Foto: Rui Porto Filho
Joelson dos Santos, paciente do PSF Malvinas:
A saúde da população masculina está na agenda de prioridades da Secretaria de Saúde de Macaé, através do Programa Saúde da Família (PSF). Levar o homem a um tratamento preventivo, incentivando o autocuidado de sua saúde, é um dos trabalhos das unidades de saúde de Macaé.
Com o objetivo de prevenir doenças mais comuns entre a população masculina, como hipertensão e diabetes, os PSFs do município vêm atraindo cada vez mais a população masculina para as unidades, seja quando acompanham a esposa ao pré-natal, ou buscam a unidade por algum problema de saúde especifico, como dores musculares ou cefaleia (dor de cabeça).
No caso do pré-natal, a ideia é que os profissionais de saúde aproveitem o momento em que o homem está mais sensível – às vésperas de ser pai – para incentivá-lo não só a acompanhar as consultas durante os nove meses de gestação da parceira, como também a realizar exames preventivos. A população masculina geralmente procura os serviços de saúde por meio da atenção especializada, já com o problema de saúde detectado e em estágio de evolução.
De acordo com o enfermeiro Fabrízio Pereira, do PSF Malvinas B, na rua principal do bairro, ainda existe muito preconceito do homem em ir ao posto de saúde para prestar exames de rotina. “O jovem ou mesmo o idoso só vêm à unidade quando o problema de saúde aparece, como a hipertensão e o diabetes”, esclarece.
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Assim, a tática que estes profissionais de saúde têm utilizado é a seguinte: uma vez o homem procurando a unidade por algum motivo visível de saúde, ele é acolhido individualmente e, assim, são oferecidos, primeiramente, exames laboratoriais básicos, como o hemograma completo.
A prevenção do câncer de próstata, das doenças sexualmente transmissíveis,e também o alcoolismo têm sido preocupações constantes das políticas do Sistema Único de Saúde (SUS), voltadas a integralidade do homem.
A médica de saúde da família Cristina Cadinelli, que atende cerca de 250 homens hipertensos no PSF Malvinas B, onde são inscritas 1.100 famílias, relata uma questão no mínimo reveladora, com relação aos cuidados de saúde masculinos:
- Muitas das vezes são as mulheres da família que vêm ao posto de saúde solicitar um exame para o companheiro ou falar o que seu marido está sentindo. Aí tentamos convencê-las a trazer o homem até o posto como o argumento que é fundamental ele se cuidar para cuidar da família.
Neste sentido, a médica argumenta que a campanha televisiva do Ministério da Saúde, alertando para a questão da morte prematura entre os homens, surtiu efeito positivo à prevenção e promoção da saúde masculina.
O enfermeiro Fabrízio Pereira, do PSF Malvinas, também vê como grande incentivo ao trabalho que a unidade vem realizando a campanha nacional sobre o cuidado do homem, uma vez que incentiva a ida às unidades de saúde.
- Temos que acabar com o preconceito e trazer essa população para cuidar da sua saúde. Nas raras vezes que o homem vem ao posto para participar dos grupos que temos, como o de terapia comunitária, saúde bucal ou até mesmo o de gestantes; ou quando vem para tratar alguma doença que apareceu, este é o momento de sensibilizá-lo a um tratamento mais cuidadoso.
O enfermeiro acredita que o homem por entender não ter tempo para tratar da saúde e não cuidar da alimentação, é mais propício ao estresse e a doenças musculares, que são queixas recorrentes. Fabrízio enfatiza que, por exemplo, as questões relacionadas à orientação contraceptiva e ao uso de camisinha são fundamentais na adolescência e é um trabalho que deve ser feito também no Programa Saúde da Família.
- Um problema grave é que as empresas, em geral, não liberam os funcionários para os exames periódicos. Isto dificulta muito nosso trabalho e a prevenção de doenças neste homem. Assim, o usuário só nos procura quando está com dor e não consegue trabalhar, lamenta.
Para o usuário do PSF Malvinas B, Joelson dos Santos, que trabalha em supermercado e tem uma loja de roupas no bairro, o homem ainda não se preocupa com sua saúde e não vai ao posto por medo e por se sentir desconfortável:
- Ele só vai no médico quando o negócio esquenta, quando não aguenta mais de dor. É errado, não tem que ter vergonha de ir e se tratar, isso é fundamental para o seu próprio futuro , acredita.
REFERÊNCIA EM SAÚDE DO HOMEM
O Sistema Único de Saúde (SUS), com a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, está na vanguarda das ações voltadas para esta população e é definido, por países como Chile, Bolívia e México, referência em política pública de saúde voltada à população masculina. Na América Latina, o Brasil desponta como pioneiro. Em todo o mundo, só três países tomaram a decisão de implementar políticas focadas na prevenção e promoção à saúde masculina: Brasil, Austrália e Irlanda.
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem foi estruturada pelo Governo Federal para aumentar o número de homens que procuram os serviços de saúde, principalmente na atenção primária, por meio da sensibilização da população e da capacitação dos serviços de saúde.
A violência e os acidentes de trânsito são as questões de saúde pública, relacionadas à população masculina, que mais preocupam nacionalmente. Essas são as maiores causas de morte entre os homens na faixa etária entre 20 e 24 anos. “A prevalência de mortes entre os jovens tem motivo. A ´masculinidade´ do homem é construída a partir de uma cultura de autossuficiência, o que os faz sentirem-se invulneráveis e a correr mais riscos”, analisa José Luiz Telles, diretor do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde.
RESULTADOS – Dados do Sistema Único de Saúde mostram o avanço da participação masculina no planejamento familiar e o crescimento da quantidade de exames de próstata realizados no SUS. Em sete anos, a quantidade de vasectomias feitas pelo SUS cresceu 79%. O número de cirurgias saltou de 19.103, em 2003, para 34.144, em 2009.
De 2003 a 2009, triplicou o número de testes que detectam uma atividade anormal da próstata. A quantidade de PSAs (Dosagem de Antígeno Prostático Específico) realizadas na rede pública de saúde saltou de um para três milhões nesse período. Os números refletem o aumento da participação do homem no planejamento familiar. Desde que lançou a Política Nacional de Atenção Integral á Saúde do Homem, o Ministério da Saúde aumentou em 148% os valores pagos para o procedimento de vasectomia em ambulatório e em 20% para a operação feita com internação.