Plano Diretor visita captações de água e estações de tratamento de esgoto em Macaé

17/03/2006 17:11:02 - Jornalista: Catarina Brust

Durante dois dias, o grupo de estudos da Câmara Temática de Saneamento Ambiental, que vai apresentar propostas para o Plano Diretor, visitou pontos de abastecimento de água e de tratamento de esgoto para produzir um diagnóstico preciso da atual situação em Macaé.

Nesta quarta e quinta-feira (15 e 16) técnicos das áreas de saneamento, planejamento, obras e meio ambiente, orientados pelo engenheiro Danilo Maltez, que coordena a câmara de saneamento, fizeram uma varredura no município, percorrendo a foz do Rio Macaé e seus afluentes, estações de tratamento de esgoto e locais de captação de água.

No primeiro dia, o grupo começou o roteiro pela Igreja de Sant’Anna, onde se tem uma visão geral da cidade, do rio Macaé, das áreas de manguezais que ainda resistem às invasões, o canal Macaé/Campos, etc. Diante desse panorama, o grupo pôde acompanhar a degradação da bacia hidrográfica do rio Macaé.

A região da bacia do Rio Macaé é composta por uma variedade de ambientes onde se incluem as praias, restingas, estuário, manguezais, lagoas e colinas costeiras e serras e tornou-se uma área de estudo potencial, em função das modificações que a paisagem vem sofrendo em decorrência da expansão urbana acelerada nas últimas décadas.

O processo de crescimento urbano modificou a paisagem costeira de Macaé, com perda de áreas significativas de restingas, descaracterizadas pela especulação imobiliária. Os terrenos mais desvalorizados como as áreas de manguezais e os terrenos inundáveis estão sendo ocupados pela população de baixa renda. “A Ilha Colônia Leocádia é uma ilha artificial criada a partir da dragagem do rio Macaé, e que foi ocupada por invasões. Em 99 existiam 40 famílias, hoje são mais de duas mil”, explicou Paulo Sérgio Barcellos, da secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma).

O grupo visitou as localidades das Malvinas, Nova Holanda, Nova Esperança e a Ilha Colônia Leocádia, invasões localizadas às margens do rio Macaé e do Canal Macaé/Campos. Nesses locais, o grupo constatou a ocupação em áreas de manguesais e o lançamento de esgotos nos corpos hídricos.

- A câmara temática de saneamento dividiu-se em quatro vertentes: esgoto, água, resíduo (que inclui também os vetores) e drenagem. Na parte de esgoto e água estamos levantando os equipamentos e a rede existente no município. Em relação aos resíduos, vai ser criado um novo aterro sanitário depois do trevo da Br 101 e vamos apresentar proposta para a coleta seletiva do lixo. Quanto à drenagem, está sendo feito um estudo da bacia hidrográfica e de cheia. Um consultor está fazendo esse estudo para podermos fazer uma concepção de trabalho para a drenagem, esclareceu Danilo Maltez.

ETEs – A secretaria Municipal de Obras (Semob) contratou a empresa Spártacus para fazer o levantamento e operação em todas as estações de tratamento de esgoto (ETE) existentes em Macaé para apresentar um relatório. Na ETE do Parque Aeroporto, caminhões limpa fossa, da secretaria Municipal de Serviços Públicos, descarregam os resíduos captados nas fossas do município. “A idéia é transferir o local da ETE do Aeroporto para outra área menos populoso. O local serviria para construir uma área de lazer. Enquanto isso, nós estamos buscando a sobrevida da estação para mais alguns anos, enquanto as outras estações não entram em funcionamento”, informou o coordenador da câmara temática de saneamento.

O engenheiro civil sanitarista, assessor de meio ambiente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ) e professor/doutor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que acompanha a Câmara Temática de Saneamento, Adacto Ottoni deu seu parecer em relação ao problema do esgoto:

- 99% do esgoto é água. Temos que buscar soluções sustentáveis , como o reaproveitamento do esgoto. Uma das soluções poderia ser ao invés do esgoto ser jogado no rio, depois de tratado, ele poderia ser lançado em áreas de mata, gerando impactos positivos como a fixação de nutrientes no solo. A água resultante do tratamento de esgoto também poderia ser usada para molhar plantas, disse Adacto.

