Uma conversa descontraída repleta de curiosidades dos bastidores da imprensa carioca; assim foi a palestra do jornalista e escritor Sérgio Cabral, realizada na noite de quarta-feira (14), no Teatro Municipal de Macaé. Foi a sexta edição do Projeto Tim Grandes Escritores em Macaé. Além da palestra, a Biblioteca Pública Municipal Dr. Télio Barreto recebeu novos títulos.
Entre os sete novos títulos recebidos, de Nelson Motta e Sérgio Cabral, está o lançamento de Cabral “Grande Otelo – Uma Biografia”. Sérgio Cabral iniciou a palestra falando do prazer de se ter um momento para falar de si próprio, já ganhando a platéia com simpatia e bom humor.
O escritor, que, após o falecimento de seu pai, ingressou aos sete anos em um internato público para crianças de baixa-renda, ressaltou a importância do ensino público integral de qualidade, assim como do hábito da leitura. Mais tarde, passou em um concurso para escola pública, onde aprendeu um ofício e ganhava salário.
- Foram iniciativas do governo de Getúlio Vargas, que não podemos deixar de reconhecer como muito boas - disse. “Lia muito: Lima Barreto, Machado de Assis, e me envolvi com a música, o que foi decisivo para meu futuro”, completou ao reconhecer que no bairro carioca Cavalcanti, onde morava, havia oportunidades de se optar por uma vida ilícita.
Ingressou na Faculdade Nacional de Filosofia, para estudar jornalismo. Em 1957, começou a estagiar no Diário da Noite, onde, após conseguir criar o título de matéria “JK promete dar o que temporal tirou”, garantiu seu registro profissional.
Realizou seu sonho, que era trabalhar no Jornal do Brasil. A partir de 1961, com o lançamento do Caderno B, passou a escrever sobre música popular em sua coluna “Música Naquela Base”. Cabral é portelense e apaixonado pelo samba.
Foi militante do Partido Comunista e participou ativamente de greves de jornalistas. Por esse motivo, foi demitido do Jornal do Brasil e de O Globo. Também contou curiosidade das redações e sobre o lançamento do Pasquim, em junho de 1969, jornal de oposição à ditadura militar que utilizava humor e charges para fazer críticas. O Pasquim chegou a circular com 40 mil exemplares. “Nós esculhambávamos quem apoiava a ditadura”, explicou.
Em novembro de 1969, Sérgio Cabral foi preso em Campos. Logo após, veio a crise no Pasquim, jornal em que era diretor e editor. “O governo conseguiu esmagar financeiramente o Pasquim”, lamentou o jornalista.
Em 1974, publicou sue primeiro livro que tratava de samba e, em 1977, sua primeira biografia, sobre Pixinguinha. Atualmente, está escrevendo seu 16º livro, a biografia de Ataulfo Alves. Sérgio Cabral é casado, há 46 anos, com Magaly de Oliveira Cabral Santos, com que teve três filhos. O mais velho, Sergio Cabral, é o atual governador do Estado do Rio de Janeiro.
Após a palestra, o escritor respondeu perguntas da platéia. Ele disse considerar os carnavais da década de 60 os melhores e declarou: “O Rio de Janeiro vive, atualmente, um de seus melhores momentos, com blocos ocupando as ruas durante o Carnaval”.
O coordenador do projeto Tim Grandes Escritores, Marcelo Andrade, que integrou a mesa de cerimonial, juntamente com a presidente da Fundação Macaé de Cultura, Conceição de Maria Rosa, declarou que o projeto, em parceria com as prefeituras, visa contribuir com políticas públicas na área de leitura.