Material sobre vida e obra do músico macaense Benedito Lacerda, espalhado em diversas cidades brasileiras, está sendo catalogado pelo músico Rubem Gonçalves Almeida Pereira. Ele desenvolve o projeto Benedito Lacerda, com apoio da secretaria de Acervo e Patrimônio Histórico. A proposta é aproveitar o dia 16 de fevereiro de 2008, data quando se completa 50 anos da morte do consagrado compositor macaense, para fazer exposição bibliográfica no Solar dos Mellos.
Manuscritos de próprio punho do compositor, famoso no país na época de ouro do rádio (décadas de 40 e 50), além de partituras de músicas editadas e gravações de Benedito junto com Pixinguinha, são alguns dos trabalhos obtidos por Rubem. Para recolher tudo isso, ele fez pesquisas no Centro Cultural Banco do Brasil e na Biblioteca Nacional (Rio). Rubem também buscou pela riqueza da obra de Benedito em casas de particulares, colecionadores de relíquias. Benedito era muito requisitado por cantores famosos, como Carmem Miranda, que queriam o regional que ele criou participando em suas gravações.
– Visitei a maior biblioteca particular do país, na casa do empresário José Mindlim, em São Paulo, para dar continuidade ao projeto – comenta Rubem acrescentando que, inclusive, já estão registradas em seu trabalho gravações de programa de rádio (1947) que aconteciam nas noites de quarta-feira, na Mayrink Veiga (Rio).
Todo o apogeu de Benedito Lacerda, que compôs músicas campeãs do carnaval como “Jardineira”, marchinha cantada até hoje, se deu antes do advento da televisão, que pôs fim à época de ouro do rádio. O rádio anteriormente tinha mais encanto e magia, reunindo as famílias brasileiras para ouvir seus programas.
Segundo Rubem, o projeto Benedito Lacerda tem quatro fases: a que recolheu manuscritos e edições musicais; o estágio (em andamento) de registrar gravações inéditas do cantor macaense; a fase na qual se produzirá vídeo-documentário com depoimentos de contemporâneos do músico como Caçula, e a quarta etapa, quando haverá shows com grupos de choro. Tudo isso fará parte do projeto, preparado e estudado por Rubem.
– Benedito Lacerda gravou com Ari Barroso, Pixinguinha, Erivelton Martins, Marino Pinto e Wilson Batista. Esteve com Getúlio Vargas quando lutava pelos direitos autorais de músicos e compositores. Sua morte foi notícia em jornais como Última Hora e Diário de Notícias – conta Rubem. – Ele fixou paradigma para grupos musicais, quando formou o regional: grupo composto por um pandeiro, dois violões, um cavaquinho e um instrumento solista como a flauta transversa, o instrumento de Benedito, no qual compunha choro, samba, marcha e, até mesmo, valsa.
Músico de grande valor
De acordo com o secretário de Acervo e Patrimônio Histórico, professor Ricardo Meirelles, o projeto Benedito Lacerda é importante devido ao grande valor do músico macaense, que iniciou sua carreira na Sociedade Musical Nova Aurora, onde desenvolveu gosto pela música.
– Benedito Lacerda evoluiu e desenvolveu estudos em conservatórios, sendo também autodidata – explica o secretário. Ele lembra que Benedito deixou mais de mil músicas escritas e gravou 280 canções. “Formou o regional preferido dos cantores de rádio. Carmem Miranda brigava para que o regional dele a acompanhasse em suas gravações. Além disso, tocava com Roberto Paiva e Araci de Almeida, sendo o maioral da época de ouro do rádio”, pontua Meirelles.
Ele comenta ainda que por ser rígido no cumprimento dos horários, além de elogios Benedito Lacerda também recebia críticas. “Nem todos valorizaram sua pontualidade, mas o estigmatizaram como Caxias, independentemente de suas habilidades musicais. É errado ou positivo ser disciplinado?”, questiona Meirelles. “Benedito Lacerda ajudou Pixinguinha, que estava esquecido, para que viesse à tona, sendo convidado a gravar. É um músico de referência nacional”, finaliza o secretário.