Foto: Kaná Manhães
Campanha de educação no trânsito nas ruas de Macaé
É quarta-feira (21/09). Vivemos a Semana Nacional de Trânsito. São 17h, horário de pico no trânsito da cidade de Macaé, maior produtora de petróleo (83%) do Brasil. O asfalto do cruzamento das ruas Visconde de Quissamã e Tenente-Coronel Amado é o palco de uma peça que chama a atenção para a preservação da vida.
O sinal da Visconde de Quissamã fecha. Os atores do Teatro Novo – todos (11) deficientes intelectuais - tomam seus lugares diante da plateia - motoristas de ônibus, carros e motos - que assiste, entre surpresa e maravilhada, a cenas que eles próprios, condutores de veículos, protagonizam no cotidiano. É o "guarda de trânsito" que adverte o motorista bêbado - Tô nem aí"- que, após colisão com um carrão, todo quebrado, começa ali, numa cadeira de rodas, sua vida de paraplégico. Ao fundo, leem-se as faixas"Se beber, não dirija"e "Bebida e direção não combinam".
Em outra esquete, o "guarda" flagra um motorista ao celular; advertido, não se importa, e causa um acidente. O inusitado acontece de fato: uma das atrizes, consciente de seu papel social, mostra a uma motorista o cartaz: "Não fale ao celular", e a senhora desliga o aparelho. Noutra cena, um homem pilota uma moto com uma mulher na garupa; os dois, sem capacete. O "guarda" intervém. O piloto para, a garota ajeita o capacete na cabeça dele, e coloca o seu, que ele também ajeita
Na vida real, Fernanda Honorato (29) e Leonardo Blanc (35) se amam, e Fernanda, primeira jornalista com Síndrome de Down, ressalta que quando as pessoas se amam, preservam suas vidas, mutuamente. Eles estão noivos há cinco anos; nos intervalos da apresentação, trocam carícias. Casal lembra família, e outros cartazes são levantados: "Lugar de criança é no banco de trás" e "Criança pequena é na cadeirinha".
A plateia aplaude com buzinaço. Mário Alves, de Quissamã, diz que "nunca imaginou que portadores de Síndrome de Down fossem capazes de realizar tal performance", observação feita pela maioria dos entrevistados. Vitor Gomide, de Macaé, elogiou a iniciativa da Prefeitura, os atores e o trabalho das secretarias de Comunicação e Moilidade Urbana. Sonia Maria Cunha. macaense, elogia a iniciativa da Prefeitura, a participação dos atores, e acentua que nunca viu nada igual; ‘assim, o motorista se conscientiza do que é certo e errado no trânsito"; garantiu..
Moradores e comerciantes das proximidades do cruzamento dessas ruas também aplaudiram a iniciativa da Prefeitura e a performance do Teatro Novo. Para Ila Moreira e a sobrinha Paula Gomide, "o trabalho é surpreendente feito de forma inteligente, o que chama a atenção de todos”. O comerciante Sérgio de Miranda, com loja na esquina, tmbém aplaude a iniciativa e o “trabalho convincente dos atores. “Já vi todo tipo de acidente nesta esquina. Este trabalho traz grande contribuição para diminuir o índice aqui e em toda a cidade”, concluiu.
O diretor do Teatro Novo, psicólogo e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Rubens Emerick Gripp, fala da criação e experiências do Grupo.
- Há 30 anos, iniciei um trabalho diferente na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) em Niterói-RJ. Eram 44 alunos, que não saíam, viviam alienados. Todos os dias, passeava com dois deles pela cidade, Ao regressarmos, contavam aos outros tudo o que viram; fazíamos um psicodrama.
Quatro anos depois, criamos o Teatro Novo. Já apresentamos o trabalho em 15 capitais do Brasil nos Estados Unidos e Colômbia. Também nos apresentamos em empresas, escolas e instituições com fins específicos. como segurança no trânsito, o que estamos realizando em Macaé, segurança no trabalho, saúde, mwio ambiente, cudadania Da APAE/Niterói, passamos pelo Teatro da Universidade Federal Fluminense (UFF), Teatro Niemeyer, também em Niterói-RJ, Teatro Cacilda Becker na cidade do Rio de Janeiro. São 60 atores ao todo.
O professor Rubens conta que a Prefeitura de Niterói recebeu um prêmio por uma peça elaborada em parceria com a Secretaria Municipal de Transportes, dirigida aos universitários, devido ao alto índice de acidentes, nos quais eram vítimas fatais. Em parceria com a Uerj, o grupo fez a peça “,Novo Modelo de Enfermagem”. Para o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), o Grupo encenou “Super R”, uma analogia ao Super Homem.
O criador do Teatro Novo ressalta que as peças não têm textos escritos; tudo é na base do improviso, mesmo porque uma das atrizes é analfabeta. As histórias têm um tema, que é explicado aos atores, e eles elaboram suas falas dentro do assunto. “Todos têm limitações; alguns quanto à fluência verbal, outros com relação à parte motora. A elaboração de falas e gestos, por eles mesmos, contribui para o desenvolvimento de cada um’, concluiu Rubens.
O secretário Municipal de Mobilidade Urbana, Jorjão Tavares, falou da importância desta ação, implementada pela Prefeitura de Macaé. “A participação do Grupo Teatro Novo, além de outras ações desenvolvidas por esta secretaria, movimenta a Semana Nacional do Trânsito, ocasião oportuna para chamar a atenção dos condutores de veículos para a preservação da vida, em obediência à legislação de trânsito vigente no Brasil”, observou
Quem quiser se comunicar com o Instituto Teatro Novo, entre no site www.teatronovo.org