A aula inaugural do curso de pós-graduação de ensino de História e Culturas da África e Afro-Brasileira aconteceu no sábado (12), na Fundação Educacional de Macaé (Funemac). O evento reuniu dezenas de alunos, que assistiram a palestra do professor Henrique Cunha Júnior, mestre titular da Universidade Federal do Ceará. Ele disse que para entender profundamente o Brasil como cultura, povo e materialidade é preciso compreender as bases africanas.
Como exemplo o professor citou os ciclos econômicos brasileiros que tiveram origem na África. “O café é uma planta etíope, a cana-de-açúcar é asiática, mas estava adaptada no continente africano e a mineração ocorreu com mão-de-obra de regiões produtoras de ouro da África, que desenvolveu técnicas que ajudaram significativamente os portugueses”, explicou.
“Olhamos para a África como um continente de ignorantes, mas a realidade é diferente. No continente africano surgiram diversos alfabetos. Alguns com mais de quatro mil anos”, contou. Ele ainda acrescentou as demonstrações de afro-etno matemática, ligada à teoria de sistema dinâmico, que atualmente é conhecida por matemáticos europeus como teoria do Caos e as teorias defractais.
Segundo o presidente da Funemac, professor Jorge Aziz, é preciso que haja reconhecimento das identidades chamadas minorias como os estrangeiros, os negros e os homossexuais. Todos têm valores para construir a identidade coletiva. “O desenvolvimento de Macaé é constituído de movimentos migratórios nacionais e internacionais que geram uma diversidade cultural muito grande, com conflitos e riquezas”, avaliou, lembrando que a identidade coletiva é o amálgama das culturas adensadas no processo de desenvolvimento.
Já o coordenador do curso, o professor de História, Luiz Elias Sanches, disse que não se pode negar a influência negra no Brasil e que por pressões da sociedade e de movimentos de negros entrou em vigor na Legislação Educacional a Lei nº 10.639/03, tornando obrigatório o ensino de História da África e Cultura Afro-brasileira no currículo escolar. “O objetivo deste curso é por a Lei em prática, dando base a professores de Literatura, de História e de Educação Artística”, ressaltou.
Sanches lembrou que no livro didático o negro é escravo tendo como aspectos positivos o samba e a capoeira, faltando valorizar os conhecimentos técnicos científicos utilizados por eles na época da mineração e na farmacologia e medicina tropical, uma vez que os portugueses não sabiam como lidar com as doenças tropicais.
Para o professor de português e literatura, José Henrique da Silva, que está matriculado no curso, é necessário para ele que trabalha com literatura ter conhecimento histórico, com ampliação de seu conhecimento da África e das culturas da África e Afro-brasileira. “A resistência do negro na história do Brasil é um exemplo”, concluiu.