Foto: Andréa Lisboa
O filme provocou reflexões estimuladas em uma Roda de Conversa
A abertura da temporada 2019 do ‘Curta no Museu’ aconteceu esta semana com o curta-metragem ‘Isália’ e a presença, em uma Roda de Conversa formada após a exibição, do diretor Marcelo Tosta. As sessões são gratuitas e têm enchido o auditório Presidente Washington Luiz, com capacidade limitada a 35 expectadores. O programa, que dá preferência a produções regionais, é sempre bastante elogiado pelo eclético público presente, de adolescentes a idosos, e especialmente por profissionais das artes e professores.
O filme ‘Isália’ se apropria do discurso poético, uma das marcas de Marcelo Tosta, para representar os conflitos internos de uma personagem essencialmente brasileira que verbaliza os seus pensamentos com a força de um impulso. O curta foi seguido de uma Roda de Conversa com a mediação do produtor do projeto, Helder Santana, na qual diversos temas foram levantados pelos participantes: música, cenário, figurino, luz e também os conflitos que envolvem os lugares sociais, o machismo, o feminismo e a rebeldia diante de comportamentos padrões.
Marcelo Tosta ressaltou a necessidade de produções como ‘Isália’ e de encontros como o ‘Curta no Museu”, no Solar dos Mellos. "Precisamos resgatar a criança que existe dentro da gente que sente uma vontade de ver as coisas além do que parecem ser. O filme que vimos hoje é uma história em que provavelmente, em algum momento, podemos nos reconhecer. Podemos estranhar, mas também encontrar sentido em alguma coisa por semelhança. A história de hoje é dedicada a pessoas que estão por aí, num tempo urgente como o de agora. Este modo de olhar é um ato de resistência e este encontro é resistência, porque o afeto é resistência. Aqui podemos olhar para nós mesmos e olharmos um para o outro... Quando falo em resistência, refiro-me ao não abandonar a si próprio e o próprio desejo... O essencial é que vamos sair daqui hoje um pouco diferentes", disse.
A previsão do teatrólogo e cineasta foi confirmada pelos depoimentos dos participantes da Roda de Conversa, como a bacharel em Direito, Raquel Komura, que salientou que pretende participar dos próximos projetos. “Com este momento de reflexão a partir das mensagens passadas pelo filme e com esta troca, eu pude perceber o quanto a nossa voz é importante. Alguém aqui falou em bolhas e eu acredito que realmente estamos nos isolando. Percebo muito isso nas redes sociais pela rejeição por opiniões diferentes. As pessoas não estão sabendo lidar com isto”, observou.
Já a professora Silvia Martins, resumiu bem o conflito da protagonista. “Ela queria ser vista e colocar os seus sentimentos para fora”. Ainda o produtor independente de curtas produzidos em Macaé, Reinaldo Lima, da Cia Grotowski, que conta com três produções artesanais, ressaltou o diretor, o figurino e os atores. “Faço este destaque, porque eles estão ali para representar o próximo com disponibilidade, compaixão e a empatia de passar algo de bom para o outro. Tenho gratidão de ver um produto totalmente independente tocando as pessoas e levantando várias reflexões, disse.
Audiovisual regional
Entre as produções da Cia Grotowski está ‘O Carijó’, de 2016, que será apresentado em março no ‘Curta no Museu’. Neste filme, que foi gravado no distrito do Frade, Região Serrana de Macaé, Reinaldo assina a direção de fotografia . “‘O Carijó’ propõe uma reflexão sobre a inocência. Mas, de fato, é um filme mais para sentir. A história é contada de uma forma fotográfica”, define Reinaldo.
Também o diretor de ‘Isália’ falou sobre um outro trabalho seu que será apresentado no ‘Curta no Museu’, o ‘Como a cor do fogo’, que foi gravado em 1997 e depois de vinte anos, editado. O curta foi filmado em uma linda lagoa que atualmente está seca. “‘Como a cor do fogo’ é um registro deste movimento e desta fome. Eu procuro tratar do ‘Onde é a sua dor e de que é a sua fome?’. Estes são temas que muito me interessam”, frisou. O mais novo projeto do cineasta é o ‘Le Petit’, que trata de um reformatório rural para meninas negras.