Com a presença do presidente do Conselho Estadual de Educação, professor Roberto Boclín, e do superintendente de planejamento do governo do estado do Rio de Janeiro, Waldir Peres, uma comissão de estudos da prefeitura reiniciou uma série de debates na Fundação Educacional de Macaé (Funemac), nesta quarta-feira (07), a fim de dar forma à Escola Técnica Rural Municipal.
Ficou definido que a escola, que será implantada em Córrego do Ouro, vai exercer o papel mais relevante no projeto de desenvolvimento da economia da região serrana do município, mobilizando e integrando população, produtores rurais e micro-empresários da rede hoteleira e de turismo rural receptivo. A escola vai funcionar no sistema de módulos educacionais.
A reunião foi coordenada pelo presidente da fundação, Jorge Aziz, e contou com a participação da secretária de Educação e presidente do Conselho Municipal de Educação, Milmar Pinheiro, da vice-presidente Ilce Santos, do secretário de Trabalho e Renda, Cláudio Bogado, do coordenador do Plano Diretor do Município, Hermeto Didonet, os representantes da Fundação Agropecuária, de Desenvolvimento e Pesca – Agrape, biólogo Marcelo Régis e engenheiro agrônomo Ney Aleixo.
Segundo Jorge Aziz, enquanto são providenciados os documentos e se organiza a escola para o funcionamento em prédio próprio, serão criados e ministrados cursos livres para mobilizar a população, que poderão ser ministrados nas escolas locais da rede municipal. “A escola vai fazer o papel de âncora para a organização do espaço rural e será difusora de valores e de novos conhecimentos, funcionando como vetor do projeto de desenvolvimento da economia local, em bases sustentáveis”, ressaltou Aziz.
O presidente da Fundação acrescentou que o gabinete do prefeito vai institucionalizar um grupo de trabalho, envolvendo as áreas de interesse, e será organizada uma agenda de trabalho e realizada uma discussão na Câmara Técnica do Plano Diretor da cidade. Segundo Jorge Aziz, será definido um plano de negócios para discussão entre governo, comunidade, segmento empresarial e trabalhadores rurais.
Roberto Boclín falou dos cursos técnicos por competências, que associam conhecimentos em geral com base em habilidades e atitudes e conhecimentos específicos, ainda que não adquiridos em escola, idéia de educadores franceses, que se espalhou pela Europa e se assemelha às idéias empregadas por Darcy Ribeiro, anteriores às dos europeus. Boclín falou dos momentos históricos em que foram criadas e regulamentadas as escolas técnicas no Brasil, desde o Momento Nilo Peçanha, em que a escola técnica era para desvalidos e órfãos, passando por Getúlio Vargas, que criou uma escola técnica federal em cada capital do país, voltada para a indústria. Boclín observou que o modelo de Macaé deve se dirigir à produção agrícola, além de contemplar o turismo rural. Opinou que o grupo de trabalho a ser formado deve visitar a Escola Técnica de Barra de Piraí/RJ. O professor deixou com Jorge Aziz toda a documentação da formação e funcionamento da Escola Técnica Rural de Florianópolis.
O presidente do Conselho Estadual ressaltou a importância da Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, criada por Darcy Ribeiro. “Essa lei estimulou a educação profissional, e os cursos técnicos eram ministrados paralelamente ao ensino médio. Foi resgatada em 2000 pelo então Ministro Paulo Renato, que criou os cursos técnicos após o ensino médio. Tarso Genro, ministro do atual governo, alterou a lei, e voltou com os cursos técnicos paralelos ao ensino médio, conservando os cursos técnicos pós médios.
Waldir Peres citou as quatro chaves necessárias ao sucesso do turismo rural como atividade da escola. “A primeira diz respeito à estratégia que deve ser formulada a partir de diferentes perspectivas: desenvolvimento turístico, desenho econômico da região, recuperação e prevenção ambiental e promoção social. A segunda chave é contar com o conhecimento de consultores especializados em desenvolvimento de negócios, turismo rural, transporte, restauração e preservação de patrimônio, hotelaria e gastronomia e economia rural”, enumerou.
Abrir a escola à comunidade foi a terceira chave citada pelo superintendente de planejamento. “Abertura e flexibilização. A população local tem de aprender a receber bem os visitantes e entender que o bem estar coletivo depende do bom acolhimento do visitante, que depende dele para se manter. A quarta chave é o diálogo entre governo, comunidade e empresários. O diálogo deve estar presente sem interrupção do processo.
Cláudio Bogado falou da mobilização que sua pasta vem promovendo com sucesso no Sana, entre os empresários, artesãos e a população. “Sempre visando à geração de trabalho e renda, estabelecemos parceria com a Agrape para a produção local. Colocamos os artesãos em contato com a Fundação Macaé de Cultura. Nas parcerias, a secretaria conta ainda com a Secom e a MacaéTur. Estamos provendo cursos de produção de queijo e de bananas. Na área de qualificação profissional temos parceria com a Funemac e a Semed. Lembro que Córrego do Ouro está se tornando dormitório de Macaé, assim como aconteceu com Rio das Ostras”, declarou Bogado.
Milmar Pinheiro e Ilce Santos lembraram que o secretário de Meio Ambiente, Fernando Marcelo, vem trabalhando para concretizar o reflorestamento do parque Atalaia. Milmar reforçou a questão da necessidade de se ouvir a população para conhecer suas demandas. Ilce acrescentou que, antes de definir os cursos, há necessidade de definir qual o tipo de profissional desejado.
Hermeto Didonet observou que por estar a escola inserida na região serrana, o turismo rural é um universo excelente de absorção de mão de obra. “Para obtermos sucesso, temos de partir do desenvolvimento do espaço rural, discutindo o estabelecimento de atividade que gere renda na ocupação das áreas desmatadas. A banana, por exemplo, não deve ser cogitada, porque gera pouca renda. O eucalipto é uma opção”, afirmou. Didonet insistiu que o produtor rural deve ser o agente do reflorestamento, que tem de ser iniciado imediatamente. “Daqui há 20 anos, teremos uma indústria moveleira com madeira certificada”, enfatizou.
Ney Aleixo lembrou os assentamentos na Bicuda, o Celso Daniel com mais de 250 famílias.”Este segmento também deve ser ouvido para o encaminhamento de resoluções quanto à criação da escola técnica rural”, ressaltou o engenheiro agrônomo, que se manifestou contrário ao plantio de eucalipto nas áreas desmatadas.