Zuenir destaca humildade como maior virtude do jornalista

31/03/2006 10:01:43 - Jornalista: Catarina Brust

O público macaense comprovou nesta quarta-feira (29) que gosta de cultura e valoriza um bom programa “cabeça”. O jornalista, professor e escritor Zuenir Ventura lotou o Teatro Municipal, da Fundação Macaé de Cultural (FMC), com a apresentação de sua palestra. O encontro com o público e grandes autores da literatura brasileira faz parte do Programa Tim Grandes Escritores, que tem apoio da prefeitura de Macaé, através da FMC.

À tarde Zuenir participou de entrevista coletiva na Biblioteca Pública Municipal Dr. Télio Barreto, da Fundação Macaé de Cultura (FMC). Durante a conversa com os jornalistas, o escritor falou sobre política, literatura, comportamento e, é claro, jornalismo.

-O jornalismo é uma profissão traiçoeira. Você detém o poder da informação e isso estimula a soberba. Ele não deve deixar que esse poder suba à cabeça. A humildade é essencial, é a maior virtude que o jornalista deve ter. Você está sempre aprendendo coisas novas, destacou Zuenir.

Em relação ao mercado de trabalho, o jornalista ressaltou que é complicado, restrito e contido. Onde havia vaga para três, hoje existe um trabalhando. “Os jornalistas acabam fazendo três matérias por dia numa redação de jornal. Isso compromete a qualidade do trabalho. Os jornais estão mal escritos com muitos erros. A qualidade fica mais difícil”, argumentou, acrescentando que empresas e escolas de jornalismo poderiam fazer convênio para melhorar a qualidade de formação dos profissionais.

Em contrapartida, Zuenir destacou que existem também muitas matérias boas sendo produzidas no Brasil. “Faço parte do júri do Prêmio Embratel de jornalismo. A quantidade de matérias de boa qualidade é surpreendente, tanto para jornal, quanto tevê e rádio. Até as tevês têm feito matérias em série excelentes”, explicou.

A arte de escrever é segundo o escritor, um sofrimento para ele. “Não gosto de escrever, gosto de ter escrito. Tenho uma insegurança tremenda”, destacou Zuenir, autor de livros como “1968 – o ano que não terminou”, cujas 39 edições já venderam mais de 200 mil exemplares. O livro também serviu de inspiração para a minissérie “Anos rebeldes”, produzida pela TV Globo.

Durante a coletiva, a presidente da Fundação Macaé de Cultura, Ivana Mussi, informou que Macaé terá uma Feira do Livro, e destacou também a importância da Biblioteca Pública que está comemorando 65 anos em 2006. “A prefeitura de Macaé, através da Fundação de Cultura, incentiva vários projetos de leitura, como o Café com Poesia e o Café das Artes”, disse Ivana.

Palestra – Durante sua conversa com o público à noite no Teatro, Zuenir prendeu a atenção da platéia. Em pé, sentados na escada ou nas cadeiras, a platéia riu, se emocionou e se rendeu aos encantos deste escritor que tem no acaso o melhor argumento para os acontecimentos de sua vida.

Casado com Mary Ventura há 43 anos, e que o acompanhou na apresentação, Zuenir contou sua vida, desde o nascimento em Minas Gerais, sua vinda para Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, e seu início na profissão de jornalista.

- Eu fazia o arquivo de fotos e matérias na ‘Tribuna da Imprensa’. Um dia Carlos Lacerda, proprietário do jornal na época, pediu um artigo sobre Albert Camus (autor de A Peste). Ninguém na redação conhecia, mas eu já tinha lido vários livros dele e escrevi um artigo. Saiu num local de destaque do jornal. E, a partir daí a lenda correu: todo mundo na redação queria ver o contínuo do arquivo que era um gênio, disse Zuenir. Um acaso na vida do autor, que acabou transformando-o num dos maiores jornalistas do país.