logo

O traçado e as cores da arte contemporânea

03/03/2006 18:00:01 - Jornalista: Janira Braga

Formas emolduradas por linhas que desnudam desenhos. Traçados precisos. Fluxo de consciência. Cores, muitas cores. Vida. Desprendimento de técnicas. Com a mistura dessas características, o artista plástico Rui Jorge Araújo Machado, o Jojó, apresenta na exposição “Trajetória”, na Galeria de Artes Hindemburgo Olive, a partir de quarta-feira (8), a estética da arte contemporânea empregada em obras feitas de 1982 a 2006. A realização é da Fundação Macaé de Cultura, em conjunto com a galeria.

Cerca de 40 obras serão expostas e divididas em dois espaços na galeria: 25 fixadas na parede e 15 presas em uma mesa. O papel-cartão, na maioria das obras que constarão na “Trajetória”, é a matéria-prima do artista, que vai expor ainda uma tela e outras obras em madeira. Jojó explica que suas obras são desenhadas com lápis, coloridas com pincel e tinta a óleo, alternando com tinta guache.

- Arte para mim é criação. Eu sinto a arte e sei que mostro algo que assimilei do exterior, houve um processamento e foi transformado em símbolos. Meus trabalhos mostram o interior – conta o artista, com a experiência de quem desenha, pinta e vive as artes plásticas desde a década de 70.

Por estar tão ligado às suas obras e externar a sua linguagem interior para as telas – e papéis -, Jojó afirma que não premedita os desenhos, apenas deixa fluir. “Muitas pessoas têm técnicas para fazer seus trabalhos, no meu caso, sinto e o trabalho acontece, sem que eu tenha domínio do desenho”, ressalta o artista, denotando o fluxo de consciência – muito presente nas manifestações culturais modernistas – presente em sua obra.

Com currículo de exposições individuais e outras coletivas, realizadas no Centro de Convenções Jornalista Roberto Marinho, no Salão Municipal Maria José Guedes e em diversos outros espaços culturais, o artista plástico fará algo inusitado na exposição: uma demonstração do seu processo de criação. Jojó explica que vai mostrar uma obra iniciada, com os traçados prontos e parcialmente colorida, para os visitantes perceberem como é o processo de desenho, posteriormente de pintura e por fim, os detalhes. “Meu trabalho consiste em basicamente essas duas fases: o desenho e a pintura e isso vou mostrar para as pessoas verem como é elaborado”, comenta.

A obra espontânea de Jojó, com desenhos não planejados, resulta em algumas obras que beiram a influências surrealistas. Mas para o artista, não importa a denominação, o que ele quer é dar oportunidade de mostrar o seu trabalho para as pessoas, que inclui também obras abstratas. “O objetivo é mostrar a trajetória do trabalho nas últimas décadas”, diz. Figuras pequenas, traçados que formatam desenhos, que puxam outros pequenos desenhos, para em seguida serem coloridos, fazem parte da obra de Jojó, que normalmente cria suas obras após o seu trabalho cotidiano, de técnico contábil, como acontece na maioria dos casos de artistas plásticos brasileiros.

- Precisamos de mais apoio no Brasil para pessoas que venham produzir, ver e viver a arte – opina o artista, cujo tempo que investe para fazer uma obra é relativo. A exposição “Trajetória”, de acordo com Jojó, encerra uma fase de sua obra. “Agora vou pintar mais em tela”, sentencia o artista, que admira os artistas Picasso, Miró e Kandinsky, entre outros.

Para incrementar o espaço dedicado às artes plásticas no município, a Fundação Macaé de Cultura (FMC) está reequipando a Galeria de Artes Hindemburgo Olive. “Vamos inaugurar as novas instalações da galeria para a exposição de Jojó”, afirma a presidente da FMC, Ivana Mussi, explicando que o espaço passou por novo tratamento de climatização, iluminação, reforma das paredes e piso. “Também teremos uma sala própria no segundo andar da FMC para guardar o acervo de artes plásticas”, afirma.

Museu de Arte Contemporânea é meta da Fundação de Cultura

Imagine um único lugar que reúna influências surrealistas, dadaístas, modernistas, barrocas e até cubistas em obras contemporâneas. Pense em um espaço para intelectuais, artistas e estudiosos discutirem a influência da cultura pós-moderna – e suas derivações líquidas - nas artes plásticas. Idealize um local em que a arte, por si só, reina, absoluta, mesmo não se tratando do conceito de “A arte pela arte” pregado pelos arcadistas. Visualizou? A Fundação Macaé de Cultura também, ao lançar a idéia de construção, em Macaé, de um Museu de Arte Contemporânea.

- Estamos desenvolvendo atividades de incentivo para fortalecer a associação dos artistas plásticos de Macaé, vamos criar outros espaços para exposição de artes plásticas até chegar à construção do Museu de Arte Contemporânea – ressalta Ivana Mussi. O artista plástico Jojó certamente terá sua obra exposta no futuro museu, assim como os artistas plásticos que lutam, a cada dia, para viver da arte em um país lotado de pseudo-fenômenos que pouco contribuem para a alta cultura.

Serviço

A exposição “Trajetória”, do artista plástico Jojó, pode ser visitada de 8 a 29 de março na Galeria de Artes, situada no Centro Macaé de Cultura, na Avenida Rui Barbosa, 780, Centro, em Macaé. A Fundação Macaé de Cultura é uma autarquia da prefeitura.