Foto: Rui Porto Filho
Moacyr Santos era médico e nasceu em 1904, em Glicério
Estabelecidos pela Lei Orgânica do município, são símbolos de Macaé a sua bandeira, o brasão e o hino, todos representações artísticas da nossa cultura e história. Por ser cantado em eventos oficiais e em escolas, o hino talvez seja o símbolo macaense que tenha a autoria mais conhecida, já que a letra de Antônio Alvarez Parada e a música de Lucas Vieira precisam ser, necessariamente, executadas nos atos oficiais da cidade, bem como nos eventos festivos de qualquer natureza. Mas e o brasão e a bandeira, usados na comunicação oficial de Prefeitura e Câmara, como também por muitos comerciantes locais e criadores de conteúdo digital?
Pois um dos seus autores, o médico Moacyr Santos, completaria 118 anos nesta terça-feira (19). Nascido em 1904 em Glicério (4º distrito), ele era neto de um imigrante suíço que veio para o Brasil para povoar a região de Nova Friburgo e foi descendo a Serra do Mar em direção ao Sana e demais regiões de Macaé. O sobrenome da família suíça era Hippolyte. Mas como era praxe abrasileirar os sobrenomes dos imigrantes, e como o avô tinha uma longa barba que chegava até quase o seu peito, começaram a chamá-lo de "velho Santo", razão pela qual a família adotou o sobrenome Santos.
Tendo estudado na então Universidade do Brasil (atual UFRJ), dr. Moacyr foi, junto com seus amigos dr. Jorge Caldas e dr. Bentinho, um dos três primeiros médicos da cidade, clínicos gerais do tipo que recebiam muitas frutas e objetos de presente, em troca de seus serviços. Mas não somente. Professor de Biologia e de línguas estrangeiras no Colégio Luiz Reid, Moacyr Santos foi também um grande estudioso de Filosofia, tendo contribuído de forma decisiva para a formação de seu sobrinho Cláudio Ulpiano como um dos filósofos mais conhecidos do país (também já falecido, e que batiza o auditório da atual Cidade Universitária de Macaé).
Orquidófilo premiado nacionalmente e grande incentivador das artes plásticas em Macaé, Moacyr Santos era um apaixonado por Botânica, por Música e por História. Junto com seu amigo Rui Pinto, foi um dos criadores do Horto Municipal de Macaé. Foi ainda um dos mecenas mais importantes que a cidade já teve. Morador da rua Euzébio de Queiroz, dr. Moacyr era vizinho do então menino Hindemburgo Olive, a quem incentivava com a aquisição de telas e tintas para que Hindemburgo, um dos mais geniais artistas que Macaé já apresentou ao país, pudesse desenvolver todo o seu talento.
De acordo com o segundo parágrafo do Artigo 3º da Lei Orgânica de Macaé, o brasão da cidade apresenta uma coroa com cinco torres (então características das cidades) em campo azul, que em heráldica significa formosura e majestade. Dentre outros elementos, o brasão de Macaé apresenta a Cruz de Cristo, símbolo da fé e das origens jesuítas, e as flechas que lembram o primitivo aldeamento indígena sobre o qual a vila se ergueu. Dois bagres, peixes abundantes no rio que banha a cidade, e duas palmeiras macaíbas, de fruto carnudo e doce, completam o desenho. Coco muito apreciado pelos indígenas goytacazes e tamoios que então habitavam a região (tendo o rio Macaé como fronteira natural que separava as tribos), a macaíba viria batizar a cidade de Macaé, que se erigiu em vila na data de 29 de julho de 1813.
O que a Lei Orgânica de Macaé não conta, porém, é que Moacyr Santos realizou a pesquisa para a composição tanto do Brasão quanto da Bandeira do município, mas que ele não os fez sozinho. A arte final de ambos os símbolos foi feita por seu amigo, o artista plástico paulista Darwin da Silveira, que durante muitos anos morou na Barra de Macaé e que, entre muitos outros artistas locais, costumava expor seus trabalhos no Barracão da Criação, no embrião do atual Centro Cultural de Macaé e na antiga loja de artes Pilão, da família Hernandez - todos centros artísticos que contaram com a participação de dr. Moacyr em sua criação.