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Funemac promove curso de pós graduação sobre cultura africana

02/05/2007 10:11:22 - Jornalista: Alexandre Bordalo

Até a próxima sexta-feira (4), estão abertas as inscrições para o curso de pós-graduação em Estudos Culturais e Históricos da Diáspora e Civilização Africana. Os interessados devem ir à Fundação Educacional de Macaé (Funemac), na Rua Teixeira de Gouveia, 634, Centro. O telefone da para maiores informações é 2772-5036, ramal 211.

No sábado (5), haverá Conferência de Abertura, ministrada pelo professor Kabenguele Munanga da Universidade de São Paulo. Ele falará sobre Antropologia e História da Diáspora Africana, no salão de Convenções do Hotel Crystal, às 9h, na Rua Teixeira de Gouveia 1369.

Segundo o coordenador geral da pós, antropólogo e professor Julio César de Souza Tavares, da Universidade Federal Fluminense, o objetivo do curso é fornecer informações e instrumentos teóricos e conceituais sobre a Diáspora Africana – a dispersão pelo mundo desse povo, por motivos políticos ou religiosos.

- Além disso, queremos analisar o processo civilizatório africano para habilitar o profissional de ensino Fundamental e Médio, na percepção e discussão crítica das questões relacionadas à identidade, diversidade, relações raciais e multiculturalismo na sociedade brasileira – explicou Tavares.

Júlio César de Tavares disse ainda que são cinco mil anos de civilização, mas ainda falta maturidade ao ser humano para reconhecer a importância do outro. Somos egocentrados com a cultura civilizatória - destaca Tavares, acrescentando que o curso tem um papel importante que é abrir os olhos do brasileiro para a força de uma civilização na edificação da sua própria cultura, onde a maioria é de origem africana.

- O Brasil tem a maior população africana do mundo fora da África. São 90 milhões de habitantes – lembra o coordenador. Para ele, só esse fato já é o suficiente para fazer renascer nos brasileiros um sentimento de auto-estima e de busca de um passado histórico que foi fundamental para a Europa. “Não podemos virar as costas para um conhecimento como esse”, ressalta.

Tavares conta que o conhecimento africano foi fundamental para a montagem da economia brasileira na pecuária (onde os negros tinham tecnologia superior a dos europeus), na mineração e na metalurgia. O antropólogo espera, através do curso, incutir nos professores e alunos, uma nova mentalidade sobre a força e a potência da civilização africana.

- Nós crescemos envolvidos por estereótipos, preconceitos e acabamos reproduzindo esses estigmas – diz, relatando que os negros foram escravizados não só porque tinham músculos fortes, como apontam alguns livros didáticos. Mas porque detinham uma tecnologia que podia acelerar a colonização de algumas áreas, mantidas por portugueses e espanhóis. É preciso que os professores reconheçam e valorizem a cultura africana que colonizou significativa parte do mundo – explica.

As Bases Africanas

No ano passado, dezenas de alunos assistiram na Funemac aula inaugural da pós sobre o valor da África, por meio da palestra do professor Henrique Cunha Júnior, mestre titular da Universidade Federal do Ceará. Ele disse que para entender profundamente o Brasil como cultura, povo e materialidade é preciso compreender as bases africanas.


Como exemplo o professor citou os ciclos econômicos brasileiros que tiveram origem na África. “O café é uma planta etíope, a cana-de-açúcar é asiática, mas estava adaptada no continente africano, quando foi trazida para ser cultivada no Brasil, e a mineração ocorreu com mão-de-obra de regiões produtoras de ouro da África, que desenvolveu técnicas que ajudaram significativamente os portugueses”, explicou.

- Olhamos para a África como um continente de ignorantes, mas a realidade é diferente. No continente africano surgiram diversos alfabetos. Alguns com mais de quatro mil anos - contou. Ele ainda acrescentou as demonstrações de afro-etno matemática, ligada à teoria de sistema dinâmico, que atualmente é conhecida por matemáticos europeus como teoria do Caos e as teorias defractais.

Segundo o presidente da Funemac, professor Jorge Aziz, é preciso que haja reconhecimento das identidades chamadas minorias como os estrangeiros, os negros e os homossexuais. Todos têm valores para construir a identidade coletiva. “O desenvolvimento de Macaé é constituído de movimentos migratórios nacionais e internacionais que geram uma diversidade cultural muito grande, com conflitos e riquezas”, avaliou, lembrando que a identidade coletiva é o amálgama das culturas adensadas no processo de desenvolvimento.

Já o professor de História, Luiz Elias Sanches, disse que não se pode negar a influência negra no Brasil e que por pressões da sociedade e de movimentos de negros entrou em vigor na Legislação Educacional a Lei nº 10.639/03, tornando obrigatório o ensino de História da África e Cultura Afro-brasileira no currículo escolar. “O objetivo deste curso é por a Lei em prática, dando base a professores de Literatura, de História e de Educação Artística”, ressaltou.

Sanches lembrou que no livro didático o negro é escravo tendo como aspectos positivos o samba e a capoeira, faltando valorizar os conhecimentos técnicos científicos utilizados por eles na época da mineração e na farmacologia e medicina tropical, uma vez que os portugueses não sabiam como lidar com as doenças tropicais.