Foto: Bruno Campos
‘Hipocondria', de Carol Harber, e ‘Não nasci pr'a gaiolas!’, de Mell Harber, provocaram a roda de conversa
O Solar dos Mellos – Museu da Cidade de Macaé abriu suas portas ao público, na noite desta quinta-feira (30), para o primeiro Curta no Museu presencial após o período crítico da pandemia de covid-19. Um dos curtas-metragens apresentados, ‘Hipocondria', de Carol Harber, trata da ansiedade daquele momento. Já o ‘Não nasci pr'a gaiolas!’, de Mell Harber, abre um debate sobre modelos impostos pela sociedade. Estudantes do Ensino Médio do Colégio Estadual Municipalizado Raul Veiga, de Glicério, na Serra Macaense, prestigiaram o evento.
Após a exibição dos filmes em telão no pátio do museu e com pipocas, uma roda de conversa mediada pelo produtor do evento, Helder Santana, abordou questões femininas levantadas pelos curtas-metragens. O tema do evento foi o Dia Internacional das Mulheres, comemorado em 8 de março. Participaram da roda de conversa junto às realizadoras dos curtas: a diretora do Solar dos Mellos, Patrícia Barboza, a coordenadora de Políticas Sociais e Igualdade da Secretaria da Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos e Acessibilidade, Conceição de Maria Rosa e a diretora do Colégio E. M. Raul Veiga, Jane Parente.
“É muito bom ver o Solar com vida”, disse Patrícia Barboza. Ela comentou sobre as imposições da sociedade às mulheres. “Não temos que nos enquadrar. Somos muito mais que isso. Ter aquilo que nos pertence; ser do jeito que somos; fazer o que gostamos sem tabus não é fácil para nós mulheres, porque somos muito cobradas. Precisamos sair destes padrões, se desejarmos”, completou.
“Estar aqui com jovens, assistindo produções de jovens é um privilégio. Isso mostra a eles que também são capazes. As aulas não têm que estar emparedadas nas escolas. Foi uma aula através de curtas-metragens”, destacou Jane Parente, que fez um convite aos estudantes presentes para que produzissem um filme no colégio para ser exibido no Curta no Museu.
Conceição de Maria, que é funcionária aposentada da Petrobras, abordou as lutas e avanços das mulheres para conquistarem espaço dentro da empresa que é predominantemente masculina. Nela, as mulheres representam um contingente de apenas 17% dos trabalhadores. “A discriminação existe em qualquer segmento da sociedade e no mercado de trabalho também. Temos que ser muito boas no trabalho e na família. Isso cria uma exaustão”, frisou.
Para a estudante do 1º ano do E. M., Raissa Avelino (16), o filme ‘Não nasci pr'a gaiolas!’ foi mais marcante. Nele, Mell Harber trata da cobrança da sociedade por enquadramento em padrões estéticos. A autora conta que o curta-metragem foi a maneira que encontrou para manifestar o sentimento de aprisionamento em modelos que surgiu após o período de sua transição capilar, expressando a sua identidade étnica. “Eu também estou em processo de transição e já ouvi comentários e cobranças para que alise o meu cabelo”, salientou Raissa.
Já o aluno do 2º ano, José Leandro (17), foi mais impactado por ‘Hipocondria'. O trabalho de Carol Harber aborda a pressão psicológica sofrida por quem precisou trabalhar durante o período crítico da pandemia e não pôde contar o respeito de parte da sociedade às medidas de segurança sanitária. “A falta de respeito e de conscientização das pessoas me toca mais, porque perdi o meu avô para covid-19. Acho interessante que as pessoas assistam, porque há muitos que não veem esta questão desta forma”, frisou José Leandro.
Segundo Helder Santana, a produção audiovisual divulga artistas e paisagens da região e assim convida o espectador de fora a conhecer o município. “Estar aqui é uma prova de resistência e de amor à vida”, disse.