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Semana da Consciência Negra de Macaé destaca escrevivências e fortalecimento da identidade negra

19/11/2025 07:58:00 - Jornalista: Joice Trindade

Foto: Rui Porto Filho

Programação segue até sábado (22) com atividades em diferentes locais e promove encontros que valorizam memória, resistência e protagonismo de escritores e escritoras negras

A Semana da Consciência Negra de Macaé está sendo marcada por mobilização em programações diversificadas. A programação segue até este sábado (22) com eventos na região serrana e bairros como Imbetiba. Reflexões e troca de vivências, que registram perspectivas, identidade, ancestralidade e resistência destacaram o Encontro de Escritores e Escritoras Pretas - Escrevivências Negras: Memória e Resistência. A programação, realizada na sede do Sindipetro NF, foi um encontro de talentos, para partilhar trajetórias, obras e perspectivas tendo como alvo a força da escrita como território de afirmação, pertencimento e fortalecimento do presente e do futuro.

A programação teve como tema central a inspiração do conceito de “escrevivência”, da escritora Conceição Evaristo. “As escrevivências são mais do que textos — são heranças de resistência, são instrumentos de afirmação identitária, são mapas que orientam as gerações que chegam. "Este dia é parte integrante da Semana da Consciência Negra de Macaé . A proposta é reunir escritoras e escritores negros para partilhar trajetória. A intenção é exaltar a vivência negra, que sopra, canta, denúncia, cura, afirma e transforma. Ler autores e autoras negras é ampliar horizontes, reconhecer histórias antes silenciadas e devolver protagonismo a quem sempre esteve à frente dos processos de sobrevivência e criação neste país. A pasta agradece ao apoio do Sindipetro NF e de sua diretora, Bárbara Bezerra, que gentilmente acolhe este encontro, para fazer uso da palavra”, comenta a Secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Macaé (SEPPIR) , Ingrid Aprígio, acompanhada pelo Ouvidor Alex xavier, que conduziu a programação.


Satisfeita com a interação dos escritores no espaço do sindicato, a diretora do Sindipetro-NF Bárbara Bezerra evidenciou que “é uma honra a presença de escritores e escritoras convidadas, leitores, militantes, apoiadores, representantes de instituições e toda a comunidade, que reconhece na literatura negra um pilar fundamental da luta por igualdade racial”.


Durante o encontro, o público teve a oportunidade de apreciar a exposição do artista plástico Bernardo Beraldini, que se inspirou na temática “Africanidade” em homenagem à mãe. “ Tenho 15 telas em uma média de sete meses com foco nas matrizes africanas e em negros, como escravizados e pessoas em situação", comentou o jovem, que terá suas telas apresentadas na Feira Multicultural Saberes e Sabores no sábado (22), a partir das 14h, na orla da Imbetiba.


A ocasião também contou com homenagem póstuma à professora Sônia Maria Santos, momento em que o filho Gabriel Santos, presente na programação, se emocionou. A roda de conversa recebeu a mediação da poetisa Conceição de Maria Pereira Alves Rosa. A poetisa, escritora e atriz agradeceu a participação e enalteceu o evento. “Sou autora dos livros Pedaços de Mim e Travessia. Ficamos felizes por eventos como estes, pois vemos que a discussão da academia tem como foco as relações étnico raciais. Escrevivência é escrever e viver. A maravilhosa Conceição Evaristo era amiga da nossa saudosa professora Sonia Santos e deu aula em um curso em Macaé, mas lembrando que a Consciência Negra é todos os dias, e é de suma importância dar visibilidade aos escritores de Macaé com conceitos, histórias e escrita como ato político e de resistência”, afirmou.

Escritores - A integração dos escritores, por meio do Escrevivências Negras, emocionou o público e os escritores participantes. Raila Maciel é uma delas. “Eu cursei faculdade de Jornalismo. E desde criança escrevia. Mas, antes dos 30, disse que era tarde para realizar sonho, então conheci por nome a trajetória de Conceição Evaristo, e mudei de ideia. É uma honra fazer parte dessa homenagem. A academia de Letras tinha uma referência branca, e comecei a escrever e ver validação”, pontuou. Vale lembrar que Raila é reconhecida como mulher, preta, cíclica, criativa; nordestina de São Luís do Maranhão. A moradora de Macaé é escritora e autora do livro "Eu Nunca Falei Sobre Isso”.


Tatiana Costa de Souza - (Tê)Costa aguçou a curiosidade da plateia sobre fatos históricos do bairro Aroeira. Também conhecida como Tê Costa, a professora, que também é escritora e pesquisadora da educação, compartilhou registros sobre sua trajetória. “Minha história é marcada pela valorização da ancestralidade, da linguagem e das infâncias periféricas", ressaltou.


A autora de “Um Vestido para Sankofa” e de diversos poemas, a macaense é reconhecida por escrever com foco na memória, identidade e resistência, além de criar narrativas onde a palavra ganha corpo, dança e insurgência. “Atuo na Educação Infantil, tenho orgulho de minha história e essa noite será inesquecível, pois Conceição Evaristo, professora Ivânia e muitas outras me inspiram. Hoje desenvolvo projetos pedagógicos que dialogam com arte, cultura afro-brasileira, letramento racial crítico e poéticas do cotidiano. Mas tenho sonhos quanto à criação de um espaço que valorize o resgate da memória do Boi Pintadinho, e também da Aroeira. Sou muito feliz, acredito que educar e escrever são formas de transformar o tempo — e que cada palavra pode ser um gesto de futuro”, salientou.


A programação também contou com o bom humor e leveza do escritor Elias Jorge Lago, o mestre Lago. Carioca, além de escritor é músico, poeta e dramaturgo. Apaixonado por Macaé e por samba, ele também escreveu peças premiadas e apresentações com foco ambiental. “Gosto de aprender. Nunca fui convidado para fazer parte de uma roda de conversa e estou nervoso e feliz. Já tive muito sucesso com a produção das peças ecológicas e sei que temos que continuar lutando, como negros. Todo preto é resistente, principalmente se for pioneiro. Tenho uma filha muito comprometida e talentosa, ativista das causas ligadas à negritude, e após o dia de hoje aqui, desejo também caminhar nesta causa de maneira mais intensa. Agradeço a todos”, disse.


Já nesta quarta-feira (19), a programação contou com “Macaé Conta Carukango – Angu Antropofágico”, uma leitura crítica do texto do espetáculo com intervenções musicais, além de show da banda Só Samba, comandada pelo cantor Merica, com as participações especiais das talentosas cantoras Ellen Chaffin e Jo Wilme.



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