A trajetória musical brasileira; a relação da música com a política; os movimentos mais expressivos dessa manifestação cultural, como o Tropicalismo, a Bossa nova e a MPB foram abordados pelo jornalista, escritor e compositor Nelson Motta em palestra realizada, na noite de quarta-feira, no Teatro Municipal de Macaé. Ele comentou sobre épocas vividas, momentos políticos, parcerias musicais, entre outros temas que encantaram e entreteram um público formado por fãs, estudantes, jornalistas e artistas. O evento fez parte do projeto Tim Grandes Escritores, que realiza sua terceira edição na cidade.
A época da Bossa Nova, e também da sua adolescência, foi abordada por Motta sob um olhar de um jovem fã que acabou fazendo parte do movimento que durou tão pouco, de 1958 até 1962, mas foi muito explorado por todas as áreas da sociedade. Tendo músicos como Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto. “Tudo nessa época era Bossa Nova até bancada de partido, como o da União Democrática Nacional (UDN). Foi um movimento que antecedeu a MPB pela necessidade que os artistas tinham de fazer músicas com letras de protesto. A Bossa foi a trilha sonora do começo da ditadura militar”, completou Motta.
O jornalista falou dos anos 60 e 70, quando a MPB começou, os festivais viraram febre nacional e sobre o tropicalismo. “Aí, que surgiu Nara Leão e o Teatro de Arena. Na MPB, artistas como Jackson do Pandeiro e Luis do Vale conseguiram seu espaço. Era ainda um estilo musical sem nome definido, mas que juntava novos talentos, quando surgiu Elis Regina cantando música de Vinicius de Moraes, mostrando que podia cantar alto, forte, de maneira intimista ao contrário da Bossa Nova que era uma música mais suave. Depois do golpe militar de 64 surgiu a Jovem Guarda, com Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléa”, lembrou o jornalista.
Nelson ainda falou sobre a época mais musical de todas. “Naquele tempo os sucessos eram os festivais, não tinham as novelas ainda. A emissora que apresentava programas musicais como o Fino da Bossa às segundas, o sucesso da Jovem Guarda aos domingos. Então, como eles já detinham os direitos exclusivos dos músicos fizeram o festival, com muitas inscrições. Ali, a platéia lutava pela música que queria eleger, já que não tinham liberdade. No último festival havia um contraste entre a música de Geraldo Vandré, politizada e contra a ditadura, entitulada ‘Para não dizer que não falei de flores’; e a marchinha lenta de Chico Buarque “A Banda”. O auditório estava divido e o diretor do festival ficou com tanto medo de apanhar que acabou dando empate e o prêmio para os dois. “, disse.
Motta falou também sobre o tropicalismo, movimento nomeado por ele. Do surgimento de Caetano Veloso com um trio de rock argentino, vestidos de terno rosa choque. “Quando eles entraram o público urrava, uma vaia monumental. Quando abriu com aqueles três acordes de ‘Alegria, Alegria’ ele mudou o rumo da história da música e o público começou a aplaudir”, relembrou o compositor.
Nelson Motta citou também o surgimento dos hippies; de Tim Maia, Gilberto Gil, Rita Lee e Roberto de Carvalho. Falou dos anos 80, da inauguração da primeira discoteca no Brasil, da qual ele era dono, chamada Dancing Days, de onde surgiu o grupo “As frenéticas”. Comentou momentos políticos, surgimento de estilos musicais como a lambada, o axé e o sertanejo.
Quem assistiu à palestra recebeu uma verdadeira aula sobre três coisas que andam juntas: a música, a leitura e a política. Motta fez a platéia rir, falou dos seus livros, letras de música, respondeu a perguntas variadas, como a do ator Joel Barcelos, que participou do Teatro de Arena.
Abertura
Compondo a mesa da cerimônia de abertura junto com Motta estavam o idealizador do projeto, Marcelo Andrade; a representante da TIM no Rio de Janeiro e Espírito Santo, Ana Paula Nunes; a presidente da Fundação Macaé de Cultura, Conceição de Maria; e o representante do poder Legislativo, vereador Maxwell Vaz.
- A visita do Nelson Motta faz recobrar duas vertentes, a música e a leitura. Durante uma conversa com Ricardo Meirelles, secretário de acervo e patrimônio histórico, falávamos do quanto a cidade é musical, tanto que temos o Conservatório de Música na Fundação. Quando o escritor escreve e outra pessoa já lê, o livro não se torna mais dele. Macaé tem essas duas vertentes, a Biblioteca Dr. Télio Barreto está sempre cheia, e estamos resgatando e revitalizando a leitura no município – disse a presidente durante a abertura.