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Lygia Bojunga: uma história de amor com os livros

04/10/2006 09:40:35 - Jornalista: Simone Noronha

Com muita simpatia e demonstrando um imenso amor pelo que faz, a escritora carioca Lygia Bojunga foi a atração do final da tarde desta terça-feira do Café Literário, que faz parte da programação da Bienal do Livro de Macaé. Mestra da literatura infanto-juvenil, Lygia já publicou 20 livros, traduzidos para 19 idiomas. Quase todos seus livros já foram premiados: ao todo, são 36 prêmios nacionais e internacionais.

Em um bate-papo descontraído, ela falou sobre sua maior paixão: os livros e seus personagens. “Não posso parar nunca de criar personagens, disso eu não abro mão”, diz Lygia. Ela conta que, durante o processo de criação, os personagens parecem ter vida própria. “Eles sentem, sonham. Não consigo vê-los, mas sua presença é muito forte. Mentalmente , converso muito com eles. Às vezes me pego até falando em voz alta”, revela a escritora, para quem personagens como Raquel, do livro “A bolsa amarela”, são como filhos.

Para Lygia, um bom livro pode ser capaz de mudar uma vida. “Tem horas que um livro é melhor do que remédio”, diz a escritora. Ela lembra que o livro que mudou a sua vida foi “Reinações de Narizinho”, que leu aos sete anos, quando se recuperava de um problema de saúde. “A Emília virou a minha melhor amiga. Acho que devo ao Monteiro Lobato o fato de hoje eu ser escritora. Não há internet nem televisão que se compare ao que nossa imaginação é capaz de criar quando lemos um livro”, revela.

Lygia Bojunga também falou da relação,que ela chama de mágica, com os seus leitores. “Num livro, o escritor põe muito de si. Lá ele consegue expressar seus medos, suas angústias, e até suas experiências mais dolorosas. É incrível a gente pensar o livro aproxima de maneira muito próxima o leitor do escritor, duas pessoas que provavelmente nunca vão se encontrar pessoalmente”, lembra.

O amor pelos seus livros e personagens é tanto que Lygia criou uma casa só para eles, com o dinheiro ganho com o prêmio ALMA, dado em 2004 pelo governo da suécia. É a Casa Lygia Bojunga, que segundo ela, surgiu de uma necessidade da autora conhecer e esmiuçar o caminho que seus personagens têm que percorrer até chegar às mãos dos leitores. Com essa trajetória, Lygia quer aprofundar sua relação com o livro – o que vem fazendo de várias maneiras há muitos anos.

A nova Casa - que nasceu com a discrição que caracteriza a sua criadora - não tem a intenção de publicar outros autores; foi criada para abrigar, unicamente, os personagens de Lygia, no município de Pedro do Rio. Durante o Café Literário, Lygia contou que estava em uma semana difícil: a casa, com uma biblioteca, foi saqueada e incendiada no último final de semana. “Mas eu sou teimosa. Não vou deixar que isso acabe com meu projeto”, diz a escritora.