inúmeros agentes culturais, em prol da cultura, da arte e do esporte para mulheres, crianças e adolescentes – frisa a diretora.

Jongo

Jongo é uma manifestação cultural essencialmente rural diretamente associada à cultura africana no Brasil e que influiu poderosamente na formação do Samba carioca, em especial, e da cultura popular brasileira como um todo.

Inserindo-se no âmbito das chamadas `danças de umbigada` (sendo portanto aparentada com o `Semba` ou `Masemba` de Angola), o Jongo foi trazido para o Brasil por negros bantu, seqüestrados nos antigos reinos de Angola e do Congo, na região compreendida hoje por boa parte do território da República de Angola.

Composto por música e dança características, animadas por poetas que se desafiam por meio da improvisação, ali, no momento, com cantigas ou pontos enigmáticos (`amarrados`) , o Jongo tem, provavelmente, como uma de suas origens mais remotas (pelo menos no que diz respeito á estrutura dos pontos cantados) o tradicional jogo de adivinhas angolano, denominado Jinongonongo.

Uma característica essencial da linguagem do Jongo é a utilização de símbolos que, além de manter o sentido cifrado, possuem função supostamente mágica, provocando, supostamente, fenômenos paranormais. Dentre os mais evidentes pode-se citar o fogo, com o qual são afinados os instrumentos; os tambores, que são consagrados e considerados como ancestrais da comunidade; a dança em círculos com um casal ao centro, que remete à fertilidade; sem esquecer, é claro, as ricas metáforas utilizadas pelos jongueiros para compor seus "pontos" e cujo sentido é inacessível para os não-iniciados.

Hoje podem participar do Jongo homens e mulheres, mas esta participação, em sua forma original era rigorosamente restrita aos iniciados ou mais experientes da comunidade. Este fator relaciona-se a normas éticas e sociais bastante comuns em diversas outras sociedades tradicionais - como as indígenas americanas - baseadas no respeito e obediência a um conselho de indivíduos `mais velhos` e no `culto aos ancestrais`.

Pesquisas históricas indicam que o Jongo possui, na sua origem, relações com o hábito recorrente das culturas africanas de expressão bantu, durante o período colonial, de criar diversas comunidades, semelhantes a sociedades secretas e seitas político-religiosas especializadas, dentre as quais podemos citar até mesmo irmandades católicas, como a Congada. Estas fraternidades tiveram importante papel na resistência à escravidão, como modo de comunicação e organização, e até mesmo comprando e alforriando escravos.

Dançado e cantado outrora com o acompanhamento de urucungo (arco musical bantu, que originou o atual berimbau), viola e pandeiro, além de três tambores consagrados, utilizados até os nossos dias, chamados de Tambu ou `Caxambu`, o maior - que dá nome a manifestação em algumas regiões - `Candongueiro`, o menor e o tambor de fricção `Ngoma-puíta` (que deu origem à cuíca do Samba), o Jongo é ainda hoje bastante praticado em diversas cidades de sua região original: o Vale do Paraíba na Região Sudeste do Brasil, ao sul do estado do Rio de Janeiro e ao norte do estado de São Paulo.

Entre as diversas comunidades que mantêm (ou, até recentemente, mantiveram) a prática dessa manifestação, pode-se citar, como exemplo, as localizadas na periferia das cidades de Valença, Vassouras , Paraíba do Sul e Barra do Piraí (Rio de Janeiro) além de Guaratinguetá e Lagoinha (São Paulo), com reflexos na região dos rios Tietê, Pirapora e Piracicaba, também em São Paulo (onde ocorre uma manifestação muito semelhante ao Jongo conhecida pelo nome de `Batuque`) e até em certas localidades no sul de Minas Gerais.

Na cidade do Rio de Janeiro, a região compreendida pelos bairros de Madureira e Oswaldo Cruz, já nos anos imediatamente posteriores à abolição da escravatura, centralizou durante muito tempo a prática desta manifestação na zona rural da antiga Corte Imperial, atraindo um grande número de migrantes ex-escravos, oriundos das fazendas de café do Vale do Paraíba. Entre os precursores da implantação do Jongo nesta área se destacaram a ex-escrava Maria Teresa dos Santos muitos de seus parentes ou aparentados além de diversos vizinhos da comunidade, entre os quais Mano Elói (Eloy Anthero Dias), Sebastião Mulequinho e Tia Eulália, todos eles intimamente ligados a fundação da Escola de Samba Império Serrano, sediada no Morro da Serrinha.

A partir de meados da década 70, no mesmo Morro da Serrinha, o músico percussionista Darcy Monteiro `do Império` (mais tarde conhecido como Mestre Darcy), a partir dos conhecimentos assimilados com sua mãe, a rezadeira Maria Joana Monteiro (discípula de Vó Teresa), passando a se dedicar á difusão e a recriação da dança em palcos, centros culturais e universidades, estimulando por meio de oficinas e workshops, a formação de grupos de admiradores do Jongo que, embora praticando apenas aqueles aspectos mais superficiais da dança, deslocando-a de seu âmbito social e seu contexto tradicional original, dão hoje a ela alguma projeção nacional.

Ainda no âmbito da cidade do Rio de Janeiro, é digno de nota também o `Caxambu do Salgueiro`, grupo de Jongo tradicional que, comandado por Mestre Geraldo, animou, pelo menos até o início da década de 1980, o Morro do Salgueiro, no bairro da Tijuca e era composto por figuras históricas daquela comunidade, entre as quais Tia Neném e Tia Zezé, famosas integrantes da ala das baianas da Escola de Samba G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiro.