Foto: Ana Chaffin
Em meio aos troféus e medalhas, Aparecida Botelho mostra a foto da primeira corrida que participou, em Macaé, aos 36 anos
Dizem que a vida começa mesmo aos 40 anos. Mas para Maria Aparecida Botelho de Mello, foi um pouco mais cedo, aos 36. Com essa idade, há 26 anos, ela descobriu sua real vocação: correr maratonas. Desde então, representa Macaé em campeonatos pelo país a fora, como a corrida de São Silvestre, e coleciona troféus, medalhas e reportagens por todos os marcos alcançados.
Aparecida é uma das pessoas selecionadas pela Fundação de Esporte de Macaé (Fesporte) para conduzir a tocha dos jogos olímpicos que passará pela cidade no dia 31 de julho. Embora seja ilustre na cidade e nos campeonatos que participa, o sorriso farto e as poucas rugas que teimam em aparecer mostram que a humildade e a determinação dão o tom no dia a dia da maratonista que comemora a escolha para carregar a tocha.
- Fiquei muito feliz. É um sonho fazer parte disso e ver uma olimpíada no meu país. Para ser uma grande atleta é preciso dedicação e começar cedo, para ir se moldando e desenvolver o dom. Sei que atletas superiores a mim não terão esse privilégio de carregar a tocha. Com isso, vejo que o retorno pelo tempo de dedicação é maior do que financeiro, é poder ver que minha história influencia várias pessoas. Muita gente me disse que corre por causa de mim. É isso que me satisfaz, explica Aparecida que tem 62 anos.
Mesmo após passar por uma cirurgia no joelho e ficar um tempo parada, com esforço, Aparecida vem retomando as corridas e fazendo bonito. No último dia 26, chegou em primeiro lugar de sua faixa e quarto lugar no geral, no Circuito Ostra, em Rio as Ostras, onde percorreu 21 quilômetros.
- Choveu muito. Tivemos quatro quilômetros de morro, de areia e, mesmo assim, consegui boa colocação. Na meia maratona do Rio também pegamos chuva. Mas, como diz o ditado, quem está na chuva é para se molhar. Enfrentamos chuva, sol, vento. Teve um ano, na São Silvestre, que quando estávamos na subida da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, enfrentamos uma chuvarada. Só víamos aquele aguaceiro descendo. Mas consegui completar a prova, - lembra a maratonista que aprecia as corridas mais longas.
Aparecida perdeu a conta de quantos troféus e medalhas já ganhou. "Perdi muitos deles em uma chuva na casa onde morei. Ainda tenho quatro ou cinco sacos cheios", enumera a atleta que treina todos os dias e não tem uma dieta especial. "Procuro me alimentar bem, sempre li muito e fui aprendendo sobre o tema, mas não faço nada de especial. Nunca desisto no meio da prova. Posso estar sofrendo, mas vou até o final", diz a atleta que adora samba e pagode e não perde o Carnaval no Rio.
Aparecida é de Macaé, porém morou um tempo no Rio, onde trabalhava em uma fábrica de tijolo com o irmão. Ao retornar à terra natal, no final da década de 1980, já casada, com três filhos, sentiu falta do agito da cidade grande. E para preencher o vazio, começou a correr. "Numa dessas, encontrei um casal que perguntou se eu não gostaria de participar de uma corrida mais séria, pois tinha um ritmo bom. Daí, comecei e não parei mais. Numa corrida da academia do Antônio José na época, fui do Mirante (da Lagoa) até à antiga sede da prefeitura (antiga sede da Câmara Municipal). Passei a campeã de Macaé, minha xará, fiquei em primeiro lugar na corrida", relembra.
A atleta faz parte do grupo de corrida Saúde Express e ainda tem esperança de ver os netos na corrida. "Meus filhos chegaram a correr, mas nenhum quis levar adiante. O mais velho, casado, voltou a correr até 21 quilômetros, mas é para manter a forma", comenta, ressaltando que ainda sonha em se formar em Educação Física. "Formei em Ciências Contábeis e ainda penso fazer faculdade. Só que quando entro, gosto de me dedicar mesmo. Quem sabe serei uma treinadora?", idealiza.
Histórias - Em tanto tempo de dedicação às corridas, Aparecida passou por muitas experiências e tem história para contar. Já foi para Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Santa Catarina e outros lugares na região. "Fui para uma prova em Porto Alegre com pouco dinheiro, e de ônibus. Saí na quinta-feira do Rio, fui para São Paulo, Curitiba e de lá para Porto Alegre. Tudo com cerca de três, quatro horas de espera entre um ônibus e outro. Cheguei no sábado, às 6h. Estava dois graus abaixo de zero. Eu não sabia, não tinha levado roupa para isso. Lá uma atleta me cedeu roupas e me ajudou a passar o frio. Mesmo assim, consegui e fui a primeira da minha faixa.