‘O Beijo no Asfalto’ é encenado no Teatro Municipal nesta sexta e sábado

02/08/2006 17:13:56 - Jornalista: Janira Braga

Um dos textos mais polêmicos do primeiro dramaturgo brasileiro que levava o inconsciente dos personagens para o palco, o revolucionário Nelson Rodrigues, será encenado no Teatro Municipal de Macaé nesta sexta e sábado (4 e 5), às 20h30min. Trata-se de “O Beijo no Asfalto”, que conta a história de um desconhecido que é morto ao ser atropelado por um ônibus e, agonizante, pede a um bancário que lhe de um beijo na boca. A realização é da Fundação Macaé de Cultura (FMC), da prefeitura.

O beijo dado pelo homem àquele que estava à beira da morte é transformado em escândalo pela imprensa sensacionalista e Arandir, que beijou o agonizante, passa a ser alvo de preconceito e também a ser investigado pela polícia, que começa a supor que o acidente tenha sido um assassinato.

Com duração de 80 minutos, a peça, que já virou filme dirigido por Bruno Barreto, será encenada por Leopoldo Pacheco (ator que interpretou o Cemil na novela Belíssima e o Leôncio, na novela Escrava Isaura), Fernanda Machado, Emílio Orciollo Netto, Flávio Pardal, Nathalia Lima Verde, da Companhia Prática de Teatro, do Rio de Janeiro. A direção é de Michael Bercovitch.

Homossexualismo, dúvidas, fragilidade humana, casamento e manipulação da mídia são assuntos discutidos na peça, tudo mesclado a diálogos em que o fluxo de consciência pontua as incertezas e os questionamentos do ser humano.

Os atores vão mostrar que o beijo dado por Arandir no homem que estava próximo de morrer, o leva a duvidar de si mesmo. A partir daí, uma série de questionamentos sobre a sexualidade de Arandir entra em pauta, seja por parte do sogro, da opinião popular, e da própria esposa.

Em “O Beijo no Asfalto”, Nelson Rodrigues faz uma análise sobre a morte, partindo do princípio de que jamais de deve negar o último pedido de uma pessoa que está à beira de morrer. O dramaturgo mostra nesta peça que o ser humano deve buscar entender o que ele é, o que ele representa e como ele pode se salvar, a partir do momento em que ele se aceita.

É comum em textos de Nelson Rodrigues - que chegou a ser chamado de “tarado” por abordar assuntos como pedofilia, incesto e prazer carnal - o personagem se encontrar entre a razão e a loucura. O teatrólogo passeia com facilidade sobre os desejos mais obscuros do homem - e da mulher - dentro de uma visão pós-moderna, pouco falada – mas talvez muito praticada – nos idos dos anos 60.

Famoso por frases como “Toda mulher gosta de apanhar” e “Toda unanimidade é burra”, Nelson Rodrigues foi um renovador do teatro brasileiro. Ao escrever a peça “A mulher sem pecado”, em 1941, o dramaturgo inaugura uma nova linguagem de teatro, que aproxima público e o eu-lírico do texto, caindo no imaginário popular, além de apresentar uma estética original para o teatro, com abordagem crítica sobre o modelo tradicional de relação, que freqüentemente está estremecido e colocado em extremos em sua literatura.

Serviço:

“O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues
Peça teatral
Local: Teatro Municipal de Macaé
Data: 4 e 5 de agosto
Horário: 20h30min
Ingresso: R$ 30
Classificação: 14 anos