Na rua contra o preconceito: Caps promove evento Intervenções Urbanas

29/10/2012 09:48:00 - Jornalista: Monica Torres

Foto: Arquivo

Ocupar os espaços públicos para discutir e combater o estigma da loucura. É o que propõe o projeto Intervenções Urbanas, promovido pelo Centro de Atenção Psicossocial Betinho, nesta terça-feira (30), na Praça Veríssimo de Melo, a partir das 10h. Antes, às 8:30h, todos estão convidados para participar de um café da manhã na sede Caps.

Profissionais, usuários e familiares estarão juntos em um evento alegre, poético, musical, contando com teatro e danças, que tem por objetivo o convívio e a reunião das diversas experiências produzidas no interior dos dispositivos de saúde mental da cidade, como esclarece um dos coordenadores do Caps Betinho, o terapeuta ocupacional, Júlio César da Silva.

- Através dos espaços de produção artísticas do Caps, tais como cirandas, danças circulares, blocos de carnaval, o teatro do oprimido, danças folclóricas, o jornal a Voz do CAPS, levamos para a rua - espaços públicos do território - o debate de com a sociedade vê e lida com o tema de saúde mental.

A proposta, como acrescenta a assistente social e também coordenadora do Caps Betinho, Renata Freire, é sempre levar momentos de desconstrução do estigma da loucura, tratando da proximidade entre a arte e a loucura e possibilitar um olhar não preconceituoso ao usuário de saúde mental.

- O que chamamos de reforma psiquiátrica como política pública de saúde, vem ao encontro de inserir a loucura e questões relacionadas ao uso problemático de álcool e outras drogas na ordem do debate da cidade, incluindo-os nos espaços de convivência.

Completando de forma esclarecedora o que diz a assistente social, Renata Freire, o usuário dos serviços do Caps Betinho, e diretor da Associação de Parentes, Amigos e Usuários da Saúde Mental de Macaé (Aspas), Edilson Rodrigues: “Tudo o que se quer é o apoio de nossos familiares e da sociedade ao tratamento. Pois como qualquer doença, como um cardíaco, por exemplo, podemos nos tratar, com o profissional de saúde, mas também com o apoio de amigos e familiares. Isto é fundamental”, conclama.

Formada em 2006 por trabalhadores, familiares e usuários, a Aspas, uma parceira do evento Intervenções Urbanas, também promove encontros, oficinas, participa de conselhos municipais, entre outros espaços de debates com a meta da inclusão social dos usuários portadores de transtornos mentais e desconstrução do estigma da loucura.

Uma nova composição de olhares e fazeres

O projeto “Território de encontros e produção de diferenças - Intervenções urbanas” faz parte de uma premiação recebida pelo Caps Betinho, do Ministério da Saúde, em 2009, e desde então os dispositivos de saúde mental do município têm promovido eventos em espaços públicos da cidade, como as praças, no caminho da cidadania e das praticas e dos olhares mais humanizados para estas realidades.

A rede de atenção psicossocial do município de Macaé é composta, atualmente, por nove núcleos de saúde mental: Caps Betinho, Caps infantil Oficina da Vida, Caps ad Porto, Núcleo de Saúde Mental, Saúde Mental atuando na Atenção Básica, Emergência Psiquiátrica do Pronto Socorro Aeroporto, Equipes da Comissão de Apoio a Desinstitucionalização (CAD), Área Técnica de Combate ao Tabagismo e Espaços de Convivência, diversidade, cultura e geração de renda (Heterogenese Urbana).

A Comissão de Apoio à Desinstitucionalização (CAD) é responsável pela residência terapêutica, que se encontra em fase de implantação no município. Esta equipe, atualmente, realiza o acompanhamento semanal, nos hospitais psiquiátricos de usuários longamente internados, articulando o regresso destes para a casa da Residência Terapêutica.

A realidade da saúde mental no país

Segundo pesquisa recente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), 17 milhões de pessoas, ou 9% da população brasileira, sofrem de transtorno mental grave. Os mais acometidos por essas doenças são os indivíduos de classe social baixa, pouca escolaridade e moradores das periferias das cidades. E ainda: 12,6% dos brasileiros entre seis e 17 anos já apresentam sintomas de transtornos mentais importantes. Isso equivale a dizer que cerca de cinco milhões de crianças e adolescentes sofrem de algum distúrbio psicológico. Deste total, aproximadamente três milhões têm sinais de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o transtorno psicológico mais frequente na garotada.

Já a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que os distúrbios do humor afetem cerca de 20% da população mundial e a cada ano são registrados dois milhões de novos casos. Em 2020, a depressão será o principal transtorno mental a atingir moradores dos países em desenvolvimento, como o Brasil.


Contatos:
Júlio César (coordenador Caps-Betinho): 9971.9824 – 21.9802.5892
Carlos Henrique (usuário e diretor da Aspas – Associação de pais e amigos): 9889.8469
Caps Betinho: 2772.5005