Sob a direção de Vera Monteiro, a encenação da Via Sacra emocionou a platéia que lotou o Teatro Municipal de Macaé. Os ingressos gratuitos para a estréia, nesta quinta-feira (20), se esgotaram às 10h30. Interpretações admiráveis de atores macaenses, a adaptação criativa de textos bíblicos e a primorosa atuação de Bruno de Aragão, no papel de Jesus Cristo, são alguns destaques do espetáculo, em temporada até domingo, sempre às 20h.
Os ingressos deverão ser adquiridos na bilheteria do teatro, av. Rui Barbosa, 780, no Centro da Cidade, a partir das 9h até serem esgotados, e no domingo, a partir das 14h. Poderão ser retirados dois por pessoa. A Fundação Macaé de Cultura está recolhendo alimentos não perecíveis e roupas em bom estado para serem doadas a entidades filantrópicas de Macaé.
Muitos na platéia, e até mesmo alguns atores, reagiram às cenas com lágrimas. “Desde 2001 participo da encenação da Via Sacra, mas pela primeira vez chorei no palco. A cena do Pai Nosso foi especialmente emocionante”, revelou a atriz Cássia Gomes.
“Realmente gostei muito”, afirmou a ortodontista Ana Paula Sartor, de 39 anos. “A cena da crucificação e morte me emocionou bastante”, disse a estudante de 19 anos, Camila Soares dos Santos. “Fiquei impressionada com as interpretações”, destacou a estudante Maria Lucília Felix, de 23 anos.
Participam da peça, com duração de 1h40, 31 atores, sendo 30 macaenses. A atriz e diretora de teatro desde a década de 70, Vera Monteiro, trabalha com peças sacras desde 2005, iniciadas com duas temporadas de “Jesus de Nazaré”, no Museu da República, no Rio de Janeiro. Em ambas as montagem, o ator de Maceió, Bruno de Aragão, interpretou Jesus.
Criatividade, talento e dedicação
Sob o palco em cores neutras, que remetem às regiões desérticas, foram projetados fragmentos de filmes bíblicos, combinados a uma trilha sonora intensa, a fim de representar a opressão pela qual passava o povo judeu. Esse início de espetáculo foi pontuado por emocionante narrativa de Paulo Taboada, que também interpreta o diabo e que, com Vera Monteiro, elaborou o texto.
Tanto cenas dessa opressão, quanto da infância de Jesus, são mostradas de forma criativa, como recortes fotográficos, até a morte de José, episódio que dá início à narrativa. Essa cena marca o lado humano de Jesus. A diretora busca, ainda, mostrar Maria como mulher simples, que realiza afazeres domésticos e tem preocupações comuns às mães.
As passagens bíblicas são “costuradas” com textos reflexivos que harmonizam o roteiro. Outra intervenção bastante inventiva acontece nas cenas em que o diabo tenta Jesus. As falas do diabo acontecem em off (são gravadas) e o ator as interpreta sem pronunciá-las, o que as associa a um pensamento e à subjetividade de Jesus.
O batismo de Jesus, a tentação no deserto, os milagres e conversões, Caifás temendo uma rebelião dos judeus, os vendilhões do templo, a Santa Ceia, a traição de Judas e seu arrependimento, as negações de Pedro, a opção do povo por Barrabás, a crucificação e a ressurreição de Jesus são apresentados de forma dinâmica e ritmada.
A cena da dança de Salomé (Leila Soares) se destaca das demais pela cores e sensualidade. Também a da agonia de Jesus no Monte das Oliveiras, na qual são exibidas imagens da Inquisição e das Cruzadas, enquanto o diabo tenta Jesus, é ressaltada pelo seu instigamento crítico. A passagem do Pai Nosso, a do desespero de Maria Madalena (Cláudia Bispo) com a prisão de Jesus e aquela na qual Maria recebe o filho morto nos braços, em marcante interpretação de Simone Kalil, são umas das mais carregadas de emoção. Além disso, o diálogo entre Pedro (Wilton Santos) e Judas Iscariotes (Rafael Kassius) é uma das melhores inserções do texto.