Foto: Kaná Manhães
A paleografia é uma ciência que também tem sido fundamental para a realização deste trabalho
As historiadoras Conceição Franco e Gisele Muniz, da subsecretaria municipal de Acervo e Patrimônio Histórico (Semaph), contam sobre o fato de que estudos demográficos realizados pelos pesquisadores da Semaph, em parceria com o Laboratório de Documentação Histórica da Universidade Salgado de Oliveira, trazem novas possibilidades para o conhecimento da escravidão em Macaé
Segundo a historiadora Conceição Franco, a Semaph, desde o ano de 2006 vem realizando, junto com esta universidade, trabalho de organização do seu acervo digital em fundos, segundo a documentação fotografada, transcrita e bancos de dados elaborados.
- Para isso, contamos com o auxílio de profissionais que foram preparados para esse trabalho. Tal atividade faz parte do projeto “Macaé em Fontes Primárias”, que se insere numa proposta de pesquisa que se propõe à digitalização dos acervos, ordená-los em fotografia e construir bancos de dados, incrementando a produção de conhecimento na área das ciências sociais –comenta ela.
A historiadora acrescenta que também são desenvolvidos trabalhos por sua equipe para divulgar e incentivar a pesquisa em história local e regional, além da catalogação das fontes primárias existentes em acervos que se encontram sob a guarda de diferentes instituições localizadas no município ou em arquivos existentes em outros municípios que referendem interesse da história macaense.
A tarefa de alimentação do banco de dados está sendo realizada com as informações extraídas dos registros paroquiais de óbitos pelos pesquisadores da Semaph Bruno Rodrigues e Alice Tavares. Estagiários da Universo (Niterói) também estudam e traduzem os assentos paroquiais de batismo e matrimônio.
Conceição diz ainda que o trabalho de apontamentos sobre a Freguesia de Nossa Senhora das Neves e de dados demográficos da documentação eclesiástica existente em Macaé e municípios vizinhos vêm contribuindo e muito para o estudo da escravidão na região.
- De acordo com dados extraídos dos assentos de óbitos desta freguesia, foi possível comprovar, por meio de um manuscrito, a existência do quilombo que ficou conhecido na região com o nome de Carukango e fica situado na Serra do Deitado entre Macaé e os atuais municípios de Conceição de Macabu e Trajano de Morais – afirma. - Por intermédio deste trabalho foi possível verificar, além de pistas que trazem a possibilidade de analisar o viver escravo e a violenta escravidão macaense (dentre outras características do cativeiro na região), a data da extinção do referido Quilombo.
Paleografia
A paleografia é uma ciência que também tem sido fundamental para a realização deste trabalho. A Semaph tem promovido o aprendizado e o treinamento dos seus pesquisadores investindo em cursos para habilitar as pessoas envolvidas neste projeto. “Bruno e Alice são exemplos da preocupação dessa subsecretaria com relação à qualificação do seu quadro de funcionários”, pontua Conceição.
Ela lembra que para compreender e decifrar documentos e livros antigos escritos manualmente é necessário conhecimento em paleografia, que é o estudo desses textos. E essa é a tarefa de Bruno de Azevedo e Alice Tavares. “Esse trabalho é fundamental para alimentar esse banco de dados. Só no livro de registros de óbitos da freguesia de Nossa Senhora das Neves e Santa Rita do Sertão do Rio Macaé, pertencentes ao final do século XVIII e início de XIX, anos de 1798 a 1809, contam aproximadamente 300 óbitos, a maioria de escravos, mas também de brancos, livres e forros”, salienta.
O pesquisador Bruno Rodrigues enfatiza que a paleografia é essencial para dar suporte também a outros projetos desta subsecretaria de Acervo e Patrimônio Histórico, seja a Visita Guiada ou aos projetos Professor Investigador e A Escola Bebe Nas Fontes.
“Todo documento antigo tem uma escrita de difícil leitura, mas a paleografia transcreve, revela, clarifica a absorção dos conhecimentos, facilitando a vida dos historiadores de modo fundamental. A paleografia caminha lado a lado com o historiador, sendo uma ciência, uma arte, uma prática que dá sentido e utilidade a esse profissional”, completa Bruno.