A discussão em torno da definição por Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, para abrigar o Complexo Petroquímico da Petrobras, marcou a abertura do II Seminário sobre Desenvolvimento Local realizado pela Associação de Prefeitos dos Municípios do Estado do Rio de Janeiro (Apremerj), no Hotel Vilarejo, em Rio das Ostras, nesta quinta-feira (30).
De um lado, os prefeitos do Norte Fluminense e o vice-presidente da Apremerj, David Loureiro (PMDB), questionavam quais foram os critérios técnicos para a escolha e de outro, os prefeitos vizinhos de Itaboraí tentavam pontuar que a cidade tem todas as condições de abrigar o maior investimento feito em um único projeto no Estado do Rio.
O prefeito de Macaé, Riverton Mussi (PSDB), lamentou que Guriri, em Campos, não tenha sido a microlocalização do Complexo Petroquímico. “Foi uma grande decepção para nós, prefeitos da região Norte, porque o projeto do complexo, que inclui uma refinaria, daria sustentabilidade à economia regional. Muitos acham que somos municípios ricos porque recebemos royalties, mas os royalties são finitos e minha grande preocupação é preparar a cidade para ter sustentabilidade pós ciclo do petróleo”, pontuou.
Riverton destacou, no entanto, que deseja sorte ao empreendimento em Itaboraí e conversou com o prefeito da cidade, Cosme José Sales (PT), que também participou do seminário. “Temos que comemorar que a vitória foi do Estado do Rio de Janeiro e desejo sucesso ao investimento”, afirmou. Já o vice-presidente da Apremerj e prefeito de São Fidélis, David Loureiro, foi taxativo ao afirmar que a decisão tomada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi uma “covardia”.
- A refinaria em Itaboraí parece mais uma das inaugurações futuristas do Lula, que vive um governo virtual. Da região Norte saem mais de 80% do petróleo nacional e Guriri possui toda a viabilidade técnica. Sabemos que Itaboraí tem problemas ambientais e agora será transformada em uma nova Cubatão. O que pesou na decisão dele (Lula) foi a questão política – alfinetou o peemedebista. O vice da Apremerj criticou ainda o processo de privatização da BR-101. “A região será contemplada com cinco praças de pedágio, cabe ao presidente ver o esvaziamento que poderá se transformar o Norte do estado”, disparou.
Os prefeitos de Carapebus, Rubem Vicente; Conceição de Macabu, Cláudio Linhares; Rio das Ostras, Carlos Augusto Balthazar (todos PMDB) também lamentaram que a refinaria não ficou nas regiões Norte/Noroeste, como a Organização dos Municípios Produtores de Petróleo (Ompetro) pleiteava, inclusive com reuniões com o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.
- Critérios técnicos que eram considerados há um mês mudaram seus caminhos. Todas as necessidades que a Petrobras apontou não foram mais consideradas. Itaboraí tem uma densidade demográfica absurda, o que a própria Petrobras disse que não queria. Por isso tenho um sentimento de traição e sinto que o critério não foi técnico – comentou Cláudio Linhares, de Macabu.
Já o prefeito de Rio das Ostras também se disse surpreendido com a decisão da estatal. “Torço para que o bom senso da Petrobras tenha prevalecido sobrepondo a política”, opinou. Rubem Vicente, de Carapebus, lembrou da expectativa gerada pela instalação da refinaria em Guriri ou em Itaguaí. “Eles jogaram água na fogueira e escolheram Itaboraí”, afirmou.
SORRISO - O prefeito de Itaboraí, o petista Cosme José Sales – de mesma legenda que o presidente Lula – era só sorrisos no seminário, que tinha na pauta justamente o desenvolvimento local. “Nada melhor poderia ter acontecido. Trabalhamos em silêncio e sabemos que a escolha foi em cima da situação geográfica, social e de infra-estrutura da cidade”, salientou.
Cosme governa uma cidade de 300 mil habitantes com previsão orçamentária para este ano de R$ 160 milhões e desmentiu que a área escolhida para a refinaria seja ruim. “Não temos nenhuma indústria poluente, temos recursos hídricos e a decisão não foi política”, disse o petista, que está na sigla há dois anos. Segundo ele, os rios Macacu e Cacerebu terão suas águas usadas no complexo petroquímico.
O secretário de Trabalho e Renda, Cláudio Bogado, analisou que a região Norte sofre a falta de investimentos pesados que gerem emprego e renda, mas os projetos de desenvolvimento serão ainda mais ampliados. “Vamos intensificar nosso projeto macro de qualificação profissional com elevação da escolaridade da população de Macaé”, destacou Bogado.
O secretário de Comunicação, Romulo Campos, disse que o anúncio feito pela estatal foi uma traição. “Participei de quase todas as reuniões nas quais a Petrobras afirmou que a escolha seria técnica e que existiam duas microrregiões para receber o empreendimento, entre elas, Guriri, em Campos, que para nós, seria a melhor escolha. Ao anunciar Itaboraí, a Petrobras mostrou que a escolha passou mais pelo crivo político do que o técnico”, acentuou. Romulo e Cláudio também participaram do seminário.
Em Macaé, o secretário de Indústria e Comércio, Alexandre Gurgel, ressaltou que a secretaria irá preparar um programa especial que auxiliem às empresas de Macaé a participar dos investimentos que serão injetados no complexo petroquímico.
Fórum de desenvolvimento termina
nesta sexta com presença de ministro
O II Seminário sobre Desenvolvimento Local termina nesta sexta (31), em Rio das Ostras, onde serão discutidos dois painéis e proferidas quatro palestras. O painel que encerra a programação terá a presença do Ministro das Cidades, Márcio Fortes, que participará do painel “Gestão do Território – Desenvolvimento Urbano e Local” e falará sobre as ações do ministério das Cidades para o desenvolvimento urbano dos municípios.
A programação desta sexta começa às 9 horas, como o tema “A Gestão da Saúde e Estratégias para Solução das Ações Judiciais – Consórcios de Saúde”. Às 11 horas serão abordados os “Aspectos Sanitário-Ambientais relacionados à implantação de infra-estrutura de Telecomunicações”.
Em seguida, o tema será “Parceria no Desenvolvimento dos Municípios – Projeto Operações Coletivas e o Financiamento do Saneamento Básico”. Às 14 horas é a vez do “Projeto Cidadania com Segurança”. “O Descompasso entre as Receitas e Despesas Municipais” é o assunto seguinte.
Nesta quinta, prefeitos e secretários municipais de todas as regiões do Estado do Rio participaram dos painéis que abordaram “Implantação e Fortalecimento dos Sistemas Municipais de Meio Ambiente”, “O Financiamento da Educação com a Implantação do Fundeb”, “Linhas de Financiamento – Proger Empresarial e Turismo”e “Contribuições do Sistema S para o Desenvolvimento das Localidades”.