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UFRJ: espécie nativa de rato é modelo para pesquisa sobre rins

17/12/2012 12:14:00 - Jornalista: Andréa Lisboa

Foto: Divulgação

Professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que atuam na Cidade Universitária de Macaé e no Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Sócio-Ambiental (Nupem), coordenam pesquisa inédita no campo da fisiologia. O estudo investiga o funcionamento dos rins, tendo como modelo o ratinho goitacá, uma espécie exclusiva do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba.

A pesquisa sobre o funcionamento renal do Cerradomys goytaca (ratinho goitacá) é objeto do edital recentemente aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), que está sendo bastante concorrido. O pequeno roedor, único mamífero que pode viver na restinga, foi descoberto há pouco mais de um ano por pesquisadores da UFRJ com dedicação exclusiva a Macaé.

Três professores da Universidade, além de uma aluna de iniciação científica e outra candidata a mestrado, já estão envolvidos diretamente com esse estudo. O doutor em Fisiologia pela UFRJ e especialista em sistema renal, Jackson de Souza Menezes, é o responsável pelo edital.

- Podemos descobrir novos mecanismos relacionados a doenças humanas, que, por exemplo, estão associados à capacidade de concentrar urina, como a diabetes insipidus. O indivíduo com essa doença pode produzir até 20 litros de urina por dia. A partir dessas pesquisas, terapias e substâncias farmacológicas podem ser desenvolvidas. A história da ciência nos mostra que só se consegue conhecer coisas novas, quando se tem modelos experimentais novos, como o Cerradomys goytaca. Nós estamos investigando o que há de especial nos rins desses animais para que eles produzam tão pouca urina - diz.

As pesquisas desenvolvidas no Nupem entram em uma nova fase. Depois de cerca de um ano de estudo do comportamento do animal em ambiente controlado, ele já está adaptado e se reproduzindo em cativeiro. Esse era um dos objetivos, com o propósito de que não haja retirada de animais da natureza para estudos. Mantê-los em cativeiro é também uma alternativa para se ter um reservatório biológico da espécie, colaborando para sua conservação.

- A grande mola mestra do Nupem é a integração de áreas. Só tive a oportunidade de trabalhar com esse roedor nativo, graças à integração com a equipe de zoologia. No Nupem, a abordagem é multidisciplinar, possibilitando uma abrangência muito maior de informação. Começamos a formar alunos com um perfil diferente do formato disciplinar com que fomos formados. Trabalhamos na fronteira do conhecimento - explica Jackson.

As pesquisas de zoologia são coordenadas pelo doutor na área e especialista em mamíferos silvestres, Pablo Rodrigues Gonçalves. Sua equipe batizou o ratinho em homenagem aos índios goytacases, que viviam no mesmo território. Após a descoberta do roedor, em junho do ano passado, o professor publicou seu estudo na revista da Sociedade Norteamericana de Estudos de Mamíferos, referência internacional na área: “O Parque da Restinga de Jurubatiba precisa de um símbolo para a sua conservação, que pode ser esse bichinho carismático que é uma espécie exclusiva dessa área”, ressalta.

No campo da zoologia, várias pesquisas estão sendo feitas em torno do ratinho goitacá, com a de contagem desses indivíduos na restinga. Mas também a Botânica se interessa por ele. Um dos seus alimentos preferidos é o muriri ou juruba, planta que deu origem ao nome do parque. Ele come os coquinhos do pendão da juruba, aproveitando até a dura semente e bebendo sua água. Parte das sementes ele enterra e várias são esquecidas. Elas germinam e dão origem a uma nova planta.

Pablo explica que o papel ecológico do ratinho goitacá é fundamental. Não apenas porque eles plantam juruba, mas também por serem alimentos de predadores como corujas entre outras espécies.

Ratinho goitacá – Esse morador da restinga de Jurubatiba tem cerca de 10 centímetros de corpo e a calda mais longa que ele. Sua pelagem é dourada, camuflando-o facilmente na vegetação. Seu dorso é branco e extremidades rosadas. Sai de sua toca com mais frequência à noite e fica imóvel, quase imperceptível, quando se sente ameaçado. Sobrevive em condições climáticas muito adversas. Na restinga, a temperatura da areia pode chegar a 70º e, à noite, cair para cerca de 12º. Também é pouca a oferta de água. Durante o dia, ele fica nas moitas da restinga e, à noite, sai em busca de alimento. A sua impressionante capacidade de preservar água, inclusive em comparação com outros roedores, chamou a atenção dos pesquisadores. Atualmente, ele representa esperança para doentes renais e para a preservação da restinga.


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