‘Mercado é determinante no pós-modernismo’, afirma Zuenir Ventura

31/03/2006 16:54:59 - Jornalista: Janira Braga

Um dos maiores escritores contemporâneos, o também jornalista Zuenir Ventura,
afirmou nesta semana, em Macaé, que o mercado é determinante no pós-modernismo. Em uma conversa antes da palestra, Zuenir analisou que a medida de todas as coisas, na época contemporânea, é o mercado. “Isso é bom e ruim, porque quando o mercado passa a ser a medida, se a arte vende, é muito boa, e se não vende, é ruim. Mas nem tudo que não vende é ruim e nem tudo que vende é bom”, disse o escritor e jornalista.

A afirmação de Zuenir foi feita após questionamento sobre a agressiva vendagem de livros no mercado editorial brasileiro da chamada literatura superficial, que apresenta soluções prontas para problemas generalizados. “Como arrumar namorado em dois dias”, “Emagreça sem fazer esforço” e “Você é a melhor pessoa do mundo”são títulos ficcionais que seriam best-sellers, se trabalhados dentro da ótica contemporânea de oferecer ao leitor (?!) a grande saída para o problema de sua vida.

Um exemplo real do que acontece na pós-modernidade são os livros que se dizem de auto-ajuda, também maquiados de esotéricos, como do guru e dublê de escritor Paulo Coelho (?!), nos quais a boa literatura passa longe. Livros no estilo confessional, como da francesinha rica que mantinha relações sexuais com cinco homens ao mesmo tempo, depois com mulheres, depois com casais, cuja tradução vendeu no Brasil como hoje vende o livro (?!) de uma tal Bruna Surfistinha (?!) é outro exemplo.

Zuenir, que é escritor da alta literatura e já foi aluno de Manuel Bandeira, analisou o setor na pós-modernidade como fragmentado. “A pós-modernidade não tem um movimento, mas muitos movimentos, ao contrário do modernismo, que tinha movimentos isolados e ‘escolas’diversas. Hoje, o quadro é formado pela superposição das coisas”, diz.

FRAGMENTADO - Para o autor de “1968, o ano que não terminou”, é difícil sintetizar o pós-modernismo. “Ele resiste à própria síntese, com a variedade de tendência que reflete o mundo de hoje, o mundo em explosão, o mundo em fragmentação”, ressalta.

A vantagem apontada por Zuenir do pós-modernismo é a mesma de intelectuais como Stuart Hall – que estudou a identidade cultural na pós-modernidade dentro da Escola de Birmigham - e Theodor Adorno – que muito discursou sobre a sociedade do consumo na pós-modernidade. Trata-se da idéia de que “a pós-modernidade não vai te engolir”.

- Não existe aprisionamento na pós-modernidade. Existem sim tendências da arte contemporânea que se convergem, nada é excludente, ela é includente, tudo pode ser possível. O problema é que quando se pode tudo, não se pode nada. Uma das características da pós-modernidade é a possibilidade de várias leituras, não tem uma leitura exclusiva, especializada, todas leituras são possíveis – pontua o autor. Isso explica o porquê do mercado abrir espaço até para a Karina Bacchi (?!) lançar um livro (?!).

Mas como a forma líquida, a rapidez, a falta de parâmetro e a cultura de massa são características que fazem da época contemporânea aceitar qualquer manifestação que se diz de arte, existe também a vantagem da interatividade, abordada por Zuenir. “A arte nunca esteve tão interativa. O observador, seja ouvinte, leitor ou telespectador, é também criador, está interagindo e participa do processo criativo”, pondera, com a experiência de ser o idealizador de um dos melhores suplementos de literatura do país, o “Idéias”, do Jornal do Brasil e com um belo sorriso nos lábios, certo de que a alta literatura há de vencer os babas e pseudo-escritores que insistem em proliferar no meio de tanta gente boa que forma a literatura brasileira.