Foto: Kaná Manhães
Tenda do "Todos Contra a Pedofilia" no calçadão da Av Rui Barbosa
Durante toda esta terça-feira (18) a Secretaria Municipal de Assistência Social, em parceria com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), realizou campanha contra a pedofilia no calçadão da Avenida Rui Barbosa. O dia 18 de maio é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
A proposta da secretaria é “Quebre o ciclo de silêncio. Não se cale diante de um crime. Denuncie!” O evento chamou a atenção das pessoas para a importância da proteção às crianças e adolescentes e de como proceder para denunciar. Em Macaé, o trabalho em conjunto vem mobilizando as comunidades e famílias para a denúncia e prevenção do crime, cujos agressores, em geral, estão dentro de casa (parentes) ou próximo à casa da vítima (amigos familiares, vizinhos).
A coordenadora da Subsecretaria Municipal da Infância e Juventude (Sinjuv), Cíntia Carla, lembra que a prevenção é o melhor remédio no caso da pedofilia: “É fundamental proporcionar confiança e conhecimento para que as pessoas identifiquem e denunciem o agressor”.
Participar e denunciar
Hoje, a Pedofilia é considerada um distúrbio de conduta sexual e precisa ser tratada por especialistas. Como informa a coordenadora do Creas, Fernanda Moreira, muitas mulheres não denunciam o agressor que está dentro de sua própria casa, pois ele por muitas vezes é quem sustenta a família. “É uma situação muito delicada”, lamenta.
A psicóloga Fernanda ainda diz que o melhor caminho de denúncia é ir ao conselho tutelar, que têm profissionais especializados para lidar com os casos. Outra ajuda são os Disk Denúncia. O 100, número telefônico nacional para atender quem quiser mais informações sobre o tema e o (21) 2253-1177, telefone estadual com o mesmo fim.
- Não devemos esperar o pior acontecer para recorrer aos serviços. É melhor prevenir, pois o trauma que toda uma família enfrenta diante da agressão pode ser levado por toda a vida.
Já Cíntia Carla, da Sinjuv, lembra de como é importante o trabalho que a subsecretaria tem feito nas escolas e onde é convidada para tratar do tema: “Só as pessoas colocarem um adesivo no carro, vestir a camisa da campanha já contribui para inibir o abuso sexual”, acredita.
A Lei 8069/1990 trata da proteção integral da criança e do adolescente. Para elas, é um grande avanço. Mas as profissionais também afirmam a necessidade de aprimoramento das leis, dizendo que foi fundamental o aumento da pena de oito para até 30 anos de prisão nos casos de pedofilia. Mas ainda afirmam que só com a sociedade organizada é que as leis saem do papel: “É fundamental que a comunidade se incomode e se indigne com a situação da pedofilia e participe mobilizada contra”, esclarece a secretária de Assistência Social, Bárbara Monteiro.
A secretária informou ainda que foram registrados 84 casos de violência, exploração sexual e abuso contra crianças e adolescentes no município em 2009 e, este ano, de janeiro até agora, já houve uma média de 60 registros acompanhados pelo Creas. Segundo ainda Bárbara, a incidência maior é na faixa etária de três a 10 anos, mas os casos acontecem de zero a 17 anos incompletos. Ela explicou que os números englobam também a negligência e atos, não só físicos, mas também morais e psicológicos e estão aumentando porque as pessoas estão perdendo o medo de denunciar.
Bárbara Monteiro frisou que a Assistência Social trabalha com o fortalecimento da família e o serviço no Creas oferece procedimentos especializados, com equipe multidisciplinar de atendimento não só à criança e adolescente vitimados, mas também aos seus familiares e até ao agressor ou suposto agressor.
Na próxima quinta-feira (20), a Assistência Social promove uma caminhada da Praça Washington Luiz até a Praça Veríssimo de Melo, Todos Contra a Pedofilia.
Psiquiatra diz que pedofilia é doença
Pedofilia é doença e se manifesta, em 98% dos casos, em homens com mais de 25 anos. Quem afirma é Christian Gauderer, psiquiatra que há 22 anos atende crianças e adolescentes. De acordo com o médico, a patologia se explica pelo medo que o indivíduo tem de se relacionar sexualmente com outro adulto.
Gauderer conta que não há como identificar um pedófilo, antes que a patologia se faça presente. Também não há distinção de classe social. ‘‘A doença não incide mais em gente rica ou pobre. Não tem como identificar o pedófilo usando esse critério’’, informa o psiquiatra. Geralmente, são pessoas reconhecidas como acima de qualquer suspeita. ‘‘E é justamente aí que mora o perigo, porque é coisa muito comum pessoas fazerem falsas alegações’’, observa. O especialista acrescenta que nesses casos não há sintomas físicos e que somente pode-se chegar a algum diagnóstico, apenas, se for analisada a história de vida do indivíduo.
Lauro Monteiro, presidente da Associação Brasileira de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia), organização não-governamental que atua há 11 anos no combate à violência sexual, manifesta a mesma opinião de Gauderer. Para ele, o adulto que pratica a pedofilia pode ter sido uma criança vítima de abuso sexual. ‘‘Na hora de se fazer um diagnóstico de pedofilia, deve-se considerar, e muito, o meio social no qual aquele indivíduo cresceu’’, afirma o presidente da organização. A Abrapia recebeu, nos anos de 1997 a 1999, 1.400 denúncias de exploração sexual, sendo que 35 delas faziam referências a pornografia veiculada pela Internet.