Foto: Kaná Manhães
Grupo Capazes, Iguais e Idealistas, do Programa de Saúde Mental do município
A I Mostra Nacional do Teatro do Oprimido e II Arte Adoidado, que acontecem no Rio de Janeiro, entre os dias 11, 12, 13 e 14 deste mês, no Teatro Nelson Rodrigues (Centro), terá um representante de Macaé. É o Grupo Capazes, Iguais e Idealistas, do Centro de Atenção Psicossocial (Caps Betinho) que se apresentará no encontro com a peça “Maluco Não!”.
O encontro nacional terá representantes dos estados de Sergipe e São Paulo, também convidados para se apresentarem; mas são esperados grupos de todo o país, da França e do Canadá. A participação especial será do Grupo Pirei na Cena, do Hospital Psiquiátrico de Jurujuba, há 12 anos atuando.
A organização do evento é do Centro de Teatro do Oprimido (CTO-Rio), com patrocínio do Ministério da Saúde e, no caso do Grupo Capazes, Iguais e Idealistas de Macaé, apoio da Prefeitura de Macaé, através da Secretária Municipal de Saúde.
O Grupo de Macaé, que tem sede e é composto por usuários e profissionais do Centro de Atenção Psicossocial Betinho (Caps), para a apresentação, tem ensaiado a peça “Maluco Não!”. Tema encenado a partir dos conflitos e problemas diários que vivenciam estas pessoas, o cenário, as músicas e figurinos foram realizados pelos próprios participantes.
“Eu não quero ser chamado de maluco”, enfatiza com veemência o Grupo Capazes, Iguais e Idealistas que vai se apresentar logo no primeiro dia da Mostra (11). O grupo tem ensaiado e diz esperar com alegria a apresentação em um teatro de 388 lugares e com a estimativa de um público maior ainda do que as cadeiras disponíveis.
- A nossa peça “Maluco Não!” é encenada desde o início do grupo, em 2007. Mas tudo muda com nosso aprimoramento. Cenário, músicas, arranjos. No mês passado, participamos no CTO-Rio de uma oficina intitulada Diálogo Musical, relata o musicoterapeuta Nelson Falcão Cruz, coordenador do grupo.
Ele avalia que este contato com outros grupos, oficinas e encontros são fundamentais a trocas de experiências, o que contribui para a melhora no desempenho nas apresentações. “Estamos tão felizes e esperando com animação o dia da apresentação. É uma grande vitória pra gente ser chamados para se apresentar em uma mostra nacional”. Agora, quem fala é Queysa de Andrade, e completa:
- Tudo melhorou comigo por causa do teatro. Falo em público, não sou mais tímida e uma coisa muito especial, nunca mais fui internada; nunca mais dormi no pronto-socorro, como era de costume.
Outra questão relatada pelos usuários dos Caps de Macaé que participam do grupo teatral é com relação à diminuição do número de medicamentos da lista extensa que usavam anteriormente ao começo do tratamento.
- Cheguei aqui muito pra baixo. Hoje, tomo meu remédio direito, estou controlado, como falamos aqui. Só tomo remédio com a indicação do médico, relata o presidente da Associação de Parentes, Amigos e Usuários da Saúde Mental de Macaé (Aspas), o usuário do Caps, Edilson da Costa.
Outro usuário da saúde mental do município, Carlos Martins, primeiro tesoureiro da Aspas, reitera a fala de Edilson, acrescentando a importância do laço de amizade entre profissionais e usuários dos tratamentos dos Caps do município: “Quando um de nós falta no dia do tratamento logo procuramos saber por telefone ou vamos na casa dele. Somos todos muito amigos.”
O Grupo Capazes, Iguais e Idealistas é composto pelos usuários da rede de saúde mental do município e profissionais. São eles: Carlos Henrique Martins, Edilson Rodrigues da Costa, Queysa Christiann Silva de Andrade, Ruberval Guedes, Jair Peçanha,Valéria Cristina Gondim, Vera Lúcia Soares, Leandro da Silva Correia, Kátia Ferreira Rocha, Wlater Duarte, Jaqueline dos Santos, Sônia Maciel, Verônia Ramos (terapeuta ocupacional) e Nelson Falcão (musicoterapeuta).
Público troca de lugar com os protagonistas
O Teatro do Oprimido é assim: as pessoas que acompanham as esquetes teatrais têm oportunidade de subir ao palco e mudar o final da história. Nas peças de Teatro-Fórum ou Teatro Legislativo (técnicas do Teatro do Oprimido), após cada apresentação, os espectadores são convidados a trocar de lugar com o protagonista para sugerir alternativas ao problema encenado. O espectador da sessão de Teatro-Fórum ou do Teatro Legislativo não é um consumidor do bem cultural, mas sim um ativo interlocutor que é convidado a assumir o papel do oprimido ou de seus aliados para interagir na ação dramática, de maneira a apresentar alternativas para transformar a realidade – ser ator de sua própria vida. O detalhe do Teatro Legislativo é que, além da intervenção na peça, ao final, ocorre uma votação de um projeto de lei relacionado ao tema debatido, e as pessoas assinam um abaixo assinado que é encaminhado ao poder legislativo.
O Teatro do Oprimido de Augusto Boal
“Ser cidadão não é viver em sociedade, é transformá-la”; com esta frase emblemática do teatrólogo brasileiro Augusto Boal, idealizador do Teatro do Oprimido, o método segue atraindo cada vez mais adeptos com um método que reúne exercícios, jogos e técnicas, cujos principais objetivos são a democratização dos meios de produção teatrais, o acesso das camadas sociais menos favorecidas e a transformação da realidade através do diálogo e do teatro. Ao mesmo tempo, traz toda uma nova técnica para a preparação do ator, com grande repercussão mundial. A origem do TO remete ao Brasil das décadas de 60 e 70, mas o termo é citado textualmente pela primeira vez na obra Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. Este livro reúne uma série de artigos publicados por Boal, entre 1962 e 1973, e pela primeira vez sistematiza o corpo de idéias do teatrólogo. O Teatro do Oprimido é uma prática de arte politizadora que abre espaço para a manifestação expressiva dos participantes, pois tendo como uma de suas prioridades a não priorização em formar atores profissionais, mas, sim, protagonistas sociais, cidadãos conscientes de direitos e deveres, da sua dignidade e com auto-estima elevada e fortalecida.