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Pesquisa sísmica: pescadores reivindicam medidas compensatórias

03/06/2009 10:29:04 - Jornalista: Alexandre Bordalo

Foto: Divulgação

Navios voltam a fazer pesquisas na região em agosto

Cinqüenta pescadores, representantes da Colônia de Pescadores Z3 e da Associação Mista dos Pescadores, ambas de Macaé, voltaram a se reunir esta semana para discutir sobre o pagamento de medidas compensatórias por conta dos prejuízos causados pelas pesquisas sísmicas para a exploração de petróleo. O subsecretário de Pesca, José Carlos Bento da Silva, participou da reunião, representando a secretaria de Desenvolvimento Econômico da prefeitura.

Segundo o administrador financeiro e coordenador da Associação Mista de Pescadores de Macaé, Celso Cardoso, está sendo feita movimentação com a para conscientizar os pescadores sobre os danos provocados pela pesquisa sísmica. A partir de agosto, muitos pescadores serão impedidos de trabalhar por que durante 60 dias em algumas áreas a pesca deverá ser proibida para que as empresas offshore promovam a pesquisa sísmica.

- Sabemos e temos consciência da importância das pesquisas sísmicas para o país, não somos contra o progresso. No entanto, é justo que sejamos compensados, a fim de que cada pescador receba uma indenização pelo tempo de trabalho perdido. Em nossa reunião, foi sugerido que as ações compensatórias sejam veiculadas às instituições de pesca como a Colônia e a Associação Mista, que posteriormente repassarão os valores aos pescadores, pontua Celso.

De acordo com o pescador Geilton Ribeiro da Silva, de 52 anos, há nove anos a pesquisa sísmica tem ocorrido no litoral macaense, provocando conseqüentemente o afastamento de espécies como peruá, cação, corvina e outras. “Para buscar que prejuízos sejam evitados, somos obrigados a utilizar motores mais potentes, a fim de pescar numa distância maior, de forma a pescarmos outros tipos de peixes, como cavala e atum e outros”, conta Geilton.

Já o pescador Adriano Nunes Cardoso, de 36 anos, disse que é necessário uma indenização aos pescadores. Ele acorda diariamente às três horas da madrugada para pescar. “Anteriormente, tínhamos hora certa para retornar uma vez que havia peixe suficiente. Mas hoje a quantidade de peixe diminuiu, o que nos obriga a ficarmos mais tempo no mar, onde pescamos pescadinha, cação, goete, além de camarão”, comenta ele.

A união da classe pesqueira macaense, cidade onde há cerca de cinco mil pessoas vinculadas ao setor da pesca, é, segundo o pescador Sergio dos Santos Pinto Junior, de 29 anos, muito importante para o benefício dos pescadores.

- Há seis anos, levávamos três dias para pescar duas toneladas de peixe. Atualmente, trabalhamos seis dias para conseguir apenas 800 quilos, justifica. Ele acrescenta ainda que nos bons tempos era necessário colocar apenas 50 redes para realizar tal trabalho, mas hoje em dia 150 redes são dispostas, entretanto com menos produção.

Os pescadores das regiões Norte Fluminense e dos Lagos querem ser ressarcidos com indenizações e compensações das empresas que exploram petróleo, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Ministério da Marinha, devido aos prejuízos que a classe pesqueira vem sofrendo por causa das pesquisas sísmicas.

Apoio

Desde fevereiro, a secretaria de Desenvolvimento Econômico da prefeitura de Macaé tem participado de reuniões em cidades da Região Norte Fluminense para oferecer apoio aos pescadores, no referente a questão da pesquisa sísmica. Também estão sendo mobilizados pescadores de Campos, Arraial do Cabo, São Fidélis, São João da Barra, Carapebus, São Francisco de Itabapoana, além das localidades de Atafona e Farol de São Tomé.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Macaé, Cliton da Silva Santos, comentou que sua pasta está atuando no sentido de unir a classe pesqueira por intermédio de apoio, participação nas discussões e auxílio de consultoria.

- Os pescadores, em função de diversas reuniões, têm tido avanço no que diz respeito à união para enfrentar desafios, como a contrapartida da pesquisa sísmica, a luta pelo seguro-desemprego referente ao defeso, e a contrapartida da Petrobras no passivo que ela tem com a classe pesqueira, pontua ele.

O subsecretário de Pesca de Macaé, José Carlos Bento da Silva lembrou também que só em Macaé há com aproximadamente 400 embarcações pesqueiras. “Espero um resultado onde ocorra justiça para os pescadores e suas famílias”, pontuou.

- Recebi o informe da Petrobras no final de janeiro dizendo que pesquisas sísmicas seriam realizadas no litoral onde trabalhamos como pescadores e, com apoio da secretaria de Desenvolvimento Econômico, começamos esta luta, promovendo diversas reuniões, nas quais buscamos conscientização da classe pesqueira e sua devida compensação, ressaltou.

Pesquisa Sísmica

A pesquisa sísmica é realizada no fundo do oceano para descobrir a presença de petróleo e gás. Seis cabos vão ao fundo do mar, emitindo ondas sonoras para as diversas camadas do subsolo. Elas atingem até sete mil metros abaixo da terra, sob as águas. A cada camada do subsolo, a onda retorna ao navio sísmico para efetuação da leitura.

Devido a esta pesquisa, diversas espécies de peixes diminuíram significativamente no litoral fluminense. Essa pesquisa também influencia o Meio Ambiente, uma vez que a rota migratória de golfinhos e baleias é alterada. O itinerário para desova das tartarugas também é modificado.

As pesquisas sísmicas tiveram início em meados da década de 90, ocasionando prejuízos ao Meio Ambiente, ao setor sócio-econômico e às comunidades que vivem da pesca. São várias as empresas que fazem a pesquisa.