Foto: Kaná Manhães
Coração de Jorge foi levado para o Rio de helicóptero
A última terça-feira (10) foi um dia histórico para o Hospital Público Municipal de Macaé (HPM). A unidade fez a sua primeira captação de órgãos para transplante, com apoio da Central de Transplantes do estado. Os órgãos foram doados pela família do estudante Jorge Pereira Magaldi Júnior, 21 anos, que teve morte encefálica na noite de segunda-feira. O rapaz foi vítima de acidente de moto em Quissamã, no último domingo.
- A Fundação Municipal Hospital e a Secretaria de Saúde vem cumprindo o seu papel no dia a dia, através de programas de prevenção e cuidado. Mas, quando não é possível salvar vidas, é importante buscar formas de ajudar outras pessoas com a doação de órgãos. O primeiro trabalho de captação de órgãos do HPM foi um sucesso, a equipe toda está de parabéns. A família entendeu o trabalho sério desenvolvido no município e a importância de poder ajudar a melhorar a qualidade de vida de outras pessoas, disse o secretário de Saúde e presidente da Fundação Municipal Hospitalar, Eduardo Cardoso.
Assim que foi constatada a morte encefálica, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante do HPM, implantada em 2006, entrou em contato com a família, que autorizou a doação. “Estamos sofrendo muito com a morte do meu filho, mas estou com o coração tranqüilo porque sei com agora muitas vidas poderão ser salvas com a doação”, disse a mãe de Jorge, Eneth de Souza Oliveira, que acompanhou de perto todo o protocolo pré-captação.
Jorge voltava de moto, do aniversário do sogro, com sua esposa Débora Regina Ferreira, 23 anos, quando sofreu o acidente no trevo de Santa Catarina, em Quissamã. Os dois estavam de capacete, mas o dele caiu, sofrendo traumatismo crânio-encefálico. Ela fraturou o fêmur e não corre risco de morte. O rapaz será sepultado nesta quarta-feira em Carapebus.
Com a autorização da família, imediatamente a equipe do HPM entrou em contato com a Central de Transplantes e foram iniciados os procedimentos para a captação dos órgãos. Nesta terça-feira, por volta das 13h, o helicóptero do Corpo de Bombeiros do Rio pousou no heliponto do HPM com uma equipe de cinco médicos. Assim que o coração foi retirado e preparado para o transporte, dois médicos da equipe voltaram imediatamente para o Rio levando a esperança de vida para um paciente que aguardava no Hospital de Laranjeiras.
Houve grande expectativa tanto por parte da família, quanto para todos do HPM exatamente às 16h40m quando o helicóptero decolou. Os rins e fígado seguiram depois de carro. Uma segunda equipe composta por sete médicos e dois auxiliares que vieram do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) já estavam de prontidão para captação de ossos. Às 19h40m seguiram na van do INTO levando mais esperança para receptores anônimos.
- Foi um dia de muito trabalho para a nossa Comissão de Transplantes, que no final alcançou um resultado positivo. Mais um a vez queremos agradecer à ajuda da família, que autorizou o transplante, apesar de todo o sofrimento pela morte do rapaz. Muitas vidas serão salvas com este gesto de generosidade, disse o diretor superintendente do HPM, Felipe Barreto.
Como é feita a doação
Após avaliação clínica e legal da morte encefálica do doador, a equipe da Central de Transplantes faz abordagem à família para permissão da doação de órgãos. Esta abordagem é realizada de maneira ética, respeitando as crenças e os desejos de cada família, como recomenda o Conselho Federal de Medicina.
Caso a família dê o consentimento para a doação, a equipe da Central de Transplantes entra em contato com as equipes cirúrgicas dos vários tipos de transplante, para o início do procedimento de retirada dos órgãos e tecidos, acompanhamento e assessoramento do ato cirúrgico, e a conseqüente preservação e distribuição de órgãos e tecidos.
Para agilizar a captação de órgãos e tecidos no país, o Ministério da Saúde instaurou a portaria GM 905 de 16/08/2000, que estabelece a obrigatoriedade da existência e efetivo funcionamento da Comissão Intra-hospitalar de Transplantes passa a integrar o rol das exigências para cadastramento de Unidades de Tratamento Intensivo do tipo II e III, e para inclusão de Hospitais no Sistema de Referência Hospitalar em atendimento de Urgências e Emergências nos tipos I, II e III. O objetivo da Comissão é a eficácia e agilidade na detecção do provável doador, bem como o cumprimento dos critérios de morte encefálica e sua manutenção hemodinâmica.
Por lei, toda morte cerebral deve ser comunicada pelo médico à família da vítima e a Central de Transplantes. Basta ligar para os telefones: (0xx21) 2221-4409 / 2299-9945 / 2299-9946 para chamar a equipe de coleta.
* Simone Noronha e Genimarta Oliveira, com Albertina Vilarinho, Relações Públicas do HPM