Foto: Kaná Manhães
Poesias foram lidas na abertura do evento
Um simples painel, como um luminoso céu, repleto de estrelas a refletirem o que vivem os usuários: amor, paz, afeto, construção, objetivo, papai, mamãe, saber, revolução. Conforme as palavras do painel, assim transcorreu o Quarto Café Literário, promovido pelo CAPS/Betinho, na tarde de quarta-feira (27), em sua sede na Rua Visconde de Quissamã, Centro.
Quadros que sugerem pintura naïf, primitiva, de autoria de usuários, confirmam, com predominância do azul de lagos, rios e mares, o que externam em suas poesias lidas na abertura do evento. O relacionamento nitidamente afetuoso entre os pares e a integração com as equipes técnica e de apoio, tudo isso ressalta a eficácia da política nacional de saúde mental. Segundo o terapeuta ocupacional e coordenador do CAPS/Betinho, Júlio Cesar Pereira,
Jaqueline dos Santos, autora de “Sonhar”, usou semelhanças e contrastes. “Sonhar! Existir! Viver! Sonhar com a sede de paz/ Sem ódio e sem mortes/Viver com sede de liberdade/ Viver! Amar! Sentir! Existir! /// Rubervá Guedes dissertou sobre fragmentos de felicidade. Aqui, se portando à pureza infantil. “A felicidade nasce no sorriso genuíno de uma criança. Puro, inocente. Fiel e comovente”. Ali, um viés romântico. “Felicidade é namorar numa bela noite estrelada”. De repente, irrompe a influência da mídia. “Felicidade é ir ao cinema, comer pipoca e tomar um copão de coca-cola”./// “A Natureza”, de Carlos Alberto Lima, do CAPS/Rio das Ostras, insere o ser humano na harmonia do universo. “Era o azul do céu e o azul das águas que se ligavam/ Eu estava na beira das águas que vinham e voltavam.
O tema felicidade também se encontra em “Vamos falar de Amor”, de autoria coletiva, do CAPS/Betinho. “Mas o que é a felicidade? Quero dizer muitas coisas. Me silencio. Olho e sinto/ Fico em meus sentimentos”///Carlos Henrique Martins e Leandro Correa falaram de sonhos. “Eu tenho sonhos. Que todo ser humano se humanize/ Direitos humanos para viver com humanos direitos/ Troquemos bombas por flores. Ódios por amores///
Segundo Júlio Cesar Pereira, terapeuta ocupacional, coordenador do CAPS/Betinho, desde 2002 na instituição, os textos produzidos mostram, confirmam a eficácia da visão antimanicomial. “Chamamos de usuários aos portadores de sofrimento psíquico, que procuramos não tratar como doença, mas consideramos o sofrimento da psique. Nosso desafio é construir estratégias para destruir o olhar estigmatizador sobre a loucura. Este olhar preconceituoso exclui os usuários de saúde mental de todos os espaços sociais,e usamos a arte para promover a inclusão, afirmou. Ele acrescentou que as poesias e pinturas refletem o estágio em que se encontram os autores, como Jaqueline dos Santos, por exemplo, que diz que, hoje, o mais importante em sua vida é ser poetisa, artista, sem desconsiderar a importância de ser usuária.
O CAPS/Betinho conta com 180 usuários, atendidos ´por uma equipe de psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, musicoterapeutas, enfermeiros, técnicos em enfermagem, e equipe de apoio: porteiro, copeiras, serviços gerais, e os administrativos – que Júlio Cesar chamou de fundamental, por seu contato diário com os usuários.
O coordenador falou sobre o tratamento dos usuários. “O tratamento é resultante de uma política nacional de saúde mental, que chamamos de reforma psiquiátrica, em que se privilegia o atendimento no território, fora dos hospitais conhecidos como manicômios. Além de privilegiar o atendimento, produz espaços de convivência como escolas, locais de trabalho.
O êxito dessa política de saúde mental em todo o país foi comentado por Júlio Cesar. “São muitos os exemplos de reabilitação psicossocial no país. Aqui, no CAPS/Betinho, temos o caso de dois usuários, que se tornaram lideranças regionais na saúde mental, e participam de fóruns, conferências, congressos. São interlocutores junto a instituições como a Câmara de Vereadores, Conselhos de Saúde, Prefeitura de Macaé. Fazem parte da Associação de Parentes, Amigos e Usuários de Saúde Mental de Macaé (ASPAS).
O coordenador contou que em breve será substituído. “Vai haver eleição em julho para escolha dos novos coordenadores. Eu e a assistente social Renata Freire - atuais coordenadores - seremos subst ituídos por dois colegas de equipe, por votação dos componentes da equipe. Aproveito a ocasião para agradece a participação do CAPS Infantil de Macaé e do CAPS de Rio das Ostras”, concluiu.