Implantado em Macaé há cinco anos, o Programa de Orientação e Recuperação de Toxicômanos (Porto) atende anualmente a 2,5 mil pessoas, destas, 60% prosseguem em abstinência de drogas lícitas e ilícitas. Segundo o coordenador administrativo do programa e conselheiro em dependência química, Nelson Quintino, os conselheiros, assistente social, terapeuta-ocupacional, psicólogo, musicoterapeuta, pneumologista e psiquiatra formam a equipe do Porto, vinculados à Fundação de Ação Social (FAS), autarquia da prefeitura de Macaé. O Porto atua na cidade desde 18 de março de 2002.
Segundo o presidente da FAS, Fernando Horta, o Porto é um programa que visa amparar psicologicamente o dependente químico auxiliando-o na tarefa diária de vencer a dependência. “O sucesso que vem sendo alcançado pela competente equipe multidisciplinar se embasa no aperfeiçoamento constante dos técnicos, na união e no comprometimento destes profissionais, em torno dos seus pacientes”, ressalta Horta.
Ele acrescenta ainda que muito se orgulha de poder colaborar com esta equipe, por meio do suporte administrativo que a FAS oferece para que o trabalho seja realizado a contento. “A prefeitura confiou-nos esta tarefa e nós buscamos a excelência profissional para cumpri-la em benefício do cidadão macaense”, comentou Horta.
Depoimentos de clientes do Porto
M. J., de 45 anos, conta que a dependência do álcool trouxe diversos problemas para sua vida, afetando muito sua saúde. Hoje é uma pessoa que precisa fazer uso contínuo de anticovulsantes, como uma das seqüelas do alcoolismo. Precisou aposentar-se por invalidez, deixando de ser funcionário público, o que o faz sentir-se inútil, pois se considera muito jovem para deixar de trabalhar.
A dependência química também afetou seus relacionamentos com o afastamento de familiares, como o próprio irmão, conflitos com a esposa e perda de diversos amigos que passaram a considerá-lo inconveniente. Restou-lhe apenas os companheiros de bar. Ele reconhece que o tratamento é longo, trabalhoso e exige perseverança; não obtém respostas tão rápidas como tinha com o álcool, porém percebe que muitos benefícios já estão acontecendo em sua vida. A melhora da saúde é a principal delas.
M.J. afirma que hoje se sente muito melhor consigo mesmo, pois com o tratamento aprendeu que a dificuldade com o álcool não é uma fraqueza moral, como muitas pessoas dizem e sim uma doença que precisa ser tratada. Com isso, diminui o sentimento de culpa e a auto-estima melhora. Com os grupos, ele pôde ter contato com pessoas que passam pela mesma situação e até pior, reforçando ainda mais seu desejo de mudança. O tratamento o ajudou também a ser mais paciente e empático com as pessoas, diferente da época em que bebia, quando costumava ser egoísta e impulsivo. Hoje sabe que precisa se tratar o resto de sua vida, pois a recaída pode acontecer e a melhor maneira de evitá-la é cuidando de si mesmo dia-a-dia.
Já M.A., 43 anos, conta que fez uso de álcool desde a adolescência. Passou por duas internações para tentar ficar sem o álcool, porém sempre acabava recaindo. A dependência química lhe trouxe muitas perdas principalmente na saúde, no trabalho e na sua dignidade. Relata situações muito difíceis como quando acordava e precisava beber, pois não parava de tremer. Deixou de comer e dormir e cada vez mais foi se isolando de todos e vivendo apenas para beber. Muitas vezes chegou a perder as esperanças e acreditar que o melhor era morrer.
Fala do grande esforço que fez e vem fazendo para manter-se abstinente e mesmo estando sem usar há vários meses percebe que esta é uma luta diária, pois a recaída é sempre possível. Tem tido muitas vitórias por estar sem beber como a recuperação da sua dignidade e o retorno ao trabalho o que a deixa mais confiante e feliz. Porém, ainda tem uma longa estrada a percorrer, principalmente com relação ao convívio social, pois entende que é um grande desafio conseguir fazer novos amigos e conviver na sociedade de uma maneira tranqüila.
Como funciona o Porto
Localizada na Rua Conde de Araruama 569, Centro, telefone 2772-2317, a sede o Programa é constituída de duas salas de reuniões com os clientes, comportando 20 pessoas cada uma, duas salas para atendimento individual, uma sala para reunião da equipe e duas salas para oficinas e palestras. Estas últimas têm capacidade para 50 pessoas cada.
O conselheiro em dependência química e coordenador administrativo do Porto, Nelson Quintino, disse que se sente preocupado com o crescimento das drogas, que estão destruindo muitas famílias, levando sofrimento a muitas pessoas. “Também me incomoda ver nossos adolescentes conhecendo o uso das drogas cada vez mais cedo”, enfatiza Quintino.
Ele explicou que o trabalho do Programa é de longo prazo e tem como objetivo tratar os usuários que desejam cessar o hábito. “Levamos reflexão aos clientes, a fim de que obtenham melhor qualidade de vida. Por ser um Programa municipal, onde existe gratuidade, o Porto tem a função de recuperar e inserir os pacientes nos diversos segmentos sociais, profissionais, familiares e outros”, conta o conselheiro.
Nelson ressalta a importância dos familiares na recuperação do adicto. “Temos programas exclusivos para os membros da família do dependente químico”, conta. Ele adverte que na família tudo gira em torno do dependente. “Monopolizando as atenções, o cliente precisa que sua família acompanhe sua recuperação, através da ajuda dos profissionais do Porto”, frisa.
Os métodos do Porto
De acordo com Quintino, os doze passos dos Alcoólicos Anônimos, baseados no método Minesotta, são seguidos nas reuniões terapêuticas. O primeiro é reconhecer-se impotente diante da dependência.
- Buscamos realizar entrevistas motivacionais, penetrando no universo do interlocutor e estimulando nele o desejo de buscar o tratamento – enfatiza o coordenador administrativo. – Também evitamos a estigmatização e fazemos o possível para que a pessoa, que se encontra em fase de recuperação, possa se inserir novamente na sociedade, pois novas oportunidades e novas chances devem ser oferecidas a ela.
- Além disso, evitamos rotular as pessoas, respeitando e promovendo a auto-estima delas. “Todos queremos ser felizes. Para isso, é necessário encontrar a nossa essência: dignidade, formação familiar, índole pacífica. As drogas destroem essa essência. Mas, para nós do Porto, o ser humano sempre tem jeito. Não desistimos nunca de dar a mão com a esperança de promover a mudança de vida para melhor, para o mais equilibrado e harmônico”, finaliza Quintino.