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Ciclo Filosofia e Cinema apresenta Terra em Transe nesta quinta

09/09/2008 10:30:07 - Jornalista: Marilene Carvalho

Como seguimento do Ciclo de Palestras sobre Filosofia e Cinema, o Centro de Estudos Claudio Ulpiano apresenta na próxima quinta-feira, 11, mais uma grande obra, desta vez de um cineasta brasileiro, sempre trazendo a idéia do cinema como agente de transformação e não como simples obra de entretenimento. O filme, Terra em Transe, de Glauber Rocha, produzido nos anos 60, pode ser considerado o cerne do Cinema Novo, movimento cinematográfico brasileiro que procura retratar a realidade social do país, denunciando a pobreza e a miséria da grande maioria da população.

O Ciclo Filosofia e Cinema é realizado no Solar dos Mellos, sede da secretaria de Acervo e Patrimônio Histórico de Macaé (Semaph), sempre às segundas quintas-feiras do mês, às 19h. O evento, que começou no dia 10 de abril é aberto à comunidade e se completa no dia 13 de novembro. O Ciclo é composto em sua totalidade de oito filmes e palestras, oferecendo ao público uma maneira diferente de pensar o cinema. Para o próximo mês está prevista a exibição de Morte em Veneza, de Luchino Visconti.

Com o Cinema Novo, o cinema brasileiro atinge prestígio nas mostras internacionais, conquistando vários prêmios e a admiração de cineastas como Martin Scorsese e Jean-Luc Godard. Terra em Transe ganhou o prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cannes, em 1967 e Glauber venceu o prêmio de Melhor Diretor, também no Festival de Cannes, pelo filme O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, em 1969. Terra em Transe (1966-1967), de Glauber Rocha, será acompanhado da palestra "O Pensamento Político da Fome", uma apresentação de Paulo Oneto, doutor em Filosofia pela Universidade de Nice-França e professor da pós-graduação em Filosofia da Universidade Gama Filho. Ele resume assim a sua exposição:

– Em seu famoso manifesto estético de 1965, Glauber Rocha fala da necessidade de se tocar naquilo que seria o "nervo" de nossa sociedade: a fome, não tanto como temática a ser abordada nos filmes, mas como atitude cultural capaz de suplantar o exotismo com que somos olhados de fora e a vergonha com que muitos de nós nos olhamos e de abrir caminho para novas possibilidades de sociedade. Afirma-se, assim, um cinema visceral contrário aos aspectos digestivos, catárticos ou edificantes que assombram o fazer artístico. O que encontramos no filme Terra em Transe é esse "pensamento da fome" em ação, tateando em torno das manobras políticas de um país imaginário, chamado Eldorado (alter ego de um Brasil aturdido e desiludido com o golpe militar de 1964), por meio da figura de um intelectual burguês (Paulo Martins). É desse movimento de pensamento, que não pode ser encarnado na figura do intelectual e que transcende as lógicas revolucionárias tradicionais, que importa falar.