Com atendimento mensal de 400 pessoas – entre dependentes de substâncias psico-ativas e seus familiares -, o projeto Girassol é uma extensão do Fundo Municipal Anti-Drogas (Fundmad), da prefeitura, cujo gestor é Fernando Lima Brolo. Segundo a coordenadora do projeto Girassol, Ebenezer Ribeiro, o trabalho visa promover a recuperação de dependentes químicos.
- Recebemos apoio de forma abrangente do Fundmad, inclusive promovendo parceiras com diversas instituições e empresas, as quais colaboram com o projeto substancialmente”, afirma Ebenézer.
Ela lembra ainda que existe um intercâmbio entre as empresas e o projeto. Estas enviam ao Girassol funcionários com problemas com dependência química para busca de recuperação de vida harmônica e sóbria, enquanto que o projeto leva às companhias pessoas que estão em fase de recuperação da doença de utilizar drogas para re-inserção no mercado de trabalho.
- Tudo isso acontece nos níveis psicológico, psíquico, social e espiritual, a fim de que a re-inserção na sociedade se dê com o público alvo de maneira satisfatória – conta ela.
Grupo Familiar
O projeto Girassol – que fica na Rua Duque de Caxias 67, Visconde de Araújo, atendendo pelo telefone 2762-6610, de segunda-feira a sexta-feira, entre 9h e 17h – também promove trabalho para 50 familiares de dependentes químicos. “É importante que familiares que têm co-dependência sejam tratados. Co-dependência é um transtorno emocional voltado aos familiares do dependente. Ele usa uma ligação emocional que o torna preso a coisas negativas ou patológicas, sendo ele também um dependente”, explicou Ebenézer.
Geralmente, o co-dependente pensa ser o salvador do dependente químico, preocupando-se excessivamente com ele, mais do que consigo mesmo. Segundo a coordenadora do Girassol, o co-dependente pode ter depressão, tendência suicida, doença psicossomática e outros transtornos.
- Os grupos para atender nesses casos buscam reverter este quadro, orientando familiares a adotar comportamento mais saudável. Para isso, o primeiro passo é que haja conscientização e aceitação de que na realidade existe um problema na ordem familiar e comportamental para ser resolvido – comenta ela. – Conscientes, todos passarão a buscar mais qualidade de vida, com ajuda realmente positiva para a recuperação da dependência química. Assim, muitos dependentes químicos que não aceitavam o tratamento por causa de condutas de seus familiares (esposos, filhos, pais, companheiros e até colegas de serviço) têm se voltado para o nosso trabalho.
Trabalho de Campo
Um dos conselheiros em dependência química do projeto Girassol, que prefere ser designado apenas por F, faz um trabalho de campo indo a festas, shows, pontos de uso de drogas e lugares de concentração de adolescentes, com a finalidade de tentar passar ao público alvo, com média de idade entre 13 e 18 anos, a importância de se buscar qualidade de vida fora das drogas.
De acordo com ele, para se chegar aos jovens deve-se utilizar a mesma linguagem deles; dessa forma laços de afinidade são criados. Entre os termos usados por F. estão: “Meu Choque”, “Mano”, “Tranqüilidade”, “E aí Maluco?”. São maneiras de comunicação próprias do público alvo. “Inclusive, cada tribo tem sua linguagem peculiar”, afirma.
F. contou que há um ano e meio, estava trabalhando para resgatar um jovem de 17 anos, morador do Parque Aeroporto, por meio de aconselhamento. Este era de família de boa índole e vivia bem financeiramente, mas o adolescente estava envolvido com “colegas”, que o encaminharam ao consumo de substâncias psico-ativas. “Infelizmente, o jovem acabou se envolvendo no mundo do tráfico e foi brutalmente assassinado. Fiquei muito abalado”, conta o conselheiro em dependência química do projeto Girassol.
- Em outra ocasião, presenciei dentro de ônibus, no bairro Fronteira, uma tentativa de assalto, que só não se concretizou porque um dos dois jovens assaltantes me reconheceu como seu amigo, dizendo que só não efetuaria roubos naquele transporte público por minha causa. Chamei-o e abraçando-o, convidei-o para buscar tratar-se no Girassol, mostra F.
Continuando, ele disse que três dias depois, o adolescente o procurou no projeto e iniciou tratamento, cessando de efetuar roubos. “Mas, infelizmente, há recaídas na utilização de drogas, entretanto, o menino deu o primeiro passo. As sementes estão sendo lançadas. Creio firmemente que a mudança de vida acontecerá mais cedo ou mais tarde”, pontua F.
Ele finaliza dizendo aos pais que a melhor maneira de participar da vida de seus filhos ocorre quando lhes conferem o direito de se manifestarem opinando e atuando com importância no seio familiar. “Assim, por intermédio do diálogo, os jovens se sentem valorizados, evitando “valorizações” e “incentivos” nas ruas”, completa F.