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Fotógrafo encanta platéia com fotos que retratam negros de todo o mundo

23/06/2008 17:54:55 - Jornalista: Gazielle de Marco

“Fotografia e Estética Negra”. Esse foi o tema da palestra realizada pelo fotógrafo Januário Garcia, na sexta-feira, às 18h no auditório da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé (Fafima). A palestra faz parte do planejamento do curso de Pós-Graduação em Estudos Culturais e Históricos da Diáspora e Civilização Africana, que está sendo oferecido pela Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos (FeMASS).

O curso foi estruturado em módulo e a cada um é realizado um ciclo de debates, com palestra de profissionais conceituados, que desenvolvem trabalhos com temáticas relacionadas ao curso.

Segundo o palestrante, é importante perceber que um dos instrumentos de dominação sobre o negro, foi a construção de uma imagem que o mostrasse como inferior, estranho, diferente dos demais. “Não é nada diferente dos dias atuais, quando se constrói pela mídia internacional a imagem dos povos árabes como a de um bando de religiosos fanáticos, portanto irracionais, e de terroristas, portanto perigosos”, comparou, lembrando que, de olho no petróleo e nos interesses geopolíticos de dominação estratégica do Oriente Médio, é mais conveniente fazer vista grossa para toda a sofisticação, a sabedoria, a elevada espiritualidade e a rica diversidade culturais dos povos muçulmanos.

Fotógrafo, militante do movimento negro, ex-presidente do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras, há mais de 40 anos Januário Garcia observa e acompanha a realidade afro-brasileira. Durante todo seu trabalho de pesquisa juntou um acervo de mais de 30 mil fotos que registra a história do negro no Brasil, principalmente nas últimas três décadas. Segundo ele, precisamos a História do Negro no Brasil, trabalhando nas vertentes básicas: Construção da identidade negra, denúncia social e racismo, novos caminhos.

Recentemente, Januário Garcia expôs uma série com tema similar na Assembléia Geral da ONU em Nova York. As 50 fotos que ele apresenta em Brasília são inéditas. . “A história das civilizações, transcorrida sobre a plataforma da dominação de um povo sobre outro, de uma raça sobre outra, é muito elucidativa no que diz respeito às estratégias de criação de imagens distorcidas da realidade para colocá-las a serviço das classes dominantes”, afirma.

- A história do negro tem sido contada a partir de um olhar construído com base numa relação de colonização opressiva. Ao mostrar o negro como ser primitivo, o objetivo é evitar os questionamentos contra o processo de sujeição de seres humanos por outros, mas mais estratégico ainda é apresentar esse outro como inferior, irracional, próximo da esfera animal. Por isso, nossos nativos não tinham alma e os negros tomados como escravos eram comparados como primatas”, lembrou.

Durante a palestra, Januário mostrou algumas de suas fotos tiradas em diversos países diferentes. “No meu arquivo tenho fotos de negros na Argentina, Peru; Colombia, Uruguai, Suriname, França, Estados Unidos, Espanha, Israel, Portugal, Ucrânia e africanos, e percebemos uma grande semelhança entre todos. Não conseguimos identificar quem é de onde. Isso se dá pela cultura, que é a mesma. Somos todos originários na mesma matriz africana”, comentou.

Januário - Fotógrafo formado pela International Camaramen Association, Januário Garcia fez estágio no Studio Gamma sob orientação do fotógrafo George Racz. Já trabalhou para O Globo, Jornal do Brasil, O Dia, A Notícia, A Luta, Tribuna Imprensa, Revista Manchete, entre outras publicações. Em 2004, a UNESCO escolheu o seu trabalho como referência mundial e promoveu em seu prédio, em Nova York, na abertura da Assembléia Geral de 2004, a exposição “O Cotidiano dos Afro-Brasileiros. Em 2006, produziu e fotografou a exposição Diásporas Africanas na América do Sul”, mostrando comunidades negras do Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia, Peru, Suriname e Venezuela.