O projeto de poesia “Palavra Expressa”, da Biblioteca Pública Municipal Dr. Télio Barreto, que acontece quinzenalmente, às terças-feiras, no Café do Teatro Municipal, aborda, esta semana, a temática Africanidade. O evento integra as comemorações, pela Fundação Macaé de Cultura, dos dias da Cultura (5) e da Consciência Negra (20).
O “Palavra Expressa” terá início às 14h, com apresentação de capoeira do grupo do mestre Kiko, na Praça das Artes, em frente ao Teatro Municipal de Macaé. Às 18h, no Café do Teatro, haverá palestra com a escritora e professora Iêda Moraes, em seguida recital de poesias sobre cultura negra, preconceito e africanidade. O evento é aberto à participação da comunidade, tendo entrada franca.
Iêda vai tratar da concepção de mundo do africano. Segundo ela, compreender essa cosmovisão, diferente da cristã-ocidental, é fundamental para que certas manifestações culturais possam ser entendidas. Ela enfatiza que para incorporar valores e entender a literatura africana é preciso conhecer um pouco da religiosidade, visto que esse aspecto não se separa da vida social na África.
A professora informa que a condição do negro sempre esteve presente na literatura brasileira, apesar de não ser um tema muito comum. Para ela, ainda é preciso fazer poesia-denúncia, mostrar que o negro é discriminado, assim como sua própria cultura, tratada como folclore. Iêda ressalta que a cultura é bem mais que isso. É o resultado da relação do homem na sua construção de mundo. Ela destaca que boa parte da literatura africana é engajada e politizada. Além disso, salienta que a linguagem africana é poética. Quem assistir a palestra terá a oportunidade de conhecer alguns Orikis, uma forma de expressão poética africana, por meio de simbolismos e sensações.
Iêda considera necessário que cada grupo cultural possa expressar a sua cultura em qualquer espaço e não necessariamente esperar os de evidência. Entretanto, avalia: - Falar dessa cultura marginalizada, em comemoração ao Dia da Cultura, num local em que há convergência de um segmento social, é importante, como também falar dela nos bairros.
A poetisa publicou os livros: “Poetizando e Cotidiano” e “Falando ao Espelho”. Alguns de seus poemas abordam a condição do negro no Brasil, entre eles, “Preto-velho”.
Preto-velho
Fizeram-nos escravos.
De reis passamos a súditos.
Trocaram nossos cauris por correntes.
A voz não foi silenciada.
Garganta ecoa, retumba
Atabaques, tambores.
Baianas, sambistas.
Sagrado, profano.
Somos nós que ressuscitamos
Oferenda não fora em vão
Dos quatro cantos da terra
Ressurgem os cachimbos, as bengalas e as benzeduras
O galho de arruda, as figas de guiné.
Do vô e da vó continuando a acalentar as aflições
De sinhazinha!