Desde que foi implementado em 2013, pela Prefeitura de Macaé, através da secretaria de Desenvolvimento Social (Semds), para seguir de acordo com a norma que instituiu a Política Nacional para a População em Situação de Rua, o Centro de Referência e de Serviços Especializados (Centro Pop) tem cumprido seu papel. Semanalmente, são ofertados cerca de 500 atendimentos a pessoas que utilizam as ruas como espaço de moradia ou sobrevivência.
O Centro Pop tem a finalidade de assegurar atendimento e atividades direcionadas para o desenvolvimento de sociabilidade, na perspectiva de fortalecimento de vínculos interpessoais e/ou familiares que oportunizem a construção de novos projetos de vida. São ações de acolhimento, acompanhamento e articulação em Rede. O primeiro atendimento é feito pela equipe de Abordagem e Busca Ativa, que identifica nos territórios a incidência de pessoas em situação de rua. Depois é feita a triagem de cada caso no Centro Pop, que identifica a condição, o histórico de vida e suas demandas emergenciais, encaminhando-os aos serviços da Rede Sistema Único de Assistência Social (Suas) e ou às suas famílias, caso tenham referências familiares ou à Pousada da Cidadania.
A realidade do município, por ser referência na exploração de petróleo no país e se apresentar como grande empregador de mão de obra, acaba atraindo um significativo número de pessoas em busca de melhores condições de vida. Essas pessoas, por não possuírem qualificação adequada ou condições financeiras para permanecer na cidade de forma digna, com alimentação e moradia, acabam ficando nas ruas. Mas há também aqueles que estão nessa condição há muito tempo, com histórico de vida nas ruas, tornando-se pedintes e que perderam os referenciais de sociabilidade. De acordo com a secretária Andrea Meirelles, o município quer reconstruir a realidade social desse segmento.
- O Centro Pop representa um espaço de referência para o convívio grupal, social, de relações de solidariedade, afetividade e respeito. Após a triagem feita, verificando-se que a pessoa tem condições de viver uma vida autônoma, ela é encaminhada para a Pousada da Cidadania, que fornece o abrigo temporário e encaminhamentos para políticas de saúde, educação e assistência social, visando resgatar os vínculos familiares e sociais, bem como desenvolver o processo de autonomia e qualificação para o mundo do trabalho – assinalou Andrea.
A secretária ressaltou, ainda, que nem todas as pessoas que vivem nas ruas podem ser caracterizadas como moradores em situação de rua - somente àquelas que não possuem moradia e que acabam em situações extremas, tendo como último recurso as ruas para viver. “É importante que a população entenda a diferença entre a pessoa em situação de rua e aquelas que muitas vezes se utilizam das ruas para ganhar dinheiro ou até mesmo ficar na dependência química, que na maioria dos casos possuem uma casa, mas optam por ficar nas ruas para consumir livremente as drogas”, advertiu Andrea.
A coordenadora do Centro Pop, Elizabeth Telles, conta que após a identificação, a pessoa em situação de rua ou migrante faz sua higiene pessoal, toma café da manhã, guarda seus pertences, passa pelo atendimento psicossocial e jurídico, e faz atividades em grupo – as oficinas diárias. “Nós trabalhamos na perspectiva de ‘redução de danos’ que consiste na boa alimentação que oferecemos através dos kits lanches e vale refeição, no tempo em que estão participando das oficinas e outras atividades. Esses momentos que passam aqui reduzem o tempo de muitos que estariam nas drogas e, quando providenciamos suas documentações ou formulamos novos currículos, contribuímos para a construção de novos projetos de vida”, assegurou Telles, completando que cada um tem um motivo para estar na situação de vulnerabilidade. “Nós trabalhamos com a pessoa em situação de rua e com o migrante, entendendo que ele tem uma história de vida e que chegou até a rua por motivos diversos, quais sejam: desemprego, o uso de drogas, álcool, conflitos familiares e transtornos mentais, entre outros. Por isso, a importância de trabalharmos com eles as três dimensões – acolhida, acompanhamento especializado e articulação em Rede”.
Atividades em grupo – Além de propiciar o acolhimento e acesso ao abrigamento temporário de médio e curto prazo, o Centro Pop desenvolve oficinas criativas como forma de humanização, respeito e dignidade para com este segmento da sociedade.
– Cada dia há uma oficina diferente. Na segunda-feira, por exemplo, após o café da manhã temos a oficina de ‘letramento’, onde eles confeccionam cartazes, escrevem cartas e poesias com o acompanhamento pedagógico, e à tarde assistem o Cine Pop, refletindo junto com o orientador social as mensagens dos filmes e documentários que, geralmente, tratam de temas cotidianos como saúde, DST/Aids, alcoolismo, drogas e muitos outros -, explicou.
Outras oficinas - Nas terças-feiras, são concebidas as oficinas de artesanatos e de matemática, além da roda de conversa sobre assuntos variados. Nas quartas-feiras, em parceria com o ‘Consultório de Rua’, da Secretaria de Saúde, são feitas a “Rodoterapia”, uma terapia ocupacional, com temas atuais. “O Reflexão Pop”, que consiste numa dinâmica de grupo sobre assuntos concernentes à solidariedade, respeito, dignidade, direitos da cidadania e comportamento, entre outros, é realizada nas quintas-feiras. Na sexta-feira, as pessoas em situação de rua acolhidas no Centro Pop convivem com a musicalidade e fazem oficina de capoeira.
Adilson Santos, 47 anos, solteiro, natural de Aracaju e com a profissão de padeiro e confeiteiro, está em Macaé há aproximadamente um ano. Ele conta que se deslocou para o município em busca de oportunidade de trabalho, porém, sua inserção não foi imediata, o que o levou a ficar em situação de rua. Sem condições de auto sustento, foi encaminhado para o Centro Pop, onde foi bem recebido. Após a triagem da equipe técnica foi acolhido pela Pousada da Cidadania, que faz o serviço de acolhimento à população adulta em situação de rua. Em poucos dias, descansado e refeito do período em que ficou na rua, sob o acompanhamento da equipe multidisciplinar da Pousada, encontrou uma oportunidade de trabalho na sua área de atuação, no Bairro Lagomar, território do abrigo. “Hoje sou contratado, possuo carteira de trabalho assinada e em algumas semanas estarei me desligando do abrigo, pois conquistei minha autonomia, graças à Prefeitura de Macaé e essas equipes que me acolheram”, revelou.
- É muito importante a população entender que as pessoas não ficam nessa situação da noite para o dia, portanto, o nosso objetivo é um trabalho de construção de novos projetos de vida, isso leva tempo e exige investimento profissional e persistência. Contar com a equipe que temos hoje no Centro Pop e na Pousada da Cidadania faz toda a diferença - arrematou a assistente social e coordenadora da Proteção Social Especial (PSE) da Semds, Vivianne Rocha.
A Pousada da Cidadania fica localizada no bairro do Lagomar e o Centro Pop, que abre também aos finais de semana, funciona na Rua José Bruno de Azevedo, 99, (antigo prédio da Sinjuv), ao lado do Terminal Central. O cidadão pode colaborar informando à equipe do Centro Pop sobre a existência de pessoas em situação de rua através do telefone 2796-1084.