Antes que a ação do tempo deteriore o precioso legado histórico dos registros das paróquias de Macaé, a secretaria municipal de Acervo e Patrimônio Histórico (Semaph) resolveu abraçar a causa. Eternizar os documentos históricos do município, através de livros de batizado, casamento e óbito das Igrejas, digitaliza-los e depois disponibilizá-los a pesquisadores, é o principal objetivo desse projeto. O fato mais importante, até agora, é a referência ao Quilombo Carukango, extinto em 1º de abril de 1831, na serra do Deitado, entre Macaé e Conceição de Macabú.
Tido como lenda e até um mito, a existência do quilombo e sua influência histórica regional e nacional poderão agora ser estudados por meio dos registros encontrados. De luvas e máscaras, a equipe da Semaph vem descobrindo um verdadeiro “modo vivendis” do século XVIII ao XX, através desses registros.
- O importante é que esses livros que estamos encontrando são seqüenciais. Através dessa tabulação demográfica e histórica, dos registros de vida e morte, podemos entender o modo de produção econômica e política”, explica Conceição Franco, historiadora da secretaria, apontando para os livros de registros.
O entusiasmo da equipe, reflete a vontade do secretário de Acervo e Patrimônio Histórico, Ricardo Meireles, em deixar um legado digitalizado sobre a história do município de Macaé.
- A intenção é que essa rica história da nossa cidade não se perca. Os livros de registros das freguesias são bem antigos e estão se deteriorando. Nosso objetivo é eternizar essa documentação e democratizá-la a estudantes, historiadores e pesquisadores. É também transformar a secretaria num laboratório de pesquisa em história local -, argumenta Ricardo.
Já foram digitalizados todos os livros de batismo, casamento e óbito da antiga Freguesia das Neves, que abrange hoje a serra macaense, de todo o século XIX, um livro do século XVIII e mais um livro de notas (testamentos e cartas de liberdade de escravos). “Essa documentação reflete o cotidiano das pessoas, o lado social, econômico e político”, explica Conceição. Num só dia, a funcionária da Sempah, Cláudia Barreto, fez mil fotos digitais desses registros.
Os manuscritos estão na Igreja de Glicério e boa parte também na Igreja de São João Batista, no centro de Macaé. Na época, o mesmo pároco da sede do município também atendia à serra.
-É uma quebra de paradigma. A história se renova através da pesquisa, reflete Gisele Muniz, professora de história e funcionária do Solar dos Mellos, responsável juntamente com Conceição Franco, do curso de professor investigador, para a rede municipal de ensino, oferecido pela Sempah. Uma espécie de curso de reciclagem em história para os professores.
Essa documentação eclesiástica encontrada da Freguesia das Neves, estará disponibilizada dentro de alguns dias. Foram encontrados um livro de casamento fragmentado em três partes, de 1876 a 1888, de 1888 a 1889 e de janeiro a abril de 1891. Dois livros de óbito, um de 1879 a 1883 e 1887 a 1891. Da Freguesia do Barreto, dois livros de óbito de 1872 a 1888 e um de 1868 a 1888; quatro de batismo, de 1852 a 1868, de 1861 a 1866, de 1871 a 1887 e de 1868 a 1909, e dois de casamento, de 1857 a 1865 e de 1868 a 1903.
Na próxima semana, a equipe começará a fazer o levantamento dos registros da matriz da Igreja de São João Batista, que começam pelo ano de 1812. Depois de levantar toda a documentação eclesiástica, a equipe vai percorrer os cartórios do município, que são cerca de sete, e guardam registros a partir do século XVIII.