O grupo também visitou as obras da Estação de Tratamento de Esgotos da Virgem Santa que está sendo construída para atender a uma população de 200 mil pessoas. Na visita ao bairro dos Cavaleiros e à Lagoa de Imboassica, foi constatado o crescimento vertical acelerado na área, que acarreta também mais investimentos na infra-estrutura de saneamento. “Na Lagoa a proposta inicial é construir uma elevatória na Artemísia, para levar o esgoto para a ETE da Virgem Santa. Nos Cavaleiros também seria construída uma elevatória. Atualmente os moradores e os prédios possuem fossas-filtro e sumidouro”, explicou Danilo.

Região Serrana – Com cerca de 15 mil habitantes, a região serrana de Macaé já tem um planejamento para 2006, da Empresa Municipal de Habitação, Urbanização, Saneamento e Águas (Emhusa), para atender o abastecimento de água e o tratamento de esgotos dos distritos. Na Bicuda Grande, Bicuda Pequena e Areia Branca, o sistema de esgoto ainda continuará a ser feito com fossas-filtro e sumidouro, devido ao número pequeno de moradores.

A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Sana, anseio da população já há alguns anos, começará a ser construída no final do mês de março. Serão instalados três quilômetros de rede de esgoto, ligando 300 residências a ETE, que será instalada na área de 40 mil metros adquirida pela prefeitura de Macaé, da Fazenda Três Marias.

- Em Glicério, Trapiche e Óleo, faremos um sistema integrado, para o abastecimento de água. No Trapiche, construiremos uma ETE para atender também o novo Hospital da Serra. Na Cabeceira do Sana e na Barra do Sana o sistema de esgoto será mantido com fossas-filtro e sumidouro. Na Barra faremos uma estação de tratamento de água para abastecer a localidade, explicou Danilo que também é funcionário da Emhusa.

No segundo dia, o grupo de estudos da Câmara Temática visitou os distritos do Sana, Córrego do Ouro, Trapiche e Glicério, podendo conhecer melhor os aspectos positivos e negativos da região. “Poucas prefeituras têm essa visão de fazer um Plano Diretor assim, indo aos locais e fazendo um diagnóstico para apresentar propostas. O plano está indo bem em Macaé porque as pessoas estão participando, vestindo a camisa. Vemos vontade política de realmente fazer alguma coisa, enquanto os outros municípios já encomendam o plano diretor a uma empresa de planejamento”, frisou o professor da UFR J, Adacto Ottoni.

Adacto constatou também que o rio Macaé, na região serrana, apresenta indícios de turbidez elevada, demonstrando erosão. “O maior vilão das enchentes não é a chuva, e sim a erosão. Se você tiver uma vegetação protegendo o solo, isso não acontece. Em regiões onde as matas foram degradadas, você tem picos de enchente mais elevados, do que em regiões preservadas”, disse o professor.

Preservar a nascente, a faixa marginal do rio e a ocupação ordenada do solo, são ações que Adacto aponta para proteger o Rio Macaé. Em Glicério, o grupo visitou a ETE do distrito que possui uma rede coletora ligada à todas as residências. A eficiência da estação de tratamento é de 90%, segundo esclareceu Danilo Maltez.

No encerramento da visita à região serrana, o grupo visitou a captação de água bruta da CEDAE, ao lado do rio Macaé, localizada na Severina, e que abastece a cidade depois de tratada.

- O Plano Diretor pode colocar como prioridade o abastecimento de água e a preservação dos mananciais hídricos, com atuação de reflorestamento, para controlar a erosão. O lixo não é um problema sério no rio e nem o esgoto. O maior problema é a erosão, a água está com grande turbidez. É preciso detectar a fonte do problema e realizar obras para controlar isso. Com medidas corretivas você mantém a quantidade e a qualidade de água, garantindo o abastecimento, recolheceu o professor Adacto depois de visitar a captação da Severina.