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Camerata de Violões: um privilégio em Macaé

23/05/2006 11:18:28 - Jornalista: Alexandre Bordalo

Possibilitar aos alunos de violão do Conservatório Macaé de Música (CMM) a realização de prática de conjunto em seus instrumentos e divulgar o violão como instrumento de solo e grupo. Estes são os objetivos principais da Camerata de violões João Salgado, em Macaé. Segundo o regente dos oito violonistas que compõem o grupo, o músico Lúcio Duval, a camerata também tem as metas de representar Macaé em eventos ligados à cultura e à arte e levar ao público da cidade música composta em várias épocas.

Músicas cujos estilos vão desde a renascença até o classicismo, com pinceladas de MPB - bem trabalhadas e devidamente elaboradas - fazem parte do repertório da camerata de violões. Como exemplo, Lúcio citou os compositores Claudio Monteverdi (1567 a 1643), Sperontes (1736) e Leopold Mozart (1719 a 1787). Este último foi pai do famoso Wolfang Amadeus Mozart. Os arranjos foram trazidos da Europa em 2001 pelo regente. Inclusive há músicas de Jürg Kindle, através da peça Kalimba, inspirada em ritmos e canções brasileiras e africanas. Uma das peças é de Georg Fr. Handel (1685 a 1759), compositor da corte real inglesa.

As músicas brasileiras apresentadas pela Camerata João Salgado são arranjos de Lúcio Duval para composições de Tom Jobim e Pixinguinha. “Não vejo diferença entre o erudito e o popular, quando são bem feitos”, avalia Lúcio. Camerata é termo de origem italiana que se remete à formação pequena (câmara). Em Macaé, o grupo reúne-se semanalmente para ensaios, tendo participado de diversos eventos culturais e festivos como a inauguração do Nupem, a inauguração da iluminação da Igreja de Sant’Anna, apresentações no Teatro Municipal e outras. Recentemente, a camerata apresentou-se no Projeto a Céu Aberto na Avenida Rui Barbosa.

De acordo com Duval, dentro da camerata são formados duo e trios dos alunos, o que abrange repertórios de choro, como os dos compositores Ernesto Nazareth e de João Pernambuco. O grupo de violonistas vai se apresentar entre os dias oito e 14 de junho no Teatro Municipal, durante a apresentação de alunos do Conservatório. Maiores informações pelo telefone 2791-7462.

“A música tem efeito benéfico sobre o espírito de cada pessoa”, afirma o regente. Ele lembra ainda que é um privilégio Macaé contar com uma camerata de violões, uma vez que seu repertório faz do violão a atração principal das apresentações, pois nelas o instrumento não serve apenas para acompanhamento. O nome João Salgado é uma homenagem ao professor de violão clássico de várias gerações macaenses. Foram alunos dele Piry Reis, Lúcio Duval, Ivan Siqueira, Wanderley Pereira entre outros.

Violão

Bem mais portátil que o piano, o violão encontrou no Brasil terreno fértil para se desenvolver, tanto em sua vertente erudita (Turíbio Santos, Carlos Barbosa Lima, Duo Abreu, Duo Assad, Fábio Zanon), quanto popular (João Pernambuco, Sátiro Bilhar, Laurindo de Almeira, Dilermando Reis, Baden Powell, Raphael Rabello, Sebastião Tapajós).

De instrumento perseguido pela polícia na época dos primeiros sambistas, o violão acabou alçado ao estrelato em sua forma mais simples (o singelo banquinho e violão) a partir dos anos 60.

Porém, segundo Lúcio Duval, anteriormente a esta época, o violão brasileiro já havia conquistado lugar privilegiado entre os violonistas eruditos no mundo todo, através das composições de Villa-Lobos (1887 a 1959) - especialmente seus doze estudos inspirados e dedicados ao espanhol Andrés Segovia e os cinco prelúdios dedicados a sua esposa Mindinha.

“Qualquer pessoa que se forme em violão erudito no mundo tem por obrigação tocar este trabalho, um repertório imprescindível”, finaliza Lúcio Duval.