Um tesouro histórico e artístico, esquecido na igreja mais antiga de Macaé, está quase pronto para voltar ao lugar de destaque que merece. A prefeitura de Macaé, através da secretaria de Acervo e Patrimônio, acaba de recuperar três imagens sacras do século XVIII. A recuperação faz parte do projeto de recuperação da Igreja de Sant’Anna, marco da colonização da cidade. As imagens voltam para a igreja no próximo ano, assim que terminar a restauração do prédio.
O trabalho de recuperação das imagens de Nossa Senhora das Dores, do Senhor Morto e de Santa Ana (em pé) foi feito pelas mãos cuidadosas da restauradora Darticléa Alencar Diniz. De acordo com o secretário de Acervo e Patrimônio de Macaé, Ricardo Meirelles, as imagens têm valor histórico inestimável. A imagem de Sant’Anna, por exemplo, é articulada e pode ser vestida no estilo “saia e blusa”.
As imagens são em tamanho natural: cada uma tem cerca de 1,70. Deterioradas pela ação do tempo e pela umidade, elas enfrentavam também outro inimigo perigoso: o cupim.
Segundo a restauradora, para fazer o trabalho foi utilizado material italiano: ouro em folha, madeira cedro, vinhático e tinta especial. Foram seis meses de trabalho, concluído na última quarta-feira (13). No currículo de Darticléa, que conta com 24 anos de atividades, estão trabalhos feitos em igrejas de diversas cidades fluminenses, como Cordeiro, Conceição de Macabú, Carapebus, Nova Friburgo, Barra de São João e Casimiro de Abreu. Ela também já restaurou imagens que estão no Vaticano e fez trabalhos para a TV Globo.
Agora, o desafio de Darticléa é recuperar os altares laterais e o altar principal da igreja, além de esculpir e pintar 20 imagens de santos, cujos originais foram roubados. Católica praticante, a restauradora conta que aprendeu o ofício com seus pais, Euclides Soares Diniz e Judith Alencar Diniz. “Meu pai viajava todo o Nordeste fazendo restaurações de cidade em cidade. Faço o trabalho por amor à religião”, disse.
A recuperação das três imagens faz parte de um conjunto de obras realizada na Igreja de Sant’Anna, datada do século XVII. Toda parte do forro, incluindo maideirames e caibros, já foi trocada. O telhado também está quase pronto: foram trocadas quatro mil telhas, mas mantendo o aspecto original. “Compramos muito material de demolição e usamos telhas do século XVIII, que eram moldadas nas coxas dos escravos, como era o telhado original”, explica Ricardo Meirelles.
A obra, que está em fase final de acabamento, procura seguir ao máximo a arquitetura original, mas como a Igreja foi bastante mexida com o passar dos anos sem critérios técnicos, está sendo feita reforma restaurativa. O projeto inclui também a implantação de um mini-museu de arte-sacra, no andar superior da igreja.
História e lenda - A história da Igreja de Santana se confunde com o início da colonização de Macaé, feita pelos padres jesuítas no século XVII. No mesmo ano, eles começaram a erguer no alto do morro a Capela de Santana, um engenho e um colégio, num lugar que mais tarde ficou conhecido como a Fazenda dos Jesuítas de Macaé. Nos fundos da capela, foi instalado um pequeno cemitério, que até hoje guarda os restos mortais de alguns padres.
Além do açúcar, os padres produziam farinha de mandioca em quantidade e extraíam madeira para construções navais e edificações. Em 1759, a fazenda foi incorporada aos bens da coroa portuguesa pelo desembargador João Cardoso de Menezes. No mesmo ano, os jesuítas foram expulsos do Brasil, imposição feita pelo Marquês de Pombal. A Igreja de Santana foi fundada um século mais tarde, em 1898, no local onde foi erguida a primeira capela dos jesuítas.
A igrejinha no alto do morro também faz parte da lenda mais popular da cidade. Conta a lenda que a Imagem de Santana foi encontrada por pescadores, numa das Ilhas do Arquipélago que lhe dá o nome (Ilha de Santana). Trazida para o povoado, a imagem teria sido colocada no Altar Mor da Capela dos Jesuítas, desaparecendo misteriosamente no dia seguinte. Foi encontrada dias depois na ilha e levada novamente à Capela. O fato repetiu-se mais duas vezes. Na terceira fuga, concluíram os devotos que a Santa sentia saudades da ilha que era avistada do Altar da Capela. Desta forma, os padres reedificaram o templo, voltando sua fachada frontal para o ocidente onde a Santa não “veria” mais o mar e o arquipélago de onde viera