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Espetáculo Corpo Aberto provoca reflexões sobre identidade cultural

18/11/2009 17:52:07 - Jornalista: Andréa Lisboa

Foto: Divulgação

Espetáculo tem como base a religiosidade ancestral do Brasil trazida pelos povos africanos

Longos aplausos após o espetáculo “Corpo Aberto”, de Paulo Azevedo, mostraram o encantamento da platéia pelo espetáculo integrante da programação gratuita da Semana da Consciência Negra, que acontece na Cidade Universitária, promovida pela Secretaria Municipal de Educação. Nesta quinta-feira (19), o rapper MV Bill, um dos fundadores da Central Única de Favelas (CUFA) fará, às 19h30, a palestra "Consciência, Identidade e Cidadania". A Semana, promovida pela Secretaria de Educação, tem como objetivo provocar reflexões sobre diversidade e cidadania.

- O espetáculo traduziu de maneira visceral a questão religiosa e pôde mostrar o efeito dessa mistura de culturas. Fez também revelar o preconceito das pessoas em relação a tabus como corpo e religiões africanas. Foi um espetáculo forte, considerou a professora de Artes e diretora do Colégio Estadual Irene Meirelles, Carine Cadilho.

“Impactante. Para mim ficou bem clara a fusão dos ritmos”, disse o estudante de Engenharia de Produção da FeMass, Heron Franco. O espetáculo tem como base a religiosidade ancestral do Brasil trazida pelos povos africanos. Estudos foram realizados em terreiros de candomblé em Salvador, na Bahia, e em festas populares do Rio de Janeiro, como samba e o funk. A fusão dos movimentos e ritmos entre Brasil e África é uma das marcas da apresentação.

A coreografia também passa pela dor do desligamento do povo de Benin de seu país, lembrado por meio do ritual da “árvore do esquecimento”, trecho da rota dos escravizados para o Brasil, imposto pelos mercadores: Muitas voltas em torno de uma árvore, ouvindo um canto repetitivo e monotônico, tinham como finalidade o apagar das lembranças da terra de origem.

Após um ano de pesquisa, o Corpo Aberto foi apresentado, em 2008, no festival da França; depois apresentado em Macaé, no CiemH2 e no Teatro Municipal, e neste ano se prepara para o Festival de Benim, em 2010. “No Brasil, eu me sinto como se estivesse em Benin”, disse Arnaud, pela terceira vez no Brasil.

Nesta terça-feira (17), às 19h30, o Mestre em Ciências Sociais pela UENF, Paulo Azevedo, que é diretor e coreógrafo do show, com os intérpretes do espetáculo, apresentou ao público, em conferência, o projeto Corpo Aberto. A pesquisa apresentada se encontra na terceira e última fase de criação. O espetáculo conclusivo será realizado no Festival de Benin, na África, em dezembro 2010.

A proposta é tratar das relações entre o Brasil e Benin, país que, no período colonial, teve um dos maiores índices de escravização da população, sendo o Brasil (Porto de São Salvador) um dos principais destinos. Paulo destaca três conceitos como sendo base do espetáculo: religião, festa e antropofagia, com referência a “canibalização” de valores culturais sugerida pelo modernista Oswald de Andrade e explícita em sua coreografia. “Só a antropofagia nos une. O Corpo Aberto fala do devorar de uma cultura e do digerir de outra”, concluiu.

São intérpretes do espetáculo o membro do Balé Nacional de Benin e de família real do país, Arnaud Agboliagbo, a bailarina macaense da Companhia Membros, Fabiana Costa, e o também bailarino de Macaé, Rafael Mata. A força da interpretação dos artistas impressionou o público, que chegava a questionar sobre o que era encenação e o que estava sendo realmente vivenciado.

Palestra com MV Bill será nesta quinta

Um dos fundadores da Central Única de Favelas (CUFA), o rapper MV Bill, é um dos palestrantes convidados para a I Semana da Consciência Negra e Cidadania, na Cidade Universitária, promovida pela Secretaria de Educação de Macaé. O encontro com o cantor de rap nascido na Cidade de Deus, MV Bill, às 19h30 desta quinta-feira (19) fecha a programação da Semana. O letrista, cantor, escritor e documentarista terá como tema "Consciência, Identidade e Cidadania".

A Central Única de Favelas-CUFA, é responsável por várias atividades sócio-educativas realizadas em comunidades cariocas, entre elas a Liga Brasileira de Basquete de Rua. MV Bill, um dos fundadores da CUFA, lançou seu primeiro disco, CDD Mandando Fechado, com letras marcadas pela denúncia social, em 1998. Depois desse, vieram outros sucessos até o lançamento do livro e documentário Falcão - Meninos do Tráfico, com Celso Athayde.

MV Bill também é autor, com Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares, do livro Cabeça de Porco, lançado em 2005. O antropólogo Luis Eduardo Soares já esteve na Cidade Universitária, a convite da Educação, quando participou da III Semana Universitária Integrada, em outubro.

- Sancionada pelo Prefeito Riverton Mussi há quatro anos, a Lei que cria a Semana foi baseada no projeto de minha autoria quando vereadora. A programação passou a integrar oficialmente na educação este ano, por meio da I Semana da Consciência Negra iniciada nesta segunda-feira (16) no auditório da Cidade Universitária. Lá estudantes da rede municipal dos níveis fundamental, médio e superior participam de palestras, seminários, gincanas culturais e musicais. Uma das atrações mais esperadas é o cantor e líder comunitário MV Bill, disse a vice-prefeita e secretária de Educação, Marilena Garcia.