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Basquete sobre Rodas: paratleta macaense de 14 anos é condecorado em campeonato carioca

28/11/2025 16:03:00 - Jornalista: Carla Cardoso

Foto: Divulgação

Luiz Miguel tem apenas 14 anos e fez bonito, com sua equipe, no último fim de semana

Destaque nos jogos em que participa, o time Macaé Basquete sobre Rodas viveu um momento especial e marcante, no último fim de semana, ao disputar e ficar em terceiro lugar na competição organizada pela Federação Carioca de Basquete. Em sua estreia na equipe, o jovem Luiz Miguel, de apenas 14 anos, foi condecorado como melhor atleta da classe 1.0 do campeonato.

Inspiração, esperança e superação marcaram o jogo que rendeu uma medalha de bronze com sabor de vitória. João José Barcelos, paratleta e responsável pelo projeto, celebra a conquista do adolescente.

“O Luiz Miguel começou no projeto basquete sobre rodas muito cedo, com sete anos. Por conta da deficiência dele, foi indicado para esse esporte e logo percebemos um grande potencial, já sendo cotado para seleção brasileira sub 21 para o próximo ano”, comemora João.

Feliz com o resultado, é o próprio Luiz Miguel que conta a sua história. O menino nasceu com uma má formação artéria venosa descoberta após uma queda, por volta dos cinco, seis anos de idade.

“Eu tomei um tombo aqui na minha casa e depois desse tombo, eu comecei a mancar. Fui ao médico que falou sobre a má formação e que era provável de eu ficar cadeirante. Minha avó e minha mãe pensaram que era por causa do tombo, mas o médico explicou que não. Ele disse que eu podia ficar cadeirante qualquer momento da minha vida”, relembra.

Após alguns procedimentos contra as atrofias nas pernas e até uma cirurgia na coluna, Luiz Miguel foi se adaptando à sua nova rotina como cadeirante. Hoje, ele sente tudo da cintura para baixo, mas ainda não tem forças para levantar as pernas. “Eu tenho uns 50% de controle delas, só não tenho força para ficar em pé”, ressalta.

Foi na Igreja São João Batista, levado por sua avó, que o adolescente soube do projeto de basquete sobre rodas, pelo padre da época.

“Só que naquela época eu ia para brincar, pegar a bola, ficar jogando pra cima. E quando eu comecei a treinar mesmo, foi depois da pandemia. Foi em 2024 que comecei a ir para os campeonatos. O João e todo mundo do time me ajudaram bastante. Claro que tem coisas para melhorar, só que eu senti que esse ano foi, dentro dos anos anteriores, esse ano foi o melhor”, contou o adolescente, que pretende seguir no esporte, no futuro.

Atualmente, Luiz Miguel é o mais novo atleta do time que vai participar, também, agora da segunda divisão na Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef), de basquete.

“Ele está terminando o colégio, o segundo grau, e já está sendo preparado também para começar a fazer a faculdade. Mesmo sendo de uma família humilde, nós já estamos projetando para que ele possa fazer faculdade. E ele já foi convidado para participar da seleção brasileira. O próximo processo, agora, é tirar o passaporte, que provavelmente ano que vem ele já deve viajar com a seleção”, idealiza João.

Caroline Mizurine, coordenadora geral de Políticas para PCD de Macaé, também comemora o resultado e fala sobre a importância do esporte como ferramenta de inclusão e dignidade das pessoas com deficiência.

“Uma notícia como essa não pode ficar restrita a poucas pessoas. É preciso dar ampla divulgação para que outras tomem conhecimento. Muitas vezes, as pessoas com deficiência são vistas como um público que precisa exclusivamente de mecanismos da Assistência Social, mas essa não é uma verdade. A Coordenação entende que proporcionar oportunidades é muito mais importante para a autonomia desses cidadãos. Independente de suas limitações, é imperioso ressaltar as suas habilidades”, acredita.

Basquete sobre Rodas


O Basquete sobre Rodas surgiu em 2007, com a necessidade de criar um esporte para pessoas com deficiência. Segundo João, de lá para cá tiveram bons resultados em competições, foram campeões de segunda divisão e já participaram da primeira divisão.

“Nos últimos anos, nós estamos oscilando entre segunda e terceira divisão. Desde que começamos, nós sempre tivemos muitos jovens pessoas com deficiência jovens participando do projeto e hoje nós temos dois jogadores que saíram do nosso projeto, que estão jogando na Itália. Tem um que joga na primeira divisão e mora lá no Paraná. E agora, além do Luiz Miguel, nós temos um de 10 anos que começou esse ano. E além de tudo isso, o projeto também visa socializar a pessoa com deficiência”, explica João.

A ação do projeto vai além do esporte e lazer e busca, não só formar atletas, mas também pessoas para a sociedade, mesmo que essas pessoas vejam dificuldade. O mesmo ocorre com o mercado de trabalho. O projeto busca parceria com empresas para qualificação profissional para os atletas e visando o futuro, logo que eles terminem o ciclo no basquete.

“Nós já conseguimos com parcerias com a Estácio, para que alguns dos nossos jogadores também pudessem fazer faculdade. Hoje nós já temos três jogadores formados e temos três jogadores concluindo o curso de Educação Física. Então, o projeto além de formar jogadores de alto rendimento para o basquete também fomenta muito essa necessidade de agregar valores à pessoa com deficiência. Então, nossa realidade é formar jogadores e formar também pessoas para a sociedade, mesmo que essas pessoas vejam dificuldade", completou João.


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