logo

Núcleo de Estudos em Políticas Públicas na Perspectiva do Gênero avalia resultados

05/10/2009 11:37:33 - Jornalista: Andréa Lisboa

Com o objetivo de contribuir para formulação de políticas públicas relativas ao gênero, o Núcleo de Estudos em Políticas Públicas na Perspectiva do Gênero, vinculado Fundação Educacional de Macaé (Funemac) inicia, nesta semana, a avaliação de sua proposta de trabalho. Os estudos realizados pelo núcleo são feitos de forma não tradicional, mas através de diálogos com o público de gestores, em uma construção coletiva.

- Precisamos gerar certo incômodo no particular de cada um. Esse incômodo é o primeiro passo para uma realidade mais cidadã a partir desses encontros, considera o superintendente Acadêmico da Funemac e um dos organizadores dos eventos, Meynardo Rocha.

A proposta da Secretaria de Educação, por meio do núcleo é a formação de gestores nesse tema, a fim de provocar desconstruções de preconceitos, contribuindo para uma sociedade mais igualitária.

Na sexta-feira (2), na Cidade Universitária, aconteceu o segundo e último Seminário Diversos Olhares Sobre o Gênero deste ano. O tema do encontro foi Gênero, Poder e Cidadania. Em 25 de setembro, o núcleo promoveu o primeiro seminário, com o tema Gênero e Sexualidade.

Para o seminário da última sexta-feira, foi convidada a cientista política e professora da Uerj, Maria Emília Prado. Atuaram como debatedoras a vice-prefeita e secretária de Educação, Marilena Garcia, a prefeita de Conceição de Macabu, Lídia Mercedes Velloso (Tedi), e a coordenadora do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas na Perspectiva do Gênero, Ana Maria Batista,

Maria Emília, que é pós-doutora pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, IUPERJ-Tec, e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) explanou sobre as mudanças do papel das mulheres desde as sociedades primitivas à atualidade.

No Brasil, apenas a partir das décadas de 1970 e 1980 as mulheres ingressaram no processo de equidade entre os gêneros. Entretanto, a pesquisadora ressaltou que para pertencer ao universo masculino as mulheres acabam adotando parâmetros masculinizados. Ela considera o momento atual como aquele de resgate dos arquétipos femininos das sociedades primitivas. “São eles o tempo ligado ao respeito aos ciclos da natureza”, explicou.

- As questões ambientais sempre tiveram haver coma as questões das mulheres, concordou Marilena Garcia, que salientou ainda a desvalorização de profissões eminentemente femininas nas sociedades machistas.

Tedi ressaltou a exclusão das mulheres nas conjunturas políticas e defendeu a paridade, cota de 50% de representatividade político-partidária, e mudanças em leis e políticas de gênero. “Não podemos pensar pequeno em relação as nossas conquistas na sociedade. Nós mesmas nos descriminamos”, disse.

O resgate da identidade feminina, oculta pelas imposições ideológicas, também teve ênfase no discurso da coordenadora Ana Maria Batista. O Núcleo de Estudos em Políticas Públicas na Perspectiva do Gênero foi criado em maio deste ano e inaugurado em agosto no aniversário da Lei Maria da Penha de coibição e prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher. O evento contou com a presença da ministra chefe da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e presidente do Conselho Nacional de Direitos da Mulher, Nilcéia Freire.

Mulher e sociedade

Segundo a pesquisadora Maria Emília, nas sociedades primitivas e politeístas, as mulheres tinham lugar de destaque. A comunidade, ligada à natureza, valorizava os saberes femininos. Com a criação das primeiras religiões monoteístas, o judaísmo no ocidente e os Vedas no oriente, a mulher passou a ser submetida à autoridade do homem. Maria Emília considera essa inversão bastante significativa para a compreensão das relações entre os gêneros.

Mais tarde, apesar do discurso igualitário do cristianismo primitivo, sua interpretação pelos doutores da Igreja Católica reforçada pelo entendimento do filósofo grego Aristóteles de que a mulher seria a matéria e o homem o espírito, o modelo de sociedade machista prevalece ao logo da Idade Média. Um conjunto de religiões ocidentais e orientais referendou essa ideologia.

Somente a partir do século XVI e XVII, a mulher começa a conquistar novo papel no mundo antigo, com discrepâncias em relação às classes sociais. Com a Revolução Industrial do século XVIII e a Revolução Francesa, a mulher alcança seu espaço no mundo do trabalho, principalmente porque a Europa elege a educação como um dos pilares da sociedade